Noto que os dez anos da entrada do euro nas carteiras não foram festejados, em contraste com a fanfarra de há uma década atrás. Por onde anda o europeísmo feliz, por onde andam os seus protagonistas, por onde anda a máquina de propagada europeia? Andam por aí, com a falta de memória e de vergonha de sempre. Leia-se o artigo de Correio de Campos no Público de hoje. Um artigo sobre “imprevisibilidade” europeia e que é imprevisível ao ponto de dizer que a “extrema-esquerda” não tem de se esforçar a pensar, talvez porque só foi a tal esquerda que alertou racionalmente há já muitos anos para a natureza e assimetrias da UEM, perante o estupor dos que se esforçaram por não pensar nestas coisas. Uma UEM feita de todas as liberalizações financeiras, atribuindo aos grandes bancos e fundos o tal poder sobre os governos que o antigo Ministro da Saúde Correia de Campos, entusiasta das PPP’s, expressão desse regime, agora denuncia de forma tão imprevisível. Um momento final de pensamento crítico, num artigo apressado onde apoia o “Professor Monti”, um intelectual de uma integração apostada no esvaziamento da soberania democrática, num modelo pós-democrático.
Bem, mas eu não quero, ainda que com atraso, deixar de assinalar a tal década e não tenho nada melhor do que estes números: mais de dezasseis milhões de desempregados na zona euro, uma taxa de 10.3%, 13.2% em Portugal para já, 30% de desemprego jovem já. Tudo sem precedentes. Ainda em 2009, as elites europeias felicitavam-se com os milhões de empregos, maioritariamente precários, criados graças ao euro. Como assinala o economista John Grahl num excelente artigo, dois terços desses empregos até tinham sido criados nas periferias da zona euro. Estas cresceram, as que o fizeram, graças às bolhas geradas pela financeirização do capitalismo, que a crise se encarregou de rebentar, e por desequilíbrios externos brutais sem formas decentes de correcção.
John Grahl faz parte de um grupo de economistas heterodoxos, a rede de economistas por uma política económica alternativa, que há mais de uma década vem criticando, em livros, artigos e num relatório anual, os arranjos subjacentes à UEM e propondo reformas de que agora cada vez mais gente fala; reformas que Correia de Campos até é capaz de defender, juntando-se assim à “extrema-esquerda” que se esforça por continuar a tentar pensar, só podemos supor, já que de alternativas pensadas não temos nada do colunista: da transformação do BCE num verdadeiro Banco Central, que possa financiar os Estados, tal como faz com os bancos, à emissão de euro-obrigações, passando pelo reforço do orçamento europeu ou do Banco Europeu de Investimento, as bases de uma politica de relançamento do investimento à escala europeia, pela instituição de mecanismos de coordenação salarial, que bloqueiem a corrida para o fundo nesta área, gerando todas as desigualdades e todos os atrofiamentos da procura. Medidas razoáveis, mas estruturalmente bloqueadas por tratados que “constitucionalizaram” o neoliberalismo e que eram bem porreiros para a facção social-liberal dominante que esvaziou a social-democracia. A aposta das elites é a transformação da Zona Euro num panóptico financeiro, num insano prolongamento da lógica da UEM. É claro que isto não pode correr bem. Nunca correu, aliás.
Bem, mas eu não quero, ainda que com atraso, deixar de assinalar a tal década e não tenho nada melhor do que estes números: mais de dezasseis milhões de desempregados na zona euro, uma taxa de 10.3%, 13.2% em Portugal para já, 30% de desemprego jovem já. Tudo sem precedentes. Ainda em 2009, as elites europeias felicitavam-se com os milhões de empregos, maioritariamente precários, criados graças ao euro. Como assinala o economista John Grahl num excelente artigo, dois terços desses empregos até tinham sido criados nas periferias da zona euro. Estas cresceram, as que o fizeram, graças às bolhas geradas pela financeirização do capitalismo, que a crise se encarregou de rebentar, e por desequilíbrios externos brutais sem formas decentes de correcção.
John Grahl faz parte de um grupo de economistas heterodoxos, a rede de economistas por uma política económica alternativa, que há mais de uma década vem criticando, em livros, artigos e num relatório anual, os arranjos subjacentes à UEM e propondo reformas de que agora cada vez mais gente fala; reformas que Correia de Campos até é capaz de defender, juntando-se assim à “extrema-esquerda” que se esforça por continuar a tentar pensar, só podemos supor, já que de alternativas pensadas não temos nada do colunista: da transformação do BCE num verdadeiro Banco Central, que possa financiar os Estados, tal como faz com os bancos, à emissão de euro-obrigações, passando pelo reforço do orçamento europeu ou do Banco Europeu de Investimento, as bases de uma politica de relançamento do investimento à escala europeia, pela instituição de mecanismos de coordenação salarial, que bloqueiem a corrida para o fundo nesta área, gerando todas as desigualdades e todos os atrofiamentos da procura. Medidas razoáveis, mas estruturalmente bloqueadas por tratados que “constitucionalizaram” o neoliberalismo e que eram bem porreiros para a facção social-liberal dominante que esvaziou a social-democracia. A aposta das elites é a transformação da Zona Euro num panóptico financeiro, num insano prolongamento da lógica da UEM. É claro que isto não pode correr bem. Nunca correu, aliás.
"só foi a tal esquerda [JVC: extrema esquerda, segundo Correia de Campos] que alertou racionalmente há já muitos anos para a natureza e assimetrias da UEM"
ResponderEliminarNão concordo. O PCP sempre manifestou um antieuropeismo por vezes considerado anacrónico. Mas o BE quando é que se destacou do euromessianismo? E ia participar numa nova internacional, a 5ª, agora europeia, que nunca se viu. Foi debate em que, eu também euro-entusiasta, como membro da direção do MDP, muito participei. Sei do que falo, tenho documentos sobre as diversas posições dessa época.
E não é hoje posição do BE, nunca fundamentada, via Louçã, que sair do euro seria uma desgraça?
Não é tempo de os economistas do BE, que tecnicamente, como leigo, muito prezo, clarificarem a sua posição? Quando, tantas vezes, no meu blogue, apontei o dedo à ambiguidade da "renegociação da dívida" proposta pelo BE, porque não me responderam?
Os tempos agora vão exigir clarificações. Espero encontrar-vos "unidos como os dedos da mão".
E vai continuar a não ser bonita... nem sequer é gratificante ver gente a retratar-se... e a fazer catarse.
ResponderEliminarPermitiram a uma europa arruinada manter o estado social e o nível de vida durante uma década mais.
ResponderEliminarPara uma guerra económica perdida não foi mau..
Botam a culpa da cryse no Euro.
ResponderEliminarBotam a culpa da cryse na Merkel.
Botam a culpa da cryse em tudo, menos na sua fonte primária:
1 - crise do subprime nos EUA
2 - ataque especulativo ao Euro para que o Dólar näo desaparecesse como moeda internacional motivada por 1)
A imposiçäo do Merkozysmo derivou do 2); isso afectou as economias mais frágeis, porque estas decidiram nos 10 anos anteriores usar o crédito a baixo custo advindo de usarem o Euro para queimar em projectos faraónicos (Euros, Jogos Olímpicos, AEs inúteis tanto que estäo vazias, PPPs para amigos) em vez de investirem no desenvolvimento *real* desses países (Educaçäo, I&D, mobilidade sustentável).
Alguém que vos explique a diferença entre contrair um crédito para financiar um mestrado e contrair um crédito para financiar uma TV nova (quando a outra funciona). É o mesmo.
Culpam-se os alemäes por "destruírem as indústrias dos países periféricos". Parece-me que quem destruiu as pescas portuguesas foram os tugas. Os espanhóis receberam a compensaçäo da UE para abater a frota de barcaças, e juntaram-se em cooperativas e adquiriram barcos-fábricas, e continuam pujantes. Os portugueses correram a comprar um Mercedes. E por aí fora. A culpa é dos alemäes?