Sandra Monteiro discute a missão histórica de Passos Coelho, cuja ambição está à altura do apoio externo de que dispõe e que explica grande parte da força interna do seu programa. Maria Clara Murteira volta eficazmente à carga como uma das dimensões dessa missão – o modelo de substituição da segurança social pela insegurança social, o que acontece mesmo depois de instituições como o Banco Mundial reconhecerem o fracasso da privatização da segurança social, enquanto as instituições europeias estão agora na vanguarda da desconstrução dos modelos sociais. João Cardoso Rosas e Isabel do Carmo, por sua vez, escrevem sobre “ética em tempos de crise”, a propósito das questões dos custos e sua repartição na área da saúde, indo para lá do utilitarismo, a ideologia espontânea da dominante mentalidade de mercado.
Destaque ainda para a tradução do artigo do historiador marxista Perry Anderson, um dos que melhor tem escrito sobre a crise europeia e sobre as insanáveis contradicções das justificações aparentemente progressistas, como as desenvolvidas por Habermas, para a integração europeia existente num mundo paralelo. Há de facto um certo idealismo europeu, que serve mais para ofuscar o euro-imperialismo, o desenvolvimento desigual ou a financeirização realmente existentes do que para outra coisa, cuja perenidade merece ser criticamente assinalada, como faz Anderson, usando o seu conhecimento histórico enciclopédico e com o vigor polémico de sempre. Boas leituras.
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