quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sem relativismo

O que têm em comum Vítor Bento, Pedro Ferraz da Costa e, sim, é verdade, Vital Moreira em modo relativista selectivo? Segundo o Negócios, fazem parte da selecta minoria que apoia a redistribuição neoliberal mais descarada, usando a engenheria fiscal da TSU, do salário para certas fracções do capital. Tudo em nome de uma narrativa equivocada sobre o problema económico português como problema de custos laborais excessivos. Esqueçam o que dizem as empresas - é a procura, comprimida por sucessivas rondas de austeridade -, esqueçam o que diz a investigação sobre o impacto negativo das mexidas regressivas na TSU no emprego, mesmo que está até possa vir a pecar por defeito nas suas estimativas ao assumir que o futuro é uma continuação estatística do passado, como sublinha João Galamba. Num contexto depressivo, de interacção preversa entre deflação salarial e insolvência de cada vez mais agregados familiares e de empresas, de compressão sem fim da procura, esta redistribuição tem todas as condições para ser um desastre inaudito, colocando Portugal em linha com ajustamentos violentos que fazem suspirar conselheiros de Cavaco. De resto, Vítor Bento, o que disse um dia que não via limites para os sacrifícios, acha que os portugueses querem ficar no euro, mas não parecem dispostos a fazer o que se exige, os tais sacrifícios, sempre selectivos, sem fim. Serão uns mandriões, sem dedicação à causa de uma moeda disfuncional, estes portugueses? Espero que sim. Espero que muitos, cada vez mais, recusem a destruição do Estado social, recusem que a uma década perdida se siga outra de perdição, recusem uma taxa de desemprego que ultrapassa os 16% e que não parará de crescer no contexto desta política económica. Entre esta ordem monetária e financeira e uma sociedade democrática decente não pode haver relativismo.

4 comentários:

  1. Vítor Bento (economista e conselheiro de Estado): «Temos de ajustar o nosso nível de vida à nossa capacidade de produzir riqueza. Não há volta a dar.»

    ResponderEliminar
  2. P.S.
    Como deve ser feito o ajuste é uma outra conversa...

    ResponderEliminar
  3. Essa do aumento das insolvências de particulares tem muito que se lhe diga.
    Faça o legislador desaparecer da lei a figura da "exoneração do passivo restante", e cairá de imediato (a pique?) os pedidos de insolvência.

    ResponderEliminar
  4. A não ser que haja interesse/ideologia por trás, só com uma grande fezada alguém poderá “acreditar” na narrativa neo-liberal. Com a rebuscada mexida na TSU (mais transferência dos salários para o capital), agora é que a Terra passaria a girar em volta do Sol…(E mais um pró: até o benemérito Mexia já veio a terreiro dizer que o preço da energia poderia descer - uns cêntimos, talvez).
    Sobre o problema de fundo – o de uma dívida que nas condições actuais, jamais vamos conseguir pagar – nem uma palavra, nem uma sugestão de conversa com os credores.

    Relativismo, coisa nenhuma!

    ResponderEliminar