O meu texto para o Diário Económico de hoje, escrito ainda antes de se saber da rejeição do plano de resgate pelo parlamento cipriota (o essencial, no entanto, não é afectado por isso):
O sistema bancário cipriota, que constitui um off-shore de facto, tem uma dimensão
diversas vezes superior à da economia real, funcionando nomeadamente como lavandaria
de capital russo. Perante a sua iminente insolvência, designadamente devido ao impacto
da reestruturação da dívida grega, as autoridades europeias comprometeram-se a co-financiar
em €10 mil milhões de Euros um pacote de resgate. A condição, além da
austeridade, é que os depositantes (nomeadamente extra-comunitários) suportem
parte do esforço financeiro. E, segundo parece, as autoridades conservadoras
cipriotas terão sugerido ou insistido que os pequenos depositantes sejam também
penalizados, de modo a espalhar o mal pelas aldeias e não comprometer
definitivamente o futuro do país enquanto off
shore. Em suma e com muita simplificação, a velhinha reformada cipriota é
chamada a apoiar o resgate do oligarca, ainda que este último perca bastante
mais: 12,5% versus 3%, segundo as últimas notícias.
Pode isto repetir-se? Bem, se a pergunta se refere a resgates
bancários europeus pelos quais os depositantes enquanto tais paguem parte da
factura, a resposta é “para já e em geral, não”, pois as elites europeias já
mostraram ser tão flexíveis ou arbitrárias quanto seja do seu interesse – e penalizar
credores ou provocar corridas a bancos não é normalmente do seu interesse. Já se
a questão se refere à penalização das classes populares pelas perversidades
estruturais da zona Euro, a resposta é que foi a Grécia o precedente original e
vamos já numa mão-cheia de casos "agudos”. Mas há no caso cipriota um
precedente: pela primeira vez, os credores são chamados a assumir perdas logo
de entrada. O resultado da combinação das considerações geopolíticas de quem
manda na Europa com o interesse próprio das elites cipriotas é uma "solução" que agrava
a fuga de depósitos do Chipre e restante periferia e, por essa via, acelera o
desenlace final do Euro. Fascinantes e perigosos tempos, estes.
Independentemente de Chipre ser um Off-Shore, a medida inicialmente tomada , em desespero de causa, pelos Eurocratas poderá levar a uma fuga de capitais da banca dos países do Sul que já de si estão debilitados, podendo agravar ainda mais a situação nesses países.
ResponderEliminarPor outro lado a Alemanha poderá estar a cobiçar o gás natural de Chipre , que necessita dele para a sua industria.
O meu entendimento sobre esta questão, estritamente à luz do que está em vigor:
ResponderEliminar1- As garantias europeias sobre os depósitos até 100 000€, sejam eles detidos por quem quer que seja, não deviam jamais ser quebradas. Isto seria uma verdadeira pulhice, que acaba por descredibilizar ainda mais as instituições europeias, que não são mais que lacaios da Alemanha. Aliás, essa gente vive num limbo, decide sobre a vida dos outros, ignorando pura e simplesmente que AINDA existem Parlamentos nos estados-membros que têm voto na matéria.
2- Para além desse valor, o facto dos credores subirem perdas, logo de entrada, era afinal um risco conhecido…(Aliás, é por isso que há muita gente que recorre aos off-shores, dos “vizinhos”, ou até mais longínquos, tudo isso é permitido na União Europeia!)
Mas afinal, o que sobressai, é que esta forma de atropelo ou aqueles outros que vão acontecendo à margem das Constituições de alguns estados-membros, que os saques desta forma ou das outras que nós conhecemos, nos mostram que a EU não se pode regenerar, jamais, com a seita que a dirige.