Não faz sentido deixar sob controle de empresa estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é o petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros e aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola (…) Os grandes interessados nos investimentos diretos em países em desenvolvimento são as próprias empresas multinacionais. São elas que capturam os mercados internos desses países sem oferecer em contrapartida seus próprios mercados internos. Para nós, investimentos de empresas multinacionais só interessam quando trazem tecnologia, e a repartem conosco. Não precisamos de seus capitais que, em vez de aumentarem os investimentos totais, apreciam a moeda local e aumentam o consumo. Interessariam se estivessem destinados à exportação, mas, como isso é raro, eles geralmente constituem apenas uma senhoriagem permanente sobre o mercado interno nacional.
Excertos da imperdível crónica de Bresser-Pereira na Folha de São Paulo – A Argentina tem razão. Trata-se de um dos principais economistas do desenvolvimento do Brasil e, note-se, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso. De resto, esta crónica sistematiza a agenda de investigação de Bresser-Pereira: a construção de um Estado neo-desenvolvimentista capaz de contribuir para o apetrechamento económico e para o desenvolvimento das capacidades colectivas da Nação. Isto traduz-se numa atenção especial a duas maldições que ameaçam o desenvolvimento – a dos recursos e a do financiamento por poupança externa – e à sua tendência para gerar uma sobreapreciação da taxa de câmbio que ameaça a indústria. O controlo de capitais é então parte de uma pragmática caixa de ferramentas, onde se inclui a política industrial, ao serviço da qual está a política cambial: funciona ou não funciona? As medíocres e subalternas elites portuguesas, sempre obcecadas com o que pensa o “exterior”, pelo menos desde Maastricht que estão longe destas preocupações...
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