sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Da chantagem pós-democrática

As primeiras páginas do Público acabam por dar conta da chantagem dos políticos supranacionais do BCE, sem legitimidade democrática, mas com poder monetário, sobre os políticos nacionais com legitimidade democrática, mas sem soberania monetária. Assim se confirma, contra a complacência a que os editoriais do Público têm sido por vezes atreitos, que o euro, como versão extremada de um sistema de câmbios fixos com liberdade de capitais, bloqueia as democracias europeias porque constrange severamente a escolha de política económica soberana. E sem prática, enquanto não se responder com chantagem à chantagem, a democracia atrofia. Isto não impede, antes estimula, um anúncio da Comissão Europeia, na página a seguir ao destaque do Público, que diz o seguinte: “Em que União Europeia gostaria de viver em 2020? A sua opinião é decisiva para estabelecer os seus direitos e construir o futuro de todos”. Parece que se pode opinar num sítio qualquer e tudo. Quem é que ainda se deixa enganar pela propaganda de Bruxelas quando a realidade é a da destruição europeia de direitos de cidadania democrática que os povos com tanto custo construíram num tempo de democracia menos limitada à escala nacional?

5 comentários:

  1. Tenho alguma dificuldade em aceitar que a Esquerda (não toda...) mantenha uma posição tão intransigente, quanto a questionar a continuidade de Portugal no Euro.Num universo de países com realidades tão diferentes, é cada vez mais evidente que, as políticas implementadas, servem simplesmente os objectivos dos mais fortes!

    Ou "mandamos nós" - SOBERANIA - ou manda o capital! - Subserviência .

    Eu, quero fazer parte de um país SOBERANO!

    A Democracia, vive de persistentes!


    Nota:

    " “Em que União Europeia gostaria de viver em 2020? A sua opinião é decisiva para estabelecer os seus direitos e construir o futuro de todos”. Parece que se pode opinar num sítio qualquer e tudo...."

    Isto de dar idéias, sem possibilidade de VINCULAR...

    Aleixo

    ResponderEliminar
  2. “Em que União Europeia gostaria de viver em 2020? A sua opinião é decisiva para estabelecer os seus direitos e construir o futuro de todos”.

    2020, mas que número tão redondo?! ( Com a 5ª sinfonia ainda melhor…)

    Essa gente vive no mundo da fantasia, servido em spots publicitários. Até parece que se pode opinar num sítio qualquer e tudo, como diz o João Rodrigues. Para quem já viu um muro cair, há uma secreta esperança que esta “nomenklatura europeia” seja corrida de uma vez por todas. E que a democracia funcione um dia.

    ResponderEliminar
  3. “Em que União Europeia gostaria de viver em 2020? A sua opinião é decisiva para estabelecer os seus direitos e construir o futuro de todos”

    A sensação de integração e representatividade que esta abordagem sugere é, para mim, o aspecto mais relevante deste comunicado.

    ResponderEliminar
  4. Eu gostaria de viver numa União Europeia onde o BCE estaria completamente sujeito aos países da União e que estaria obrigado (até determinada percentagem do PIB de cada país) a criar (do nada) e a entregar dinheiro aos países a juro zero em troca de obrigações do tesouro.

    Por outro lado, o BCE estaria também obrigado a criar e a entregar dinheiro aos bancos nacionalizados dos países da União a juro zero, bancos estes que, para suportarem os custos operacionais, poderiam emprestar às empresas e famílias até um máximo de 1%.

    Em suma, gostaria que os países, empresas e famílias da União não tivessem de pagar pela moeda que utilizam. Será pedir demais? Cortar a torneira aos maiores parasitas do universo?

    ResponderEliminar
  5. Dada a falta de independência que o estados europeus já têm seria utópico supor que ainda existe uma democracia em qualquer sentido que não apenas o formal. Mas também diga-se, em abono da verdade, que é o que maioria dos europeus querem. Já tornaram claro que acham a questão económica a única que verdadeiramente interessa e que na sua opinião são os tecnocratas que possuem as respostas. Nada a fazer senão deixar as coisas seguir o seu curso.

    ResponderEliminar