terça-feira, 31 de janeiro de 2012
A extraordinária flacidez de um democrata
Via Shyznogud, a comparação (no Público) das reacções de Jean-Claude Juncker, Nicolas Sarkosy e Passos Coelho à proposta alemã de envio de um «comissário do orçamento» para a Grécia (que configura mais propriamente, sem eufemismos, a patente de um «governador colonial», como bem refere José Vítor Malheiros no seu artigo de hoje).
Esta demonstração da «fibra» que tece as convicções democratas de Passos Coelho corresponde razoavelmente (salvaguardadas as devidas diferenças e proporções), ao modo como a Igreja Católica continua a posicionar-se perante a questão da pena de morte: «o ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de comprovadas cabalmente a identidade e a responsabilidade de culpado, o recurso à pena de morte (...), [mas] se os meios incruentos bastarem (...) a autoridade deve limitar-se ao seu uso».
Governo alemão confirma: Berlim quer ocupar Atenas e talvez Lisboa
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O governo grego ficou em estado de choque com a ameaça da próxima ocupação. O ministro grego das Finanças pediu à Alemanha para não acordar fantasmas antigos – a Grécia esteve ocupada pelas tropas nazis durante a II Guerra.
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Segundo a Reuters, esta tentativa alemã de governar Atenas pode ser estendida a outros países, como Portugal. Uma fonte do governo alemão disse à agência que esta proposta não se destina apenas à Grécia, mas a outros países da zona euro em dificuldades que recebem ajuda financeira e não são capazes de atingir os objectivos que acordaram.
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Ontem, o deputado europeu Paulo Rangel admitiu que em Portugal todos os riscos são possíveis. “Quando vemos os sinais de alarme crescerem, o que eles documentam não é tanto a ideia de que Portugal pode entrar em bancarrota, é mais profundo do que isso. Se não houver uma solução sistémica para a zona euro, os países mais vulneráveis, entre os quais Portugal, vão sofrer e pode-se gerar uma situação de descontrolo”, disse. Rangel reagiu violentamente à “ideia de propôr a nomeação de um comissário para tratar das matérias orçamentais da Grécia”. “Seria o princípio do fim, e insustentável para a democracia europeia, a nomeação de um governador para um território do império, como fez Napoleão”, disse. Rangel defendeu o avanço para o federalismo: “Precisamos de caminhar para uma federação que trate os Estados em paridade, porque o que temos hoje é uma constituição aristocrática, de uns países com mais peso do que outros”.
http://www.ionline.pt/dinheiro/governo-alemao-confirma-berlim-quer-ocupar-atenas-talvez-lisboa
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ResponderEliminarEm tempos as versões espanhola e alemã deste ponto (o ponto 2267 do catecismo) eram radicalmente diferente das restantes versões e proibiam expressamen,te a pena de morte.
ResponderEliminar(ver, http://terradaalegria.blogspot.com/2005_06_08_terradaalegria_archive.html)
Entretanto é verdade que a versão espanhola se alinhou com as outras e a versão alemã do catecismo neste momento não existe (apenas existe na versão resumo do catecismo).
Esta não condenação da pena de morte em termos absolutos é objecto de intensas divergências ao mais alto nível no vaticano e em toda a Igreja Católica e estou certo que foi apenas o produto de um compromisso temporário com a Igreja Católica norte-americana (que se encontra profundamente errada mas que tem ainda bastante influência).
Todas as religiões têm elementos de verdade mas todas são ao mesmo tempo humanas, isto é, susceptíveis ao erro.
Recordo que mesmo a fé católica evoluiu imenso ao longo do tempo.
Não será preciso esperar muito tempo para que a condenação da pena de morte pela Igreja Católica seja absolutamente clara e peremptória.
Aliás a citação que é feitta no post dá uma ideia incorrecta desse ponto 2267.
ResponderEliminarPassoa transcrevê-lo na íntegra:
"2267. A doutrina tradicional da Igreja, desde que não haja a mínima dúvida acerca da identidade e da responsabilidade do culpado, não exclui o recurso à pena de morte, se for esta a única solução possível para defender eficazmente vidas humanas de um injusto agressor.
Contudo, se processos não sangrentos bastarem para defender e proteger do agressor a segurança das pessoas, a autoridade deve servir-se somente desses processos, porquanto correspondem melhor às condições concretas do bem comum e são mais consentâneos com a dignidade da pessoa humana.
Na verdade, nos nossos dias, devido às possibilidades de que dispõem os Estados para reprimir eficazmente o crime, tornando inofensivo quem o comete, sem com isso lhe retirar definitivamente a possibilidade de se redimir, os casos em que se torna absolutamente necessário suprimir o réu «são já muito raros, se não mesmo praticamente inexistentes»"
Caro sofrologista,
ResponderEliminarTive o cuidado de não abreviar o ponto 2267 do Catecismo da Igreja Católica em termos que distorcessem o seu sentido (torna-se aliás agora possível, com a transcrição integral que aqui deixou, verificar esse cuidado).
O problema é exactamente o que coloca, não existe uma condenação da pena de morte pela Igreja «absolutamente clara e peremptória» (qualquer «mas» ou «considerando» numa questão como esta deita tudo por terra). Daí a comparação com a reacção de Passos Coelho à proposta de nomeação de um comissário do orçamento para a Grécia.