«Por causa deste caso, estive a rever entrevistas na imprensa e na televisão feitas a Alexandre Soares dos Santos. (...) Fiquei atónito. Não se pode dizer que tenha lido e ouvido entrevistas. Os jornalistas (quase sempre de economia) pedem conselhos e dizem frases para as quais esperam a aprovação do senhor. É uma amena cavaqueira onde nada de difícil, embaraçoso ou aborrecido é perguntado. Nunca é confrontado com contradições, incoerências ou dificuldades. Nada se pergunta sobre a relação da sua empresa com os produtores nacionais, com os seus trabalhadores ou com o Estado. E havia tantas coisas para perguntar. Não se trata de uma entrevista a um empresário, com interesses próprios, mas a um "velho sábio" que o País deve escutar com todo o respeito.
Trata-se de um padrão e não de um tratamento especial ao dono da Jerónimo Martins. Se ouvirmos as entrevistas a banqueiros ou outros grandes empresários acontece o mesmo. O que me leva a perguntar: de onde vem esta bovina subserviência de tantos jornalistas perante o poder económico, que não tem paralelo com qualquer outro poder, sobretudo com o poder político?»
O Daniel Oliveira sublinha, no post a que remonta este excerto, uma das mais importantes questões de fundo que o episódio Soares dos Santos/Pingo Doce revelou, de forma sintomática. A subserviência de muito jornalismo, sobretudo televisivo, a certas figuras «iconoclastas» da «economia portuguesa», relativamente às quais parece haver um limite tácito para o tipo de perguntas que podem ser formuladas ou na persuasão que pode ser mobilizada para esclarecer determinados assuntos. A esta veneração auto-intimidatória dos jornalistas acresce o monolitismo de opinião que, salvo raríssimas excepções, continua a reinar nos canais televisivos. Convergindo entre si, estas duas lógicas (subserviência jornalística e pensamento único) ampliam de forma desmesurada o défice de discussão político-económica que nos é oferecido, sobretudo, pelas televisões.
Sempre fomos ensinados a não pensar, este bloqueio é a realidade dos nossos dias penso até que nos define como povo.
ResponderEliminarA suprema expressão do que é afirmado no post do Daniel Oliveira: a SIC Notícias e o seu editor de economia José Gomes Ferreira.O caso chega a ser patético. Veja-se: o "pluralismo" dos comvidados; o permanente ar subserviente, estilo "aqui está o vosso servo, imerecedor do vosso supremo favor"; as afirmações sem base, estilo conversa de café, muitas vezes aventadas "como cidadão"...Um exemplo: no dia de uma dessas cimeiras da UE em que se decidiu que cada país teria de inscrever o limite do défice na constituição o senhor foi chamado a comentar num dos jornais da SIC. No final, expressando-se de modo patético, "adivinhando" as dificuldades do PS em o aprovar, disse esperar "como cidadão" que as politiquices da oposição não impedissem a adopção de tão importante medida...Nem Passos (e nem Relvas...)foram, até agora, tão longe...
ResponderEliminarA questão que se coloca é, será culpa dos jornalistas??? Se fossem trabalhadores dessa mesma empresa (SIC), poderiam fazer algo diferente? Poderiam esquecer os interesses do vosso Patrão (Pinto Balsemão)? A resposta é sim, podiam, mas seria o vosso ultimo dia de trabalho. A independência jornalística nunca existiu...
ResponderEliminarHouve um esforço sério por parte da "Escola Pública" com a adopção das novas pedagogias centradas no aluno para que estes aprendessem a pensar por si; penso que o dinheiro fácil e os meios de comunicação arrumaram com todo esse trabalho; agora temos o "cratismo" saber a tabuada e não dar erros - é barato e dá milhões!
ResponderEliminarbanaliza-mo-nos no sentimentalismo autoglorificador, dando esmolas uns aos outros, através de "jantares de Natal, bancos alimentares etc.
ora, os meios de comunicação foram tomados pelo poder económico precisamente para contrariar o que a pedagogia tentava produzir; liberdade de imprensa, pluralismo de opinião?- vou ali e já volto!...
Hoje Programa Contra-Corrente cinco convidados considerados SENADORES.
ResponderEliminarSenadores porquê?...Todos gente bem na vida e concordantes com as medidas de austeridade...
Pergunta-se: -Será que estas medidas tão glosadas por eles os afectam?
Não me parece, por isso todos muito tranquilos e avisados...Sobrinho Simões, Vitorino, Ferreira Leite, Balsemão, Barreto...Este Barreto que eu nunca esqueci, o da famosa Lei Agrária que devolveu em anos imediatos a 1974 as terras aos Latifundiários, para agora estarem abandonadas e sem qualquer utilidade, fala em austeridade e cortes de direitos sociais com a mesma facilidade com defendia o contrário na época...Sempre no mesmo sentido, NADA PARA O ZÉ.
Portugueses à mercê de quem muito bem calhar
ResponderEliminar1. Não há necessidade do Estado possuir negócios do tipo cafés (etc), porque é fácil a um privado quebrar uma cartelização.
Agora, em produtos de primeira necessidade - que implicam um investimento inicial de muitos milhões - só a CONCORRÊNCIA de empresas públicas é que permitirá combater eficazmente a cartelização [leia-se roubalheira] privada.
{um exemplo: veja-se a roubalheira do preço da gasolina}
2. Com a entrega de produtos de primeira de necessidade (ex: energia, água, etc) a privados... e com estes a venderem a quem muito bem calhar (e a pirarem-se para um outro lado qualquer)... os portugueses ficarão à mercê de quem muito bem calhar (chineses, família Eduardo dos Santos, etc...).
P.S.
Na minha opinião é óbvio: nas actividades mais estratégicas... é preferível o combate à corrupção (combate esse, que poderá vir a ser muito mais eficaz com o fim-da-cidadania-infantil [blog http://fimcidadaniainfantil.blogspot.com/.
)... do que... ficar à mercê de quem muito bem calhar.