sábado, 18 de fevereiro de 2012
A coisa deixou de funcionar
Imaginem um país com um norte com tradição industrial, alfabetizado, e um sul tradicionalmente agrícola, menos escolarizado. Um país onde, no conjunto, a economia era fechada, com o norte a vender tractores ao sul, e o sul produtos agrícolas ao norte. No norte, nasciam poucas crianças e a população envelhecia. Era preciso garantir as pensões de reforma no futuro e isso poderia ser feito aumentando a produção e venda de tratores e a poupança para constituir um fundo de investimento. A dificuldade é que o sul era pobre não absorvia mais tractores produzidos no norte.
A solução, descobriu-se no norte, seria exportar tractores. Para isso era preciso negociar acordos comerciais com outros países e baixar os custos de produção no norte (os salários) para garantir que os tractores fossem competitivos no mercado mundial. Em troca da abertura aos tractores, os parceiros comerciais do norte exigiram a abertura dos mercados do país aos seus produtos agrícolas. E assim ficou combinado.
Tudo corria bem para o norte – exportava muitos tractores e importava produtos agrícolas baratos. Em consequência o norte começou a acumular grandes excedentes comerciais. Acontece que para serem transportados para o futuro estes excedentes comerciais teriam de ser aplicados em alguma coisa. No entanto, como os salários tinham diminuído no norte e no sul a agricultura se ressentia da concorrência dos produtos agrícolas importados, não havia mercado interno que justificasse esses investimentos.
Foi aí que alguém do norte teve outra ideia. Se emprestarmos os nossos excedentes, sob a forma de dinheiro baratinho ao sul, eles podem comprar mais tractores, fazer estradas para transportar produtos agrícolas para o norte e se calhar podem construir escolas e tudo. Assim foi e durante algum tempo, no sul, até houve quem comprasse casas novas a crédito. Quando o sul ficou muito endividado os bancos do norte disseram: "Não pode ser, agora só vos emprestamos se pagarem juros de 30% ao ano". O sul, é claro, não podia pagar. E foi assim que a coisa deixou de funcionar.
Boa noite ,
ResponderEliminarE na sua opinião qual a solução para sairmos desta situação?
Obrigado
João Moreira
A propósito e ao(s) Professor(es)...
ResponderEliminari) - Questionar a sustentabilidade da estrutura de um país, depender de exportações ( que não recursos naturais )
no fundo, incapacidade e/ou interesse dos outros!(...será sempre pontual )
ii) - Globalização - onde parará o ponto de equilíbrio... espontâneo?!
(no Ocidente...próximo do fundo! )
A Esquerda, que caminhos sugere?
Combate-se o proteccionismo?!
Se esse fôr o combate, que expectativas... para o Ocidente?
O lugar da Esquerda?
Estar na vanguarda!
Aleixo
E onde é que, nesta história, entram os tectos de importação de têxteis chineses que nunca foram cumpridos (apesar de generosamente altos)?
ResponderEliminarE como é que foi possível aceitar acordos comerciais com países que produzem sem as condicionantes salariais, ecológicas e de segurança que os europeus exigem – e bem – às suas empresas?
Foi com estes acordos que a coisa deixou de funcionar.
A minha perspectiva é, realmente, outra: http://aventar.eu/2012/02/17/o-buraco/
Bom texto. Sempre me pareceu que a autoridade moral dos credores termina onde começa a especulação com os juros, aquilo a que alguns chamam agiotagem.
ResponderEliminarSe o último parágrafo fosse:
ResponderEliminar"... Assim foi e durante algum tempo, no sul, até houve quem deslumbrado com tanto dinheiro e tão barato, arranjasse esquemas em que, pagando umas comissões por baixo da mesa aos decidores (que até bancos promoveram para dar um ar sério à coisa!), pudesse exagerar nos pedidos, desviando os excedentes e comprasse casas novas, e carros, e televisões,e férias, e etç, a crédito..."
nem precisavamos de imaginar!
Passo Coelho levou hoje de manhã em Gouveia (terra PSD) uma das maiores vaias a um primeiro ministro que há memória, não satisfeito e respondendo a uma jornalista sobre o que tinha a dizer, responde: "... percebo a preocupações das pessoas sobre a seca que estamos a atravessar..."
ResponderEliminarSerá que este governo chega ao fim do ano?
Um economista conservador, BARRY EICHENGREEN escreveu no EXPRESSO de ontem uma verdade com a qual estou totalmente de acordo: o euro está sobrevalorizado, e a competitividade da Europa só se recupera com uma desvalorização do euro de, pelo menos, 30%. Note-se que, em 2003, o euro valia cerca 0,85 dólares.
ResponderEliminarPorquê esta valorização com prejuízo notório para as economias do sul da europa?
Só porque interessa à finança alemã. Os bancos alemães estão a beneficiar de um euro forte através de colossais depósitos a CUSTO ZERO vindos de todo o mundo, que depois emprestam ao resto a Europa a juros elevados ou, até, criminosos.
E compram ainda tudo o que podem comprar ao desbarato.
Como fazer baixar o câmbio do euro?
Simplesmente através de emissões enormes de moeda destinadas a pagar a dívida dos PIGS, particularmente a dívida extrauropeia, para não provocar a inflação dentro da Europa.
É o que tem feito a América.
Porque é que a ALEMANHA não o quer?
Porque está apostada na política NAZI traduzida no slogan DEUTSCHLAND ÜBER ALLES, levada a cabo não através das divisões panzer mas através da sua finança, encabeçada por esse DR. STRANGLOVE que é o seu ministro SCHÄUBLE.
Os governos europeus, nomeadamente o de PASSOS COELHO, fazem apenas o papel que, noutros tempos, fizeram os traidores do governo de Vichy.
Mas a História não os absolverá
E se o sul deixar de pagar?! Se calhar o norte é capaz de ter um problema.
ResponderEliminarA solução é o Norte começar a preocupar-se mais com o Sul - e com os seus próprios trabalhadores - e menos com os seus parceiros comerciais externos. Pode o Sul obrigá-lo a isto? Pode. Nestas coisas, há tantas probabilidades de que o mais forte vença como que vença o que tem menos a perder.
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