sexta-feira, 5 de julho de 2013

Esqueçamos o crescimento

Na reunião com o Presidente da República, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, admitiu o que há muito é inegável: não atingimos as metas do programa de assistência porque os pressupostos macroeconómicos incorretos e os multiplicadores que espelham o impacto do corte orçamental no PIB foram subestimados. Claro que há uma questão mais profunda que é a própria desadequação das políticas, mas já sabemos que isso não será admitido nos próximos tempos.

No que diz respeito à dívida pública, afinal o PIB não (de)cresceu do modo que era previsto e portanto, o seu rácio em percentagem do produto aumentou muito mais do que a baseline da troika previa. Falhámos, claro. Não é surpreendente: as previsões de sustentabilidade da dívida basearam-se em previsões de crescimento do PIB impossível com esta política.

Como resolver este problema? Estimular o crescimento do PIB? Cortar na dívida? Não. Para Carlos Costa podemos começar por uma solução mais simples: passar a usar metas nominais de dívida e défice em vez de definir os objectivos em proporção do PIB. Isto é, literalmente, retirar o crescimento da equação.

No momento se começa finalmente a admitir o erro que foi ignorar a necessidade de estímulo ao crescimento económico. Quando se fala noutros países em reestruturações (e mesmo emissões de dívida) com pagamentos indexados ao crescimento do PIB para garantir uma ação contra-ciclica na economia e maior justiça para as populações, o governador do Banco de Portugal, propõe-nos que esqueçamos o PIB nas metas orçamentais, em vez de propor o crescimento do PIB como um objectivo em si dos programas.

Realmente esta coisa de o produto não parar de cair e de nos dar cabo dos rácios (tão bem) previstos, é mesmo um aborrecimento...

1 comentário:

  1. A questão de dívida tornou a esquerda refém do PIB. Passa-se horas a discutir os objectivos para o défice deste ano e da falta de consumo. Mas o consumo não era uma coisa má? Se não estivessemos em recessão sobre o que é que estaríamos a falar? A obsessão pelo PIB e crescimento não é nada saudável.

    É pena já não se discutir bem estar social, saúde, educação ou desigualdade. É pena os países do sul se terem tornado "Krisenländer" sem mais nenhum adjectivo. É pena que a esquerda tenha chegado aqui.

    ResponderEliminar