domingo, 6 de maio de 2012
Modelo
Soubemos sexta-feira que Portugal foi o país que mais cortou nos salários do Estado em 2011. Na realidade, já sabíamos que, entre 2000 e 2012, os funcionários públicos terão perdido pelo menos um terço do seu poder de compra. Juntem, entre outros elementos, a duplicação do desemprego até à crise internacional e a sua duplicação depois e concluam: vale mesmo a pena continuar por aqui. Todo o esforço político do governo, como temos insistido, é canalizado para fazer com que a maioria dos trabalhadores do sector privado seja contagiada por esta desvalorização salarial. O desemprego de massas permanente e a alteração regressiva na legislação laboral trabalham precisamente para facilitar a desvalorização salarial e deixam um lastro regressivo para o futuro: é de modelo social que estamos a falar. E é por isso que a verdade pode intrometer-se na aldrabice que é o modo de vida de Passos Coelho: “modelo de crescimento assente em baixos salários é modelo de empobrecimento”. Sejamos justos: Passos Coelho está bem acompanhado na aposta neste modelo. A sua força, o poder estrutural do seu programa, vem das instituições europeias que enquadram um euro que nunca nos serviu.
Caro João Rodrigues
ResponderEliminarÉ só para recordar que a essa redução de 1/3 entre 2010 e 2012 (o corte de Janeiro do ano passado, depois o do subsídio de Natal, mais o duplo corte deste ano, mais os aumentos dos descontos para a CGA e ADSE, mais a inflação) acresce ainda o fim das progressões por antiguidade, em 2005.
O "porreiro pá" substituiu isso por escalões "de mérito", ou "avaliação de desempenho". Deixando de lado outras coisas, sublinhe-se que uma pessoa em situação média, que antes mudava de escalão em 3 anos, passou a mudar só depois de 10 anos (1 ponto por ano).
De qualquer forma, a seguir veio o congelamento geral, e nem mesmo a "avaliação de desempenho", já de si desenhada para fazer o pessoal empastelar anos extra, foi posta em prática. Passou-se simplesmente a congelamento "provisório-definitivo".
Como é óbvio, sendo o Estado de longe o maior empregador, estas tendências repercutem depois em todo lado, mesmo nos privados.
E para cima de tudo, sendo o Estado em particular o maior empregador de mão-de-obra qualificada, isso por sua vez induz à desqualificação generalizada, à emigração de diplomados, ao desinvestimento em educação, ao "modelo dos baixos salários", etc.
É tão bom viver na Eurolândia...