quarta-feira, 24 de julho de 2013

Do aumento das exportações (de gasóleo)


A quem tenha escapado, este notável trabalho de escrutínio estatístico de Sérgio Aníbal, no Público, sobre o recente aumento das exportações é obrigatório. Dois terços do aumento das exportações são imputáveis a uma nova unidade de refinação da Galp. De outra forma as exportações teriam crescido uns magros 1,5% (contra 4,5%). O aumento das exportações diz assim respeito a produtos refinados, como o gasóleo.

Porque é que isto é relevante? A primeira razão, assinalada no artigo, está na excitação das hostes governamentais com este aumento das exportações enquanto sinal do sucesso do programa de redução dos salários e aumento da competitividade da economia nacional. É óbvio que este investimento da Galp precedeu em alguns anos o programa de ajustamento e, por isso, dificilmente pode ser entendido como consequência das actuais políticas.

Dir-me-ão que, mesmo sem qualquer relação com o actual programa, o aumento das exportações é uma boa notícia no que respeita à recuperação económica. Aqui devemos ser também cautelosos.  O aumento das exportações permite, à partida, a diminuição do nosso défice externo. Contudo, se é certo que os refinados são bens resultantes de indústrias intensivas em capital, os seus efeitos de arrastamento sobre o resto da economia são diminutos. Primeiro, porque a produção de gasóleo depende sobretudo de um bem importado, o petróleo. Mais exportações significarão mais importações. Por outro lado, a capacidade deste investimento criar valor e emprego resume-se praticamente à Galp - 100 postos de trabalho directos mais 450 indirectos, segundo a própria Galp, numa actividade com margens diminutas. Finalmente, este acréscimo de produção não terá, no actual contexto, qualquer impacto nos preços praticados no mercado de gasóleo. Os ganhos parecem diminutos. 

Por último, este tipo de investimentos deve levantar a questão do modelo de desenvolvimento a seguir. Se o investimento não é todos igual no que toca a crescimento e emprego, também não o é no que diz respeito aos custos ambientais. Se produzimos o gasóleo que Espanha e os EUA consumem, não estaremos a assistir a uma transferência de poluição desses países para o nosso? Os custos parecem, por isso, assinaláveis. Em alternativa, não deveríamos trabalhar na reconversão enérgica que privilegie a eficiência e as fontes renováveis? Decidir quais as apostas estratégicas de uma economia é parte importante de qualquer democracia.

11 comentários:

  1. Sendo a GALP uma empresa com refinarias em Portugal,

    os responsáveis pela sua privatização,
    não tiveram uma acção dolosa dos interesses do Estado,

    ao não exigirem o abastecimento do país,

    a preços não relacionadas com a cotação internacional, dos produtos refinados???

    Quem paga os custos ambientais?

    A poupança nos custos da mão-de-obra (caseira), na produção de um produto com cotação internacional,

    vai toda para...o Amorim??!!

    Se não temos os refinados com preços caseiros...

    então imponham,

    impostos compensatórios!

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  2. A exportação de gasóleo é obtida com matéria- prima importada que é o petróleo bruto.Tem a desvantagem de quer a matéria-prima importada quer o produto acabado exportado não ser transportado em navios nacionais , pois não existem navio-tanques petroleiros na frota mercante portuguesa.

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  3. E qualquer dia o preço da emissão de CO2 - sim, porque as AC terão que ser levadas a sério - dispara!

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  4. Caros Ladrões de Biclas: exporta-se gasóleo porque se vende muito menos em Portugal, havendo superavit. Em 2012 caiu 11,9%, em 2011 cai à volta de 10%. Como para a instalação da fábrica se previa um aumento do consumo...

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  5. Para lá das questões referidas pelo Nuno Teles no post chamo a atenção para o facto de a Galp ter beneficiado de apoios do Estado na ordem dos 15% do investimento, isto é cerca de 150 milhões de euros. Na altura a empresa referia-se à criação de 150 postos de trabalho agora já são apenas cem. Na mesma altura o Estado entregou mais 96 milhões em beneficios fiscais no projecto la Seda que iria criar 150 postos de trabalho. Uma trapalhada completa envolvendo a Caixa Geral de Depósitos e muitos milhões de dinheiros públicos.
    Da questão ambiental na área de Sines é que o Estado não trata. Nem o Estado nem as empresas.

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  6. Segundo diz no artigo do Público, o aumento da exportação deve-se em parte a que a nova refinaria da GALP é mais eficiente, extrai mais combustíveis a partir da mesma quantidade de petróleo, pelo que, não há aumento das importações de petróleo, o que há é melhor aproveitamento do petróleo importado.

    Uma outra fonte da aumento da exportação é a redução do consumo interno, que permite exportar mais. Isto faz com que o aumento de exportações se repercuta, de facto, indiretamente, nas bolsas de grande parte dos cidadãos (ao contrário do afirmado no post). É a poupança dos portugueses (que andam menos de carro) que permite que mais carburante seja exportado. Portanto, a exportação de carburante está, de facto, a repercutir-se positivamente na bolsa de todos nós.

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  7. Caro Luis Lavoura,

    Basta ver os dados do INE relativos a importação de petróleo bruto e gás natural ao longo deste ano para confirmar o salto no valor das importações a partir de Março...

    Confesso não perceber muito bem como é que este aumento das exportações me tornou mais rico. Se fiquei mais pobre e por isso deixei de andar de carro, permitindo mais exportações, porque é que fiquei mais rico?

    Penso ser dificilmente discutível que a quebra do consumo interno tem as suas maiores causas nas quebras de rendimento devido à crise.

    Pode-se falar no efeito no défice externo (que referi no post), mas mesmo esse, dado o bem em causa, não parece ser muito relevante.


    nuno

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  8. "Confesso não perceber muito bem como é que este aumento das exportações me tornou mais rico. Se fiquei mais pobre e por isso deixei de andar de carro, permitindo mais exportações, porque é que fiquei mais rico?"

    Ah Ahaha!
    Muito bem apanhado.

    Este Lulu e so perolas... Riquissimos somos mas apeados.

    Na China este mesmissimo indigente e iletrado nos dira que o aumento de consumo de combustivel e venda de automoveis e prova de enriquecimento.

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  9. Também nao percebi como o facto de termos passado a andar menos de carro (movido a gasóleo), porque temos menos dinheiro nos bolsos e precisamos dele para outras coisas "menores" como alimentaçao, é um sinal que estamos a beneficiar deste aumento da exportaçao. Se calhar isso reflectiu-se numa quebra dos preços do combustível? Se calhar num alívio da "austeridade"? Ficam as questoes em aberto...

    De certa forma este comentário vem trazer alguma luz sobre quem beneficiará, a curto, médio e longo prazos, com a pretendida exploraçao de recursos petrolíferos ao largo de Portugal...

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  10. Luis Lavoura, ao ler o seu comentário, lembrei-me do Forrest Gump. É uma questão de perspectiva. Se os portugueses começarem a pensar que consumir menos gasóil (ou qualquer outra coisa) é não gastar e gastar é poupar, vão começar a sentir-se muito melhor ;)

    Pedro

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  11. Aplicando a lógica do Luis Lavoura, eu só este ano, sem contar os outros, já poupei ao não comprar um ferrari testarrosa.

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