Não podendo portanto continuar a negar o portentoso elefante, a maioria de direita (da Presidência da República aos grupos parlamentares que suportam o governo e passando obviamente por este), socorre-se de uma argumentação defensiva que oscila entre o «atirar poeira para os olhos» e o simples «passa-culpas». Isto é, sendo todos forçados a reconhecer que o elefante se encontra na sala, uns atribuem esse facto a misteriosas razões (alheias ao seu arbítrio) e os restantes dizem que foram outros, de fora, a permitir a entrada ao incómodo paquiderme.
As declarações de Jorge Moreira da Silva, na abertura da Universidade de Verão do PSD, são um exemplo da primeira linha de argumentação. O vice-presidente do partido diz que a quebra na captação de quase três mil milhões de receita não é culpa do executivo: «é precisamente na única área que não depende absolutamente do governo que os resultados não estão a seguir os níveis que esperaríamos. Porque em tudo o resto (...) este governo tem tido um papel notável». Pois tem, essencialmente em matéria de cortes de salários, subsídios e pensões, anunciados como temporários e que afinal correspondem, deduz-se, às famosas «gorduras do Estado». E não, a quebra do consumo interno a golpes da tripla tesoura austeritária (aumento de impostos, corte de rendimentos e desmantelamento de serviços públicos) nada tem que ver com as falências, o aumento do desemprego e a redução das receitas fiscais.
Na segunda linha argumentativa encontramos, entre outros, Cavaco Silva. Agora que o descalabro entra pelos olhos dentro, o presidente - sempre tão confiante de que Portugal iria conseguir, bastando-lhe para tal cumprir a escalada austeritária - culpa agora a troika pela mais que previsível hecatombe, sugerindo que a mesma «deve rever aquilo em que falhou».
Ter memória é crucial nos dias que correm. Não deixem por isso de ler este post do Miguel Abrantes no Câmara Corporativa, que faz bem em recuperar as palavras de Eduardo Catroga em Maio de 2011, num comentário à versão inicial do memorando («nós vamos ser muito mais radicais no nosso programa do que a troika, vamos ser muito mais radicais»); de Passos Coelho a 1 de Junho de 2011 («por isso é que sempre disse que o programa do PSD está muito para além do que a troika propõe»); ou de Teresa Leal Coelho, já em Março do corrente ano («o esforço nas reformas tem que ir além da troika»).
Não, esta gente não é vítima de um elefante que se instalou, por vontade própria, no meio da sala. Nem sequer se pode queixar que o paquiderme entrou por uma porta que foi deixada inadvertidamente aberta. Esta gente (troika incluída) fez uma coisa muito mais simples: empurrou o elefante para o meio da sala.
Nuno:
ResponderEliminarMuito bom post.
Parabéns.
"Isto é, sendo todos forçados a reconhecer que o elefante se encontra na sala, uns atribuem esse facto a misteriosas razões (alheias ao seu arbítrio) e os restantes dizem que foram outros, de fora, a permitir a entrada ao incómodo paquiderme."
ResponderEliminarAHAHAHAHAHAHA! Boa... com mil repolhos! Mas que elefante tao inconveniente! Os paquidermes, e bem sabido, tem perigosas tendencias esquerdistas. AHAHAHA!
Empurrar deliberadamente um tal elefante para o meio da sala é um crime de alta traição e deve ser entendido como tal pelos portugueses.
ResponderEliminarMuito bom post, com algumas reservas. Afinal quem permitiu o elefante entrasse na sala? Cá pra mim o elefante faz parte deste governo (CDS incluído, o que nem sempre fica claro...) Os seguranças não brincam...
ResponderEliminarQuando nos cansaremos, os seguidores e comentadores avulso, de ficar satisfeitos por escrever arrazoados, muito acertados, mas sempre improfícuos?
ResponderEliminarChorar enquanto os dinheiros desviados permanecem no limbo é, além de uma ofensa, uma demonstração de castração colectiva.