sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Derrotas seguras da esquerda



A abstenção na votação do OE 2012, o orçamento do empobrecimento desigual, da desvalorização salarial e social, a antítese da social-democracia, indica que a nova direcção do PS já desistiu de dizer qualquer coisa de esquerda, qualquer coisa civilizada, qualquer coisa. Já desistiu do país. O definhamento é seguro.

Num outro plano, personalidades de esquerda subscreveram uma petição que, independentemente das intenções, aceita um enquadramento do debate que garante estruturalmente a derrota de qualquer projecto progressista. As convergências são mais do que nunca necessárias, mas o problema é a seguinte hipótese: “Os signatários reconhecem a necessidade de medidas de austeridade para o saneamento das finanças públicas e que a redução do défice se faça prioritariamente do lado da despesa.”

Quem aceita esta hipótese no actual contexto tem de aceitar, até tendo em conta a estrutura das despesas públicas, a austeridade em vigor e as suas desastrosas e inevitáveis consequências socioeconómicas: o desemprego de massas, em primeiro lugar, a erosão progressiva do Estado social, em segundo, a desvalorização salarial generalizada, em terceiro. Não há austeridade digna. Não há austeridade justa. E, obviamente, nem sequer há saneamento das finanças públicas com a recessão profunda que assim se engendra.

Post editado e também publicado no arrastão.

7 comentários:

  1. Assinei a tal petição. Também me pareceu defensiva em demasia, como dizer, de acordo com o sentir do povo, da inevitabilidade de tais medidas, mas mais buriladas, mais decentes, mis próprias à sociedade europeia.

    Confesso que me sinto impotente para transmitir aos meus colegas a farsa de tudo isto: Vai baixar a Euribor, temos emprego, podia ser pior (olhem os gregos).

    E depois, nada pode mudar radicalmente. Já vimos (olhe os gregos) que se pisamos em ramo verde, vêm aí os generais e a CIA, ou coisa pior.

    Só um trabalho de fundo, um ruído baixinho, deixando lá os mesmos por enquanto, pode ir alterando este modo de fazer política. O processo já começou e este blogue e outros podem fazer muita diferença.

    Nunca nos deixariam fazer algo em contrário. Já tenho alguns anos em cima e a História dá-me razão. "Diz qualquer coisa, D'Alema", é este o meu sentir (cobardia histórica).

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  2. Caro João
    Quanto ao D'Alema, de facto, quanto menos disser, melhor. Recordemos que, entre outras coisas, o tipo foi um campeão da "intervenção humanitária" no Kosovo... Em suma, é um dos maiores responsáveis pela escorregadela em massa "pelo cano abaixo" daquilo que na altura ainda sobrava da tal de "esquerda europeia"...
    Mas isso são conversas muito mais longas, e que há que ter não as centrando em alguém tão reles como o cosidetto.
    Quanto à petição, diz umas quantas coisas acertadas, mas sim, é super-defensiva e, no limite, é um caso claro de "Falso implica Verdadeiro" ser ela própria verdadeira.
    Sim, tem razão, o que é necessário discutir está a montante disto. Está desde logo na própria pretensa necessidade da "austeridade".
    E está por isso, obviamente, na necessidade imperiosa de sair da eurolândia e fazer o resto, que se sabe: default, desvalorização, apoio directo aos sectores exportadores, fiscalidade redistributiva igualitária, controlo dos movimentos de capitais, nacionalização da banca e das indústrias extractivas...
    ... ah, e já agora, saída da NATO, também. Pois claro!...

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  3. Quanto mais esta crise se arrasta e Portugal empobrece, mais me lembro de Cunhal(esse lunático) que estava contra a adesão. Afinal, a história haveria lhe dar razão e não ao Dr. Soares... Olhe que não ...olhe que não!!

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  4. Caro João Rodrigues,

    Posso nem sempre concordar integralmente com as suas análises mas gosto sempre de as ler. São lúcidas, frontais, inteligentes.

    Neste caso, contudo, concordo plenamente e, lá no meu canto, tenho defendido a mesma ideia.

    Entrámos num ciclo vicioso, que não tarda está numa rápida espiral recessiva - tal como se vê na Grécia.

    O caminho para se sair disto é outro, não é austeridade, desemprego, carga fiscal, fecho das empresas. Dou-lhe toda a razão.

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  5. João,
    Acho mal postares um vídeo do Ricardo Paes Mamede a falar em italiano.

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  6. Parece-me que o JR cai em certo radicalismo acerca do manifesto. Sou um dos promotores e quem me tem lido sabe que de forma alguma acho que a solução da crise se limita a medidas de austeridade.

    No entanto, 1. acho que é muito diferente aceitar a necessidade conjuntural e bem ponderada de alguma austeridade e aceitar o austeritarismo do programa governo-troika como política central. 2. A tal frase, que me fez ler duas vezes o manifesto, não me parece suficientemente grave para impedir o essencial, uma convergência que vai até Jorge Miranda, por exemplo, sem pagar o preço vulgar de essa desejável convergência resultar em textos de nada e coisa nenhuma.

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