quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Uma notícia com custos
Partilho a perplexidade revoltada de Pedro Lains, mas, considerando sempre que este Banco não é de Portugal, acho que neste caso a confusão foi sobretudo criada pelo jornalista do Público (é difícil encontrar uma notícia mais confusa sobre um tema que não é nada simples, sobretudo quando entramos por alguns indicadores adentro sem cuidado) e, já agora, confusão criada pelo editorial, que pelo menos não o disfarça. De facto, nem ninguém acredita que a quebra dos salários como custo seja menor em Portugal do que no conjunto da Zona Euro, nem os indicadores mobilizados autorizam essa interpretação. Por um lado, temos a evolução de um índice de taxa de câmbio efectiva real do euro, deflacionada pela evolução dos tais custos unitários do trabalho (na passagem de nominal para real usa-se aqui evolução dos cut’s em vez da inflação), em relação a 20 parceiros com quem a Zona Euro no seu conjunto, que inclui Portugal, transacciona, cujo andamento parece ser influenciado pela desvalorização do euro nos mercados cambiais nos últimos tempos. Por outro lado, temos um índice de taxa de câmbio efectiva real de Portugal, deflacionado pela evolução dos custos unitários do trabalho, em relação aos mesmos 20 parceiros e aos outros 16 países com quem se partilha o euro em rígido sistema de câmbios fixos e com quem se transacciona muito mais. Esta diferença entre os dois indicadores tem de ser tida em consideração e não autoriza as comparações que são feitas na notícia, ao mesmo nível das definições incompletas de conceitos que são dadas, como é o caso dos enviesados custos unitários do trabalho, que também incluem a evolução da produtividade real, facto que é ignorado. Dizer que a zona Euro ganhou mais competitividade-custo em relação ao exterior do que Portugal em relação a esse mesmo exterior (os tais 20) mais aos restantes países dessa mesma Zona Euro (os tais 16 que somam para construir o índice nacional para cada país) é comparar alhos e bugalhos. Não se pode dizer que Portugal esteja mais distante em relação à evolução de uma qualquer “média” de competitividade-custo da Zona Euro, porque não há nenhuma média mas sim a avaliação de um todo (zona euro) em relação aos parceiros comerciais de fora da zona. Portugal foi um dos países onde no ano passado a tal medida de competitividade-custo mais caiu na Zona Euro em resultado da tal desgraçada desvalorização interna que aqui temos criticado (o que se vê comparando com a evolução dos índices construídos para os outros países da zona euro). Enfim, um exemplo de tratamento confuso de assuntos difíceis e com implicações política tormentosas pouco digno de um jornal dito de referência e que na economia até o costuma ser. Fica uma pergunta: estes dados foram divulgados assim pelas fontes oficiais?
Sem ofensa (muito pelo contrário): não seria melhor reescrever o poste?
ResponderEliminarA.M.