domingo, 19 de fevereiro de 2012

Quem paga?

Pouco a pouco, graças a jornalistas económicos atentos, algumas dimensões da bancarrotocracia vão sendo apresentadas nos jornais: Foi fácil, barato e deu milhões. E agora, quem paga?, por Manuel Esteves, é um exemplo. Dois pontos adicionais que me parecem ser importantes quando se fala dos portugueses endividados: cerca de 40% das famílias tem dívidas à banca e até à crise Portugal tinha das mais baixas taxas de incumprimento. A insolvência privada é sobretudo um produto da crise e da resposta austeritária que atinge também as elásticas classes médias endividadas, sendo um dos factores na base do actual caminho para a depressão. Curiosamente, quanto maior é a chamada flexibilidade da economia, quanto mais direitos os patrões reconquistam, quanto maior é a capacidade em despedir, em cortar rendimentos, em transferir os custos para o mundo do trabalho, mais intensas são as interacções perversas entre dívida e compressão da procura. A bancarrotocracia e a prática das reformas estruturais de matriz neoliberal abrem então novos caminhos para a depressão. Trata-se de um contexto onde se manifestam todos os paradoxos, incluindo o da poupança: "As sucessivas dietas de austeridade e o desemprego recorde estão a levar as famílias portuguesas a poupar menos ou mesmo a consumir as suas poupanças".

5 comentários:

  1. O nosso PR é um bom exemplo de um português que tem que recorrer às poupanças de anos de trabalho, como o próprio referiu no malfadado comentário em Vila Nova de Gaia (salvo erro). A diferença do PR para o resto do portugueses é que são poucos os que têm que ir agora às poupanças para fazer frente às dificuldades e que têm ao mesmo tempo uma casita na Aldeia da Coelha. Pormenores...

    ResponderEliminar
  2. Sem dúvida. O meu caso é um desses. Endividei-me a um nível que eu considerava seguro. A taxa de esforço do orçamento familiar com o encargo do juro e do encargo da habitação ficava bem abaixo dos 25%. Hoje, com os cortes salariais e o aumento galopante dos preços dos serviços essenciais já não consigo poupar nada, mesmo fazendo uma vida com o mínimo de despesa possível...

    ResponderEliminar
  3. "BCP emite 1,5 mil milhões de dívida com garantia do Estado"

    Sem perceber nada de finanças e de economia, dá para perceber a brincadeira depois de ler o seu post e de ler de seguida o que aqui deixo...

    http://economico.sapo.pt/noticias/bcp-emite-15-mil-milhoes-de-divida-com-garantia-do-estado_138637.html

    ResponderEliminar
  4. Já agora uma pequena achega ao artigo, na forma como os políticos tratam os bancos nesta crise. Nada de muito novo, mas a confirmação, se fosse preciso, do tratamento de excepção. Parece que vai ser transferido para as autarquias uma verba da ajuda externa, (mil milhões?? n sei o valor), o impressionante é que esta tem de ser utilizada para pagar a bancos. Nem sequer para pagar a fornecedores está autorizada. Quer isto dizer que esta verba não é para ajudar as sub-finaciadas autarquias é para ajudar os sobre-expostos (aos riscos) bancos.

    Como a maioria dos empréstimos foram negociados antes da crise, com taxas de juro baixas, e como as autarquias estão extremamente carentes de financiamento, pagam aos bancos, e depois, as que podem, pedem empréstimos com taxas mais altas.

    E assim continuam as políticas dos que defendem o estado fora do mercado.

    ResponderEliminar
  5. Ai estão os resultados da austeridade:

    Estado arrecada menos 8% em receitas fiscais http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=539445

    Contribuições para a Segurança Social diminuem

    http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=539457

    ResponderEliminar