Este substancial agravamento do desemprego estrutural decorre dos efeitos de ampliação de elementos de rigidez no mercado de trabalho no contexto da recessão e crise de sobre-endividamento que Portugal está a viver.
Só agora é que tive disponibilidade para ler a primeira versão do estudo do governo para naturalizar parte da taxa de desemprego sem precedentes, chamando-a de estrutural. Releiam a citação. Vá lá, releiam outra vez. Isto faz algum sentido? Não faz nenhum, mas até parece que esta gente é contratualmente obrigada a falar da ideologicamente enviesada “rigidez”, esquecendo-se dos seus benefícios, lendo selectivamente a literatura económica sobre o assunto, isto para já não falar que o período desde 2000, que viu o desemprego quadruplicar neste país, é marcado por alterações liberais no código de trabalho. É por estas e por outras que até a OCDE já veio reconhecer que a conversa sobre a rigidez laboral é uma distracção em matéria de explicações para o desemprego, embora sem mudanças nas prescrições, claro. Onde estas novidades não entram é num Banco que não é de Portugal e que prefere repetir a cassete sobre reforma e transformação estruturais redentoras. Estrutural só se for a regressão em curso. De resto, o estudo até reconhece que foi a crise financeira iniciada em 2008 e que antes da crise foi a estagnação que marcaram o essencial dos ritmos de geração de desemprego. É claro que a austeridade destruidora de emprego por toda a economia é transformada em virtuoso ajustamento e o recente e “surpreendente” aumento brusco do desemprego explica-se por decisões tão voluntárias quanto oportunistas para se poder beneficiar das regras antigas do subsídio de desemprego. Outras desculpas do mesmo calibre se inventarão mais à frente, não duvidem. Enfim, vale tudo para não encarar a procura, sempre a chata da procura em compressão, no quadro de uma moeda forte e inflexível, associada a um regime financeiro liberal que multiplicou crises financeiras. Tudo a trabalhar de forma bem keynesiana para o colapso do investimento produtivo. Será que custa reconhecer isto? Custa. Porque esta gente apostou tudo neste colete-de-forças monetário, a tradução europeia da utopia do mercado autoregulado. Foram muitas as carreiras construídas com base numa ficção destrutiva para os outros. Olhem para Gaspar e releiam o estudo sobre o euro em Portugal, lançado pelo ministério das finanças no final da década de noventa, onde participou. Tudo começou pela fictícia hipótese dos mercados financeiros eficientes para acabar na eficiente degradação das condições laborais e no desemprego de massas.
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