terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Bovina subserviência

«Por causa deste caso, estive a rever entrevistas na imprensa e na televisão feitas a Alexandre Soares dos Santos. (...) Fiquei atónito. Não se pode dizer que tenha lido e ouvido entrevistas. Os jornalistas (quase sempre de economia) pedem conselhos e dizem frases para as quais esperam a aprovação do senhor. É uma amena cavaqueira onde nada de difícil, embaraçoso ou aborrecido é perguntado. Nunca é confrontado com contradições, incoerências ou dificuldades. Nada se pergunta sobre a relação da sua empresa com os produtores nacionais, com os seus trabalhadores ou com o Estado. E havia tantas coisas para perguntar. Não se trata de uma entrevista a um empresário, com interesses próprios, mas a um "velho sábio" que o País deve escutar com todo o respeito.
Trata-se de um padrão e não de um tratamento especial ao dono da Jerónimo Martins. Se ouvirmos as entrevistas a banqueiros ou outros grandes empresários acontece o mesmo. O que me leva a perguntar: de onde vem esta bovina subserviência de tantos jornalistas perante o poder económico, que não tem paralelo com qualquer outro poder, sobretudo com o poder político?»

O Daniel Oliveira sublinha, no post a que remonta este excerto, uma das mais importantes questões de fundo que o episódio Soares dos Santos/Pingo Doce revelou, de forma sintomática. A subserviência de muito jornalismo, sobretudo televisivo, a certas figuras «iconoclastas» da «economia portuguesa», relativamente às quais parece haver um limite tácito para o tipo de perguntas que podem ser formuladas ou na persuasão que pode ser mobilizada para esclarecer determinados assuntos. A esta veneração auto-intimidatória dos jornalistas acresce o monolitismo de opinião que, salvo raríssimas excepções, continua a reinar nos canais televisivos. Convergindo entre si, estas duas lógicas (subserviência jornalística e pensamento único) ampliam de forma desmesurada o défice de discussão político-económica que nos é oferecido, sobretudo, pelas televisões.

6 comentários:

  1. Sempre fomos ensinados a não pensar, este bloqueio é a realidade dos nossos dias penso até que nos define como povo.

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  2. A suprema expressão do que é afirmado no post do Daniel Oliveira: a SIC Notícias e o seu editor de economia José Gomes Ferreira.O caso chega a ser patético. Veja-se: o "pluralismo" dos comvidados; o permanente ar subserviente, estilo "aqui está o vosso servo, imerecedor do vosso supremo favor"; as afirmações sem base, estilo conversa de café, muitas vezes aventadas "como cidadão"...Um exemplo: no dia de uma dessas cimeiras da UE em que se decidiu que cada país teria de inscrever o limite do défice na constituição o senhor foi chamado a comentar num dos jornais da SIC. No final, expressando-se de modo patético, "adivinhando" as dificuldades do PS em o aprovar, disse esperar "como cidadão" que as politiquices da oposição não impedissem a adopção de tão importante medida...Nem Passos (e nem Relvas...)foram, até agora, tão longe...

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  3. A questão que se coloca é, será culpa dos jornalistas??? Se fossem trabalhadores dessa mesma empresa (SIC), poderiam fazer algo diferente? Poderiam esquecer os interesses do vosso Patrão (Pinto Balsemão)? A resposta é sim, podiam, mas seria o vosso ultimo dia de trabalho. A independência jornalística nunca existiu...

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  4. Houve um esforço sério por parte da "Escola Pública" com a adopção das novas pedagogias centradas no aluno para que estes aprendessem a pensar por si; penso que o dinheiro fácil e os meios de comunicação arrumaram com todo esse trabalho; agora temos o "cratismo" saber a tabuada e não dar erros - é barato e dá milhões!
    banaliza-mo-nos no sentimentalismo autoglorificador, dando esmolas uns aos outros, através de "jantares de Natal, bancos alimentares etc.
    ora, os meios de comunicação foram tomados pelo poder económico precisamente para contrariar o que a pedagogia tentava produzir; liberdade de imprensa, pluralismo de opinião?- vou ali e já volto!...

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  5. Hoje Programa Contra-Corrente cinco convidados considerados SENADORES.
    Senadores porquê?...Todos gente bem na vida e concordantes com as medidas de austeridade...
    Pergunta-se: -Será que estas medidas tão glosadas por eles os afectam?
    Não me parece, por isso todos muito tranquilos e avisados...Sobrinho Simões, Vitorino, Ferreira Leite, Balsemão, Barreto...Este Barreto que eu nunca esqueci, o da famosa Lei Agrária que devolveu em anos imediatos a 1974 as terras aos Latifundiários, para agora estarem abandonadas e sem qualquer utilidade, fala em austeridade e cortes de direitos sociais com a mesma facilidade com defendia o contrário na época...Sempre no mesmo sentido, NADA PARA O ZÉ.

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  6. Portugueses à mercê de quem muito bem calhar

    1. Não há necessidade do Estado possuir negócios do tipo cafés (etc), porque é fácil a um privado quebrar uma cartelização.
    Agora, em produtos de primeira necessidade - que implicam um investimento inicial de muitos milhões - só a CONCORRÊNCIA de empresas públicas é que permitirá combater eficazmente a cartelização [leia-se roubalheira] privada.
    {um exemplo: veja-se a roubalheira do preço da gasolina}
    2. Com a entrega de produtos de primeira de necessidade (ex: energia, água, etc) a privados... e com estes a venderem a quem muito bem calhar (e a pirarem-se para um outro lado qualquer)... os portugueses ficarão à mercê de quem muito bem calhar (chineses, família Eduardo dos Santos, etc...).


    P.S.
    Na minha opinião é óbvio: nas actividades mais estratégicas... é preferível o combate à corrupção (combate esse, que poderá vir a ser muito mais eficaz com o fim-da-cidadania-infantil [blog http://fimcidadaniainfantil.blogspot.com/.
    )... do que... ficar à mercê de quem muito bem calhar.

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