A cegueira ideológica que salta à vista no discurso da
Chanceler Angela Merkel é arrepiante. Mostra-nos que, à semelhança dos economistas
que a aconselham e infelizmente são a maioria na Alemanha, não tem consciência de que a política que está a impor à Zona Euro foi a mesma que criou as condições financeiras,
económicas e sociais para a subida ao poder do Nazismo. [Ver aqui o que se
passou no Reino Unido]. Nos dias de hoje, essas mesmas políticas – e essa teoria
económica errada que hoje se ensina nos mestrados e doutoramentos em Economia –
são responsáveis pelo desastre que está a atingir a Europa do Sul. O futuro da
União Europeia como um todo está em risco, a Alemanha é a principal responsável
por este caminho suicida e, uma vez mais, os social-democratas revelam a sua
tibieza. Abaixo transcrevo a minha tradução de alguns parágrafos do
livro indicado na figura (p. 177-8).
[Heinrich] Brüning tentou restaurar a autoridade do seu
governo minoritário com uma consulta ao povo. Foi um dos mais desastrosos erros
de cálculo da história da democracia. As eleições para o Reichstag de Setembro
de 1930 deram um forte impulso ao extremismo, à esquerda e à direita. Nessa
altura, o desemprego registado tinha ultrapassado três milhões. Quaisquer que
sejam as explicações dos economistas, os desempregados consideravam a sua
situação intolerável e tendiam cada vez mais a apoiar soluções fáceis mesmo que
à custa do regime parlamentar. (…) Em Berlim, a polarização eleitoral reflectia-se
nas lutas de rua entre milícias nazis e comunistas.
Brüning manteve-se como Chanceler, apoiado no Reichstag pelos
sociais-democratas, mas a sua autoridade tinha sido enfraquecida e a opinião
política e financeira externa estava cada vez mais alarmada. Em Dezembro de 1931
foram decididos cortes adicionais em todos os salários, ordenados, preços,
rendas, tarifas e juros. Mas o que era necessário nesse momento era um estímulo e
não a deflação. No entanto, Brüning e os seus conselheiros sentiam uma
esmagadora obrigação de restaurar a destruída credibilidade da Alemanha.
Evidentemente, ele também esperava usar a deflação como instrumento para
conseguir pôr termo às reparações de guerra. O “Chanceler da fome” deu pouca
atenção às consequências internas, sociais e políticas, da sua política do
"quanto pior melhor". (…)
Os historiadores têm discutido sobre se havia alguma
alternativa séria às políticas de Brüning. Ele próprio não tinha qualquer
dúvida de que não havia nenhuma. Em Janeiro de 1932 um grupo de socialistas,
Vladimir Woytinsky, Fritz Tarnow e Fritz Baade recomendaram um programa
expansionista de obras públicas. Mas as suas ideias tiveram a oposição do antigo
ministro das finanças, o social-democrata Rudolf Hilferding, e a proposta
abortou.
Em 33 Hitler chegou ao poder e iniciou a política expansionista que os social-democratas recusaram, com base na construção de um Estado militarizado.
ResponderEliminarQuem não lê (História) é como quem não vê...
ResponderEliminarPaulo Menezes
A acção do Brüning foi em parte cegueira, em parte um esquema para sacudir mais uma porção da dívida alemã: era necessário sofrimento para fornecer os argumentos políticos para isso.
ResponderEliminarParte dos governantes europeus já há muito adoptaram a mesma lógica: é necessário levar ao colapso algum país para que tenham a cobertura política (perante os seus eleitores) para mudar algo na UE. Disputa-se agora quais serão os infelizes sacrificados no altar da UE. Não há meio de a Grécia se afundar, mas é essa a solução que todos esperam...