terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
A vitória de Gaspar
Duas interessantes entrevistas no Público de ontem: Teresa de Sousa entrevistou um economista euro-liberal chamado Vítor Gaspar e Pedro Crisóstomo entrevistou um economista euro-keynesiano chamado Engelbert Stockhammer. Ao contrário da interpretação dominante e equivocada da sua carta de demissão, que o Jorge Bateira logo corrigiu aqui, Gaspar não esquece nada e não se arrepende de nada: trata-se não do quarto, mas sim do primeiro elemento da troika, dada a sua integral concordância com o diagnóstico e a prescrição austeritárias, responsabilizando o país e desresponsabilizando a arquitectura do euro pelos problemas, ou não fosse Gaspar um dos mais puros e melhores produtos do neoliberalismo inscrito no ADN das instituições europeias pelo menos desde Maastricht, em cujas negociações de resto esteve e que nunca nos serviram. O diagnóstico de Stockhammer é muito mais acertado, claro. O problema é que o projecto de Gaspar vence politicamente o de Stockhammer, já que a Zona Euro está feita para impedir políticas económicas keynesianas, que dependem, entre outras coisas, de uma estreita articulação entre Tesouro e Banco Central. Stockhammer tem a obrigação de saber que a vontade política que invoca com escala europeia requer unanimidades impossíveis para alterar as regras do jogo.
Bom, para um estudioso de Hayek é fascinante ver Gaspar referir na entrevista um artigo de 1939 deste notável economista neoliberal sobre as condições económicas para o federalismo interestatal de matriz neoliberal, aplicando-o à actual UE, na linha de um diagnóstico da história da economia política da integração, reconhecendo, através da metáfora da políticas ditas automáticas à escala supranacional, que este arranjo constrange a escolha democrática, sendo isso o ideal para as suas distopias neoliberais. A UE, em geral, e a Zona Euro, em particular, aproximam-se do projecto hayekiano, na medida em que garantem o domínio de uma lógica supranacional de construção de mercados e de gestão monetária ortodoxa absolutamente blindadas, limitando a capacidade dos Estados democráticos, até porque a diferenciação económica, social, política ou cultural entre as unidades estatais obstaculiza acordos supranacionais no campo dos valores de pendor redistributivo e socializante. Estes são mais fáceis onde existe uma noção de comunidade de destino. Neste contexto estrutural, Gaspar vence sempre. Só o espectro da fusão do ideal de autodeterminação dos povos com a questão social, configurado na reestruturação da dívida, na libertação desta tutela monetária ou no controlo de capitais, pode derrotá-lo.
Mais um grande artigo. Aos poucos o povo vai percebendo este espartilho em que nos querem meter.
ResponderEliminarBem, Gaspar não foi o primeiro membro da tróica, e nem sequer o quarto.
ResponderEliminarFoi um mordomo untuoso. Se vendesse só a mãe que o pariu estávamos nós bem, mas o canalha vendeu-nos a todos por uma gamela de lavagem para refocilar.
Estas teorias económicas são sistemáticamente referidas pelos seus grandes títulos e na permanebte ignorância que sempre nelas se configura alguma medida, algum grau a partir do qual os resultados são, se não invertidos, completamente desfigurados.
ResponderEliminarMas nada como referi-las sem cuidar de qualquer limitação ao seu desempenho para assim melhor servir uma irresponsável avaliação servindo ideologias políticas.
O eterno retorno. Depois do nojo, as ratazanas estão de volta.
ResponderEliminarLamento mas economicamente falando, Vitor Gaspar é um neo/ ultra/mega liberal ( por outras palavras, é um reácionário do pior que há, que é o que são todos os indivíduos que partilham as suas miseráveis visões/ideias da economia e, consequentemente, da politica.
ResponderEliminarÉ que a economia e sobretudo a macroeconomia, mais não é do que politica. E quem pensa o contrário está a enganar-se.
Por isso, não entendo como é que se dá tanta importância com grandes parangonas nos jornais ao lançamento de um livro sobre o tal Vitor Gaspar que não passa dum criado, servente, sopeira, dum bando ( o que é que se pode chamar a quem manda fazer e faz o que está a ser feito em Portugal e na Grécia por ex.?) que governa a UE, o BCE e o FMI.
Tanta preocupação com os direitos humanos na Ucrânia, no Egipto, na Tunisia, em África e por esse mundo fora mas em casa (na UE)pela mão do bando espezinham-se os tais direitos humanos.
Está em curso uma luta de classes a nível mundial e se os trabalhadores não reagirem - a bem ou a mal - dentro de 10/20/30 anos andarão literalmente com a canga ao pescoço.
Vitor Gaspar ( o representante da Troika no governo) assim como o seu querido "reformador" um tal Passos Coelho, constarão da história de Portugal como membros do pior governo de todos os tempos no nosso país.
José/JgMenos fala em teorias económicas afirmando de forma presunçosa ( mais do que isso ,mas adiante) que é ignorante quem não vê a justa medida do caminho luminoso seguido pela tralha neoliberal.
ResponderEliminarDepois parte para o b-a-bá da demagogia quase que salazarenta à boa maneira dos idos anos 40 do século passado e fala nas "ideologias políticas"
As ideologias referidas pelo José daquela forma manca e coxa, sem sequer a coragem de ser frontal, referem-se às neoliberais, de direita e pesporrentas, que contrariam os próprios princípios demnocráticos inscritos na matriz das nações?
Há sempre alguém que serve os gaspares de ocasião por enquanto vencedores até ao momento em que, quer estes falem em português vernáculo, quer falem a língua alemã.Talvez por isso fiquem particularmente irritados quando ouvem falar na autodeterminação dos povos ainda para mais se fundida com a questão social
Como alguém apropriadamente disse:"o eterno retorno. Depois do nojo, as ratazanas estão de volta".
De
José fala e nota-se que não percebe minimamente do que está a falar, nem sabe quem é Keynes, nem da importância de Keynes teve , e ainda hoje pelo que tenho lido é o Economista mais odiado pelos neo-liberais), e como tal atira bocas para o ar.
ResponderEliminar