O termo Armadilha de Liquidez aplica-se a uma economia em que a Política Monetária perdeu eficácia, porque os investidores preferem manter liquidez, seja porque esperam deflação ou inflação muito baixa, seja por considerarem que a procura agregada é insuficiente. Em português simples, os agentes preferem guardar o seu dinheiro a emprestá-lo ou investi-lo por considerarem a conjuntura desfavorável.
Em resultado disso, assistimos a níveis baixos de crédito a empresas não-financeiras e famílias, apesar de uma política monetária expansionista. Os bancos financiam-se mais barato mas exigem margens proibitivas no crédito. Este processo agrava a situação económica e torna-se, por isso, num ciclo vicioso. Daí que se chame uma "armadilha". Argumentam os economistas keynesianos que, neste contexto, a política monetária perde eficácia porque a liquidez disponibilizada será simplesmente armazenada pelos bancos. Assim sendo, a única solução está em activar a política orçamental, pondo o Estado a funcionar como motor de arranque para a economia, mobilizando a poupança privada.
Num cenário de manual (que é o dos Estados Unidos há já vários anos), a taxa praticada pelo Banco Central nestas situações está próxima do zero, ficando a política monetária "amarrada", porque não tem sentido um BC emprestar a taxas negativas. Já na Zona Euro, as sucessivas reduções das taxas de juro de referência (já vamos em 4 em menos de um ano), bem como as medidas não-convencionais de liquidez, não se reflectiram no desejado aumento dos níveis de crédito à economia real. É neste quadro que economistas como Paul Krugman definem a situação da Zona Euro e dos EUA como sendo uma situação de Armadilha de Liquidez.
Serve esta conversa toda para falar da decisão do BCE de reduzir duas das suas três taxas de referência: a taxa das operações de refinanciamento principais (em 0,25%), a da facilidade permanente de cedência de liquidez (em 0,5%), mas não a da facilidade permanente de depósito, que continua em 0,0% (voltarei a isto amanhã).
Se a Zona Euro estiver efectivamente numa situação de Armadilha de Liquidez, esta decisão só é relevante se estiver associada a Políticas Orçamentais fortemente expansionistas. Ora, isso é exactamente o contrário daquilo a que estamos a assistir. Não só o orçamento europeu se torna cada vez mais insignificante, como as políticas de austeridade estão a espalhar-se e a agravar-se por essa Europa fora como um Vírus. Alguém está à espera que os bancos portugueses comecem a emprestar às empresas e famílias, agora que foi divulgado o plano do Governo para despedir 20 mil trabalhadores (para começar) e cortar 6000 milhões na despesa pública? Por acaso, há quem esteja, e é por isso que a economia é uma disciplina em crise...
Neste contexto, dedico este post a todos os economistas neoclássicos, que consideram que um bom economista tem de fornecer aquilo que a economia neoclássica nunca fornece: previsões precisas e quantificadas. E forneço uma previsão, quantificada: o impacto de mais esta redução das taxas de referência do BCE na economia real, em contexto de políticas generalizadas de contenção orçamental será de... zero. Vírgula zero. Não é uma precisão brilhante, uma vez que é baseada em experiência muito recente. Mas não podem dizer que não é precisa.
Em resultado disso, assistimos a níveis baixos de crédito a empresas não-financeiras e famílias, apesar de uma política monetária expansionista. Os bancos financiam-se mais barato mas exigem margens proibitivas no crédito. Este processo agrava a situação económica e torna-se, por isso, num ciclo vicioso. Daí que se chame uma "armadilha". Argumentam os economistas keynesianos que, neste contexto, a política monetária perde eficácia porque a liquidez disponibilizada será simplesmente armazenada pelos bancos. Assim sendo, a única solução está em activar a política orçamental, pondo o Estado a funcionar como motor de arranque para a economia, mobilizando a poupança privada.
Num cenário de manual (que é o dos Estados Unidos há já vários anos), a taxa praticada pelo Banco Central nestas situações está próxima do zero, ficando a política monetária "amarrada", porque não tem sentido um BC emprestar a taxas negativas. Já na Zona Euro, as sucessivas reduções das taxas de juro de referência (já vamos em 4 em menos de um ano), bem como as medidas não-convencionais de liquidez, não se reflectiram no desejado aumento dos níveis de crédito à economia real. É neste quadro que economistas como Paul Krugman definem a situação da Zona Euro e dos EUA como sendo uma situação de Armadilha de Liquidez.
Serve esta conversa toda para falar da decisão do BCE de reduzir duas das suas três taxas de referência: a taxa das operações de refinanciamento principais (em 0,25%), a da facilidade permanente de cedência de liquidez (em 0,5%), mas não a da facilidade permanente de depósito, que continua em 0,0% (voltarei a isto amanhã).
Se a Zona Euro estiver efectivamente numa situação de Armadilha de Liquidez, esta decisão só é relevante se estiver associada a Políticas Orçamentais fortemente expansionistas. Ora, isso é exactamente o contrário daquilo a que estamos a assistir. Não só o orçamento europeu se torna cada vez mais insignificante, como as políticas de austeridade estão a espalhar-se e a agravar-se por essa Europa fora como um Vírus. Alguém está à espera que os bancos portugueses comecem a emprestar às empresas e famílias, agora que foi divulgado o plano do Governo para despedir 20 mil trabalhadores (para começar) e cortar 6000 milhões na despesa pública? Por acaso, há quem esteja, e é por isso que a economia é uma disciplina em crise...
Neste contexto, dedico este post a todos os economistas neoclássicos, que consideram que um bom economista tem de fornecer aquilo que a economia neoclássica nunca fornece: previsões precisas e quantificadas. E forneço uma previsão, quantificada: o impacto de mais esta redução das taxas de referência do BCE na economia real, em contexto de políticas generalizadas de contenção orçamental será de... zero. Vírgula zero. Não é uma precisão brilhante, uma vez que é baseada em experiência muito recente. Mas não podem dizer que não é precisa.
E amanhã já há menos uns 10 somalis a lerem isto, de resto a premissa da circulação do capital aforrado dentro das economias estagnadas da euro-américa do norte peca por não considerar os investimentos em países fora da união e da américa do norte, com remunerações do capital investido muito mais interessantes.
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