quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Processo de empobrecimento em curso

Manuela Ferreira Leite, nas suas obscenas declarações, tem razão numa coisa. Sem crescimento económico não há Estado Social sustentável (onde foi buscar os números de 5% de crescimento é outra conversa). Sem crescimento económico não há sociedades viáveis. O declínio do nosso país nos últimos dez anos é disso prova.

No entanto, há um problema na lógica de Ferreira Leite e, já agora, de toda a direita medina-carreirista que grita aos quatro ventos a falência do Estado Social. A solução sempre apresentada é a da privatização, parcial ou total, dos serviços públicos. Quem pode, deve pagar directamente o preço. O Estado pouparia, podendo dedicar os seus recursos a quem não tem meios para pagar directamente o custo de um dado serviço.

Mas qual é a diferença, no que toca à lógica financeira do país como um todo, se parte da população pagar pelos serviços directamente a um prestador privado ou pagar indirectamente através de impostos progressivos ao prestador público? Nenhuma. Os recursos mobilizados do ponto de vista nacional para cobrir um dado custo são os mesmos, sendo que na primeira há ainda uma margem de lucro a pagar. Ou seja, a deslocação de um serviço do sector público para o sector privado não tem qualquer impacto na capacidade do país como um todo para financiar um determinado nível de provisão de bens e serviços.

Na verdade, o que Ferreira Leite pretende é um crescente racionamento de um conjunto de bens (saúde, educação, segurança social) com base num só critério, o preço. Como acesso é restringido gasta-se menos recursos e adaptamo-nos às nossas “possibilidades”. Impactos negativos sobre qualificações, esperança média de vida ou nas parcas garantias de uma vida fora da miséria serão custos que teremos de pagar para viver “dentro das nossas possibilidades”. Custos que, obviamente, não são para todos. “Tem direito, quem paga” disse ontem Ferreira Leite.

6 comentários:

  1. Tem que existir um Estado Social que não esteja dependente do crescimento porque "crescimento sustentável" é um oxímoro, tendo em conta que vivemos num mundo enraizado em limitações físicas que se reflectem na economia.

    http://www.neweconomics.org/publications/growth-isnt-possible

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  2. Claro que esta austeridade é injusta, criminosa e ineficaz. No entanto, o crescimento económico tal como aconteceu até agora é insustentável e a retoma não é possível - temos de mudar de vida:
    http://www.youtube.com/watch?v=uASzJPI6oo4
    (Who killed economic growth?)

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  3. «Sem crescimento económico não há sociedades viáveis.»

    Pode ser exactamente ao contrário. É como diz o Nuno, no comentário anterior. Se o que se entende por crescimento económico é o que tem vigorado até agora, ou seja, crescimento do consumo de recursos materiais e energia, então não haverá nem sociedades viavéis nem civilização de qualquer espécie num horizonte não muito longínquo.

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  4. Para não ser mal interpretado, considero inaceitável, pelo menos na forma, o que disse a Manuela Ferreira Leite. Mas a solução não está no crescimento económico, está em saber valorizar o que é importante do que não é, o que é eticamente aceitável e o que não é.

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  5. Obscenas e fascistoides as afirmações desta srª.
    Não percebo, aliás, como é possivel alguém lhe dar sequer atenção, quando se sabe que durante o seu consulado á frente das Finanças deste país foi um completo desastre.
    Enfim, estes são os politicos que temos mas com os quais não temos obrigatóriamente de viver.!
    Basta levá-los para para Guantanamo ou Abu Graib(não como prisioneiros, claro, mas como guardas prisionais pois assim poderiam exercer a sua verdadeira profissão - a de vermes)

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  6. Caro Nuno Teles, eis aqui um exemplo da incapacidade desta 'minha' esquerda para questionar as falácias da própria economia enquanto doutrina soteriológica hegemónica e a sua concomitante recusa em abandonar a perniciosa fantasia do "crescimento". Bizarra convergência entre Nuno Teles e Manuela Ferreira Leite nesse ponto-cego no qual só à custa de muita opacidade podem ambos os lados da barricada proclamar a triste certeza etnocêntrica de que «sem crescimento económico não há Estado Social sustentável» e, até, que «sem crescimento económico não há sociedades viáveis»...

    Resta-me, ainda, uma vaga esperança de que esta esquerda possa vir a considerar mais seriamente todas as vertentes do trabalho de Karl Polanyi e pondere as propostas de Boaventura Sousa Santos no sentido de descolonizar, democratizar, desmercadorizar – sem o habitual desprezo que sempre exibem no uso da palavra ‘utopia’...

    Abraço Fraterno

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