sexta-feira, 5 de julho de 2013

A política de Gaspar continua!


Enquanto a velha ordem morre e a nova não nasce ainda surge uma grande variedade de sintomas mórbidos.
Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere 

O mesmo título dos meus últimos dois posts, agora com um irritante ponto de exclamação. É claro que se depender de quem comanda, a partir de fora e de dentro, mas sobretudo com a força de fora, a economia política nacional, este governo dura para lá de tudo o que seria previsível, para lá de toda a surpresa. Portas já levou uma lição sobre a autonomia relativa do político: os interesses capitalistas dominantes, a sua base, para os quais a incerteza política é insuportável neste contexto, obrigam-no a recuar, “a ser humilde”, como o aconselhou ainda ontem o seu próspero camarada Nobre Guedes.

O efeito paradoxal destes poderes, que aspiram a não ter contra-poderes, é o de prolongar a morbidez por tempo indeterminado, provavelmente até o segundo resgate, com esse ou com outro nome, que será a continuação da mesma lógica, estar definido, até Seguro se ter comprometido com um documento, chame-se-lhe memorando ou não, que o torne apto a “governar”.

Entretanto, a responsabilidade pela morbidez de um governo dos credores está também nos representantes destes últimos; acham que está tudo a correr bem e para eles e para os seus até que está, por enquanto: graças a Schauble e a Draghi, Maria Luís Albuquerque tem a legitimação de que precisa para o programa de sempre, com os efeitos de sempre. Morbidez também pela força dos interesses do capital financeiro interno que está articulado com um exterior de que depende: “Banca delega nas mãos dos políticos resolução desta crise”. Pedro Lains tem toda a razão quando diz que este é um dos títulos mais reveladores da economia política inter-nacional dos últimos dois anos.

Morbidez, finalmente, devido ao comentário económico dominante na televisão, aquele que é feito por jornalistas que gostam de se roçar nos fatos dos banqueiros e que ganham o suficiente para aspirar a ter fatos quase tão bons.

O novo só pode nascer se a fórmula que está sendo cozinhada lá em cima for rejeitada na rua, cá em baixo, pelos de baixo. É simples de dizer, difícil de fazer. Estejamos atentos às cenas das próximas lutas...

3 comentários:

  1. Excelente post, João Rodrigues.

    Quando tomamos consciência de que governantes, legisladores, deputados, juízes do ministério público e comentadores mediáticos são todos pagos com o mesmo dinheiro sujo e obedecem às mesmas ordens – do monopólio bancário internacional - , compreendemos que só a população os pode derrubar – eliminando-os.

    Porquê eliminando-os? Porque todas as instituições que deveriam velar pela justiça e defender o povo estão nas mãos dos mesmos mafiosos.

    As «grandes manifestações pacíficas» já mostraram toda a sua inutilidade...

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  2. tem de ser rejeitado nas ruas! concordo inteiramente! Mas tem tb de ser rejeitado no campo das ideologias e da práxis política, quebrando esse círculo vicioso que nos governa há quase 40 anos: PS-PSD, PSD-PS, PS-PSD, etc.

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  3. Concordo plenamente, mas penso que o povo ainda não acordou o suficiente, e muitos ainda pactuam e esperam safar-se se obedecerem...as instituições totalmente minadas vivem da gente que obedece cegamente às maiores alarvidades possíveis desde que mantenha o seu lugarzinho. Outros nem sequer percebem mais nada do que as telenovelas, futebol ou espetáculos bimbeiros...

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