(Continuação daqui)
A crise financeira de 2007-08 iniciou-se com aquilo que se
designa frequentemente como um “momento Minsky” – o desencadear súbito de uma
espiral deflacionista, na qual o incumprimento de dívidas por parte de alguns
devedores leva a uma deterioração dos balanços dos credores, a qual leva estes
últimos a vender activos, provocando a queda do preço desses activos, o que por
sua vez tem um efeito negativo sobre os balanços de outros agentes e por aí
fora. Ou seja, foi uma crise provocada pela desalavancagem súbita e
descoordenada por parte do sector privado num contexto de
sobre-endividamento. Transmitiu-se à
esfera real na medida em que a deterioração dos balanços constrangeu a
confiança dos investidores e a concessão de crédito à produção, afectando, por
essa via, os níveis de produção e emprego. Ora, em relação a tudo isto há dois
aspectos que importa sublinhar. O primeiro é que o processo foi até bastante
suavizado pela actuação acomodatícia do sector público, o qual permitiu que a
desalavancagem fosse relativamente reduzida e diferida no tempo. A
consequência, claro, foi a transformação do endividamento privado em público,
com as crises e dilemas da dívida soberana a que assistimos agora, de Portugal
aos EUA. Porém, o segundo, e mais importante, aspecto a assinalar é que as
raízes profundas do problema não registaram qualquer alteração: independentemente
do ajustamento (relativamente insignificante) dos níveis de endividamento que a
crise de 2007-08 permitiu e consubstanciou, não
será possível continuar a assegurar a estabilidade do processo de
acumulação através da solução neoliberal porque, simplesmente, a válvula de
escape do crédito/endividamento está esgotada ou muito perto disso. E sem esta
válvula de escape, o aprofundamento da exploração e desigualdade é não só muito
mais instável do ponto de vista político (felizmente, claro), como dá origem a
problemas de realização que comprometem o próprio processo de acumulação.
É por isso que a crise financeira teve lugar em 2007-08 mas
a crise económica está ainda em curso
– e é uma crise estrutural, a crise terminal do actual regime de acumulação, que
tenderá a tornar-se cada vez mais evidente por via da agudização dos conflitos
entre as diferentes forças sociais. Conflitos esses cujo palco inicial consiste,
como é já bem visível, nas questões em torno da dívida (da questão do
(in)cumprimento à questão da migração da dívida do sector privado para o sector
público), mas que, inevitavelmente e a prazo, se deslocará para o cerne do
problema (a divisão do produto social e a democraticidade da super-estrutura). Para
o bem ou para o mal, “mais do mesmo” não resultará. Aquando da crise análoga
anterior, na década de ’70, o campo progressista foi derrotado, talvez vítima
do seu próprio sucesso anterior. Desta vez, as condições são muito diferentes,
mas o embate não será menos decisivo.
Off-Topic. Achei importante divulgar.
ResponderEliminarSegún estudios sobre economías avanzadas realizados en los últimos 30 años, los colapsos del mercado inmobiliario y las recesiones tienden a ser más graves y a durar más tiempo cuando les precede una mayor acumulación de deuda de los hogares. El consumo de los hogares y el PIB real se contraen más, el desempleo aumenta más, el desapalancamiento de los hogares —ya sea por pago o por incumplimiento de las deudas— es más pronunciado, y la desaceleración de la actividad económica dura por lo menos cinco años.
Página 2 no seguinte relatório do FMI: http://www.imf.org/external/spanish/pubs/ft/weo/2012/01/pdf/sums.pdf
sem querer ser chato a crise começou em 2006 quando a bolha irlandesa rebentou...
ResponderEliminarDe resto em Janeiro de 2006 já havia alguns previdentes a meter em dívida americana o que tinham ganho em libras esterlinas e em euros com uma harpa no reverso
Páscoa Feliz com este coelho manso e transparente
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ou a crise começou em 1991 1992 quando se começou a transferir a indústria britânica e amerikander para alhures nos lestes e orientes
agora 2007 acho que não vai ficar na história mesmo que não seja americana
tal como a crise de 1929-1941 (não reflete a bolha da Florida
também a crise de 2008-2030
não trará os anos pré-crise anexos
na qual o incumprimento de dívidas por parte de alguns devedores leva a uma deterioração dos balanços dos credores, a qual leva estes últimos a vender activos...que tinham um valor virtual
ResponderEliminartal como as colecções de cromos ou os cartões de basebol...são activos com um valor birtual
tal como a arte ou a bibliofilia ou...apartamentos de 20 mil libras (irlandesas) em 1992 a cair de podres e alugados a 30 e 50 libras semanais
vendidos em 2005 por 300 mil euros
(20 mil libras a 249$
5mil contos em 1992
(1+0,10) elevado a 14 daria menos de 400% de valorização
isto é uns 20 mil contos
ou 100 mil euros
mesmo com o estuque a cair e o bolor a encher as paredes
logo quando me falam dos activos que o Ulster bank ou o Anglo-Irish bank venderam ao banko dos scots ou a outro palerma qualquer
acho que falta qualquer coisa nesses activos
tal como os bonds america can't
Caro Alexandre
ResponderEliminarSim, tem razão, a caracterização do período como “pós-fordista” releva de um determinismo tecnológico bastante tolo. Pode haver outras designações ainda melhores, mas “neoliberalismo” é já muito mais adequado de certeza.
Em parte, isso tem a ver com a tal de “agência”, para usar o jargão na moda. Mas daí, por outro lado, não sei se usar o jargão é bom. Aliás, faz-me lembrar o “agente racional” e por isso dá-me logo comichões. Chamemos-lhe singelamente acção… ou mesmo actuação política, só para chatear. Essa tal de actuação política (em sentido amplo, claro está, incluindo a cultural “guerra de posições”, p. ex.) diz talvez o essencial quanto a possibilidades de trajectórias diferentes e “bifurcantes” das sociedades, o qual não é visível aos olhos da história económica…
Assim, uma abordagem da história global que tenha como base a simples história (mesmo raisonée) económica, tem sempre as suas limitações: quer em variante “ondulatória” (quanto mais, menos e quanto menos, mais, à maneira da célebre pedrada laplaceana no charco), quer mesmo em variante cumulativa (quanto mais, mais e quanto menos, menos) e “minskyana”. Ah, mas dito isto, tem toda a razão em sublinhar a importância dos dispositivos de acesso generalizado ao crédito como sucedâneo funcional temporário do estado social: e lubrificante portanto do “pulling de state out”, acrescento agora e sublinho. Quanto a isso, inteiramente de acordo consigo.
Atenção porém a um aspecto. As alterações na distribuição do rendimento são importantes, mas é falso que maior acumulação implique sempre maior investimento e distribuição desigual do rendimento, ou que reciprocamente maior igualdade implique intrinsecamente um “desincentivo ao investimento”, logo menor crescimento. Isso é o tradeoff da vulgata económica mainstream pelo menos desde Stuart Mill, o qual deve ser rompido antes de lhe dar uma resposta: seja pelo crescimento aceitando a desigualdade, seja pelo igualitarismo da estagnação ou do “decréscimo”. Mill e Latouche não são de equipas diferentes, recordemos: ocupam posições diferentes, isso sim. Mas são da mesma equipa.
Ah, mas de novo: trazer à colação o tema da insuficiência da procura efectiva é sem dúvida importante e interessante da sua parte. Creio que pode e deve continuar a trabalhar-se no interface marxista-ricardiano-keynesiano (ou “cambridgeano”) das explicações da crise pela “insuficiência da procura” e pela “queda da taxa de lucro”. Mas em todo o caso, o principal talvez fique de fora dessa simples dualidade. Talvez seja mesmo “institucional”. E quanto a tudo isto, a “dismal science”, mesmo em versão “radical”, é frequentemente mais um estorvo do que uma ajuda. Sobretudo, claro, porque é mesmo é… “dismal ignorance”.
Mas uma coisa deve de qualquer forma ser destacada, acrescentando-a à sua exposição. A recessão de finais do século XIX foi abertamente deflacionária, enquanto a dos meados-finais dos 1970s foi pelo contrário inflacionária (“estagflação”), e entretanto hoje em dia vivemos um período de novo com claras sugestões deflacionárias. Isto não tem nada de “cíclico” ou necessariamente “alternante” ou o que seja. Tem muito, isso sim, de “institucional”. Em finais do século XIX os sindicatos e os partidos socialistas eram mais fracos e não havia partidos comunistas. Durante a “quase-revolução” da viragem 1960/70, pelo contrário… mas hoje em dia, graças à viragem “pós-moderna”, em parte ao próprio 68, ao “cultural turn” e a toda uma série de coisas por aí, voltamos quanto a certos aspectos à cepa torta. Isto é, estamos de facto mais perto do período de estagnação prolongada, com deflação, característico dos finais de oitocentos.
Isso deu uma estagnação mais prolongada, enquanto por contraste o maior peso político da esquerda deu nos 1970s mais inflação. Mas tal facto acabou por ser menos mau para o crescimento à la longue do que a deflação “a seco” (ou a “desvalorização interna”), típica do período anterior, de maior ascendente (e “hegemonia”) da direita.
Já agora: a história será “mestra da vida”? Ou, noutros termos: “e nós, pá?”