Tendo custado na altura o equivalente a cerca de 50 milhões de euros, e com um orçamento de manutenção a rondar os 600 mil euros anuais, o Pavilhão Atlântico foi vendido na semana passada ao Consórcio Arena Atlântico (constituído por Luís Montez, Álvaro Ramos e a actual equipa de gestão do equipamento), por cerca de 22 milhões de euros. Segundo a ministra Assunção Cristas, «o grupo Parque Expo tem uma dívida de 200 milhões de euros, daí a decisão de realizar activos, vendendo um conjunto de património relevante sobre o qual o Estado não tem função pública crucial a prosseguir».
Apesar de relevante, deixemos por agora de lado a muito discutível questão de o Estado não ter, com o Pavilhão Atlântico, nenhuma «função pública crucial a prosseguir» (sendo contudo que este critério deveria, então, ser coerente e consequente nas áreas onde se reconhece que o Estado «tem função pública crucial a prosseguir»). Mas fixemo-nos apenas na «racionalidade económica» do negócio: nas palavras da própria ministra, «o Pavilhão Atlântico era rentável» (já em plena crise, entre 2009 e 2010, os seus lucros triplicaram). O que quer isto dizer? Basicamente que não era um «fardo» para o Orçamento de Estado, antes pelo contrário.
A venda do Pavilhão Atlântico é pois apenas mais um episódio (evidentemente simbólico em termos financeiros comparativos), da longa história das privatizações em Portugal, que por sua vez se insere num processo mais vasto, o do empobrecimento deliberado do Estado. Uma história que tem vindo a ser escrita com as linhas da mais pura «irracionalidade económica» (para usar os termos do pensamento económico dominante), na óptica da defesa do interesse público e do dinheiro dos contribuintes.
Quando ouvirem falar do Estado gordo, que gasta mais do que tem, que é ineficiente e que não produz recursos suficientes para permitir a existência de políticas sociais decentes, lembrem-se do Pavilhão Atlântico. Quando vos disserem que não é possível manter um Serviço Nacional de Saúde universal e gratuito, ou um sistema público de educação com qualidade para todos, lembrem-se do Pavilhão Atlântico. Quando insistirem que não se podem assegurar os recursos mínimos de subsistência aos cidadãos mais carenciados, lembrem-se do que significa - simbolicamente - a privatização do Pavilhão Atlântico.
Votar sim!
ResponderEliminar... mas...
Votar não é passar um cheque em branco!!!
Leia-se: O CONTRIBUINTE TEM DE DEFENDER-SE!!!!!!
.
TOCA A ABRIR A PESTANA:
- o cidadão não pode ficar à mercê de pessoal que vende empresas estratégicas para a soberania - e que dão lucro (!?!?!) -, e que nacionaliza negócios "madoffianos" (aonde foram 'desviados' milhões e milhões); ex: BPN.
- Democracia verdadeira, já! -> leia-se, DIREITO AO VETO de quem paga (vulgo contribuinte).
[veja-se o blog «fim-da-cidadania-infantil»]
.
.
P.S.
-> A superclasse (alta finança internacional - capital global, e suas corporações) não só pretende conduzir os países à IMPLOSÃO da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à IMPLOSÃO económica/financeira.
-> Só não vê quem não quer: está na forja um caos organizado por alguns - a superclasse: uma nova ordem a seguir ao caos... a superclasse ambiciona um neo-feudalismo.
“Ao Estado não cabe, na ótica do Governo, ter um grande pavilhão para realização de eventos musicais. Cabe ter outros equipamentos para outro tipo de eventos”.
ResponderEliminarAonde andava a ministra? O Pavilhão Atlântico não serve exclusivamente para eventos musicais, pois teve já também outros de natureza diferente (lembro alguns desportivos de nível mundial aí acontecidos).
É verdade que o Pavilhão Atlântico era o manancial de receitas de uma gulosa Parque Expo, uma das pseudo-empresas públicas que nunca deviam ter existido. Mas daí a vender o “filet mignon” por tuta e meia, nunca!
Porque que é que o Estado não concessionou? (Ainda vamos ver o Estado, a quem vestiram a pele do urso, a ser novamente esmifrado, quando quiser alugar o Pavilhão…).
A sério: deixem-me só fazer umas contas para demonstrar o quão rentável era o PA:
ResponderEliminarCom o investimento de 50.000.000 euros, se o estado tivesse posto o dinheirinho num banco, e imaginemos uma taxa de 4% ano, isto iria render uns 2.000.000 euros. Mesmo agora, com o "pouco" valor por que foi vendido, estamos a falar de render uns 900.000 euros.
Como o PA, mesmo no ano que triplicou os resultados, rendeu uns fabulosos 381.000 euros, podemos concluir: que péssimo negócio que foi!!!
O que espanta é a tranquilidade com que a ministra justifica uma operação cuja racionalidade económica é indetectável. Vender um equipamento novo com uma rentabilidade crescente por menos de metade do dinheiro que lá se gastou é um acto de lesa Estado, ou não será?
ResponderEliminarEste é o Estado que interessa, o que se especializa a transferir bens públicos para mãos privadas. Não para todas as mãos, diga-se.
Caro anónimo das 16.33h,
ResponderEliminarSe a minha avó tivesse rodinhas era um camião. O Pavilhão Atlântico não era, neste momento, nenhum «fardo» para o Orçamento de Estado, muito pelo contrário. Ponto. Qual é a palavra que não percebe na frase: «o Pavilhão Atlântico era rentável»?
Ninguém fala das contrapartidas desta privatização. Não estou a falar daquelas a favor do estado, mas das obrigações do estado perante os novos donos.
ResponderEliminarEu percebo, caro Nuno (sou o anónimo acima). A questão é: estou mesmo a rentabilizar o equipamento? Isto é como ter uma quinta de 30 hectares e dizer que o rentabilizo porque tiro de lá as couves para o Natal!
ResponderEliminar"Isto é como ter uma quinta de 30 hectares e dizer que o rentabilizo porque tiro de lá as couves para o Natal!"
ResponderEliminarIsto e a prova cabal de que, na realidade, nao entende os textos que le.
E pena.
Caro Pedro Martins,
ResponderEliminarAcho estranho que o consórcio que ganhou a privatização do PA tenha comprado uma quinta (mesmo que a um valor que é menos de metade do valor que a mesma custou a «construir») para ir lá buscar as couves para o Natal. Desculpe-me se estiver enganado, mas parece-me que as suas contas ignoram três coisas: não há nenhum fundamento (em abstracto) para pensar que o Estado não pudesse vir a rentabilizar ainda mais o equipamento (tal como se presume o farão os privados que agora detém a sua posse), no quadro das obrigações a que o seu uso está sujeito; perante este dado, tornam-se altamente duvidosas as contas que dão a venda como a melhor forma de rentabilizar o PA; a partir deste momento, importa contabilizar o prejuízo, para o Estado, dos valores a que passa a estar sujeito quando pretender utilizar o pavilhão para um qualquer evento público. E isto para não entrar na questão do interesse estratégico, para o Estado, de ter em sua posse um equipamento relevante em termos de desenvolvimento de políticas culturais.
Ter lucros é rentabilizar um investimento? Julguei que rentabilizar um investimento era obter dele mais do que obteria se tivesse o dinheiro num banco. Pelo que sei o lucro obtido correspondia a uma taxa de 0,2%...
ResponderEliminarE se o estado com os 22 M pagar uma dívida que nos custa, muito socraticamente,20% ao ano? Não é um grande negócio?
As continhas estão aí feitas. O Guinote é que não percebe, nem nunca perceberá.
ResponderEliminar"Caro anónimo das 16.33h,
ResponderEliminarSe a minha avó tivesse rodinhas era um camião. O Pavilhão Atlântico não era, neste momento, nenhum «fardo» para o Orçamento de Estado, muito pelo contrário. Ponto. Qual é a palavra que não percebe na frase: «o Pavilhão Atlântico era rentável»"
Tentemos de outra forma: 22 milhões de divida a pagar juros de, vá lá, 6%, ė mais de 1,2 milhões/ano.
A poupança em juros ė superior ao lucro do pavilhão.
O dinheiro poupado em juros pode ser aplicado noutros fins mais produtivos.
"Isto e a prova cabal de que, na realidade, nao entende os textos que le."
ResponderEliminarRealmente...este não percebi (se é que se dirigia a mim).
Caros Luís Moreira e Anónimo das 2.18h,
ResponderEliminarE que tal se o Estado saldar de imediato essa dívida de 22 milhões e deixar assim de pagar os juros anuais que referem? Assim de repente até lhes digo onde se poderiam ter ido buscar 12 milhões em 2012: à transferência desse valor - não previsto no Orçamento de Estado - para o ensino privado, que o Ministro Nuno Crato fez sem qualquer justificação (a ponto de a própria associação de escolas privadas ter ficado surpreendida com a generosa e inusitada «prenda»)
"Realmente...este não percebi (se é que se dirigia a mim)."
ResponderEliminarPois... correndo o risco de chover no molhado mas:
E pena.
Ter lucros é rentabilizar um investimento?
ResponderEliminar- Mesmo do ponto de vista altamente distorcido e miopico dos termos desta discussao que o Nuno Serra infelizmente deixou ficar atolada simplesmente em analises simplista financeiras (porque este investimento teve e tem tambem beneficios nao economicos usualmente apelidados pela lingua oficial do sacerdocio economico de externalidades positivas).
Como dizia, mesmo nestes termos, sim. Que eu saiba, o lucro e a unica forma de se rentabilizar um investimento a prazo. Com prejuizos e que nao tao costumeiro.
Ja que estamos nesta achega uma pergunta entao para si:
Entao e vender o "investimento" ou "asset" abaixo do preco de custo? Isso e que e para sim exemplo maximo de "rentabilizacao de um investimento"? E isso?
Sim...é pena! Mas é pena que se façam comentários sem argumentos.
ResponderEliminarQuanto às externalidades positivas, mesmo que eu não faça parte do sacerdócio económico, é óbvio que existem. Se calhar, bem menores que noutros investimentos de menor valor, mas existem. Agora,
"Entao e vender o "investimento" ou "asset" abaixo do preco de custo?"
Ah bem....grande visão! Quando pensar na questão da depreciação do imóvel, é capaz de não fazer análises dessas. Mas isso sou eu, com as minhas análises simplistas!
"Quando pensar na questão da depreciação do imóvel, é capaz de não fazer análises dessas. Mas isso sou eu, com as minhas análises simplistas!"
ResponderEliminarAh! E isso pa! Caramba! Nao 'tou pensar na questao derivada to assunto...
Uma depreciacao de mais de 50% em 14 anos nao ajustada com inflacao num equipamento bem mantido, reconhecido internacionalmente e a dar lucro operacional consistente...
"Analise" rotula no fim.
Tem de me dar o seu nr de telefone que com essa clarividencia analitica tenho a certeza que vamos fazer bons negocios...
Tenho aqui imensa mercadoria para lhe vender: banha de cobra, ovos de galo embalados em papel brilhante, uncornios e po de fada... essas coisas.
Ah...porque aquilo custou 50.000.000, quando, provavelmente deveria ter custado metade, obriga o estado a suportar a sua manutenção apenas com o argumento de "ai...foi muito caro, pá!"
ResponderEliminarMas...o equipamento, valia muito mais? Se valia e sabia disso, perdeu uma boa oportunidade de fazer uma oferta e ficar rico! Demonstrativo de que fazer negócio consigo, não será grande...negócio.
"Suportar a manutencao"... com lucro operacional?
ResponderEliminarEnfim... Tu e que es o analista pa!
FYI tambem tenho escamas de dragao.
As coisas mais simples são muitas vezes incompreensíveis para as mentes mais sofisticadas. O Estado construiu o PA por 50 milhões de euros. Fê-lo porque considerou que este equipamento era importante no plano de recuperação urbanística da zona oriental de Lisboa. Trata-se de um equipamento cuja utilização comprova a justeza da opção do Estado já que os objectivos que presidiram à sua construção tem sido alcançados. Em função desse sucesso as receitas que gera são superiores aos custos incluindo os custos financeiros a ele associados. Não entra aqui nestas contas o valor de uso embora seja esse valor que justifica a construção de qualquer equipamento desta natureza. Não interessa sequer discutir se para esta construção existiu ou não financiamentos comunitários a fundo perdido.
ResponderEliminarO que interessa é o facto de não existir nenhuma racionalidade económica em alienar um equipamento, ainda novo, por menos de metade do seu custo apenas e só porque, afinal, o Estado não se revê na função de gestor de equipamentos culturais. Não existe racionalidade mas também não existe surpresa já que esta tem sido a nossa triste história.Infelizmente alguns teimam em não perceber mesmo as coisas mais simples.
Muito bem caro Jose Guinote, sem tirar nem por.
ResponderEliminarMilhas para alem desta cambada de "analistas".
Muito bem.
Gosto das teorizações e das argumentações de fina ironia, mas números, que até devem valer para alguma coisa, nada!
ResponderEliminarSe me demonstrarem que estou errado, com números, eu agradeço e mudo de opinião! Sem problemas nenhuns!
Caro Pedro Martins,
ResponderEliminarDesculpar-me-á, mas números a demonstrar a «irracionalidade económica» deste negócio para o Estado não faltam (e, convenhamos, creio que todos os que aqui trouxeram para tentar demonstrar que se tratou de um «bom negócio» foram devidamente rebatidos).
É importante dizer também que estamos (o Lowlander sublinha-o e bem), a tratar apenas do «lado contabilístico» do assunto, permitindo desse modo que o Estado seja encarado apenas na redutora perspectiva de um «agente comercial». Fi-lo deliberadamente desde o início, para me concentrar na demonstração do «mau negócio» (até desse estrito ponto de vista), alertando para o facto de ter optado por deixar de fora dimensões absolutamente relevantes (as mais relevantes até) da «racionalidade» que deve guiar o Estado na defesa do interesse público (dimensões como as que o José Guinote, de forma muito clara e lapidar, aqui refere).