quinta-feira, 3 de novembro de 2011
A alternativa
Nas televisões a pergunta tornou-se um ritual: mas há alternativa? Em causa está o unânime reconhecimento de que o governo impõe ao país uma política cruel em nome da vaga esperança de que um dia a economia voltará a crescer sem novo endividamento. E, à boleia da austeridade selvagem e inútil, o governo aproveita a oportunidade para reconfigurar a sociedade portuguesa segundo o modelo neoliberal anglo-saxónico sem que o país tenha voto na matéria. Pois bem, a minha resposta é “Sim, há alternativa”.
Quando digo que há alternativa refiro-me à estratégia de um governo determinado a defender o interesse nacional, face à UE e face ao bloco central dos negócios que recruta cúmplices entre os agentes do Estado. Um governo decidido a romper com os preceitos da doutrina neoliberal consagrados no Tratado de Lisboa. Um governo que não está à vista, é certo, mas um governo que os portugueses vão ter de eleger se quiserem mesmo evitar um empobrecimento geral por longas décadas.
Imaginemos então que emerge uma nova força política, um partido com características de movimento social. Esta força política defenderia no seu programa uma estratégia global de saída da crise e de desenvolvimento do país, uma alternativa que a esquerda tradicional, limitada às lutas de resistência, tem grande dificuldade em formular. Do seu programa constaria a decisão de romper com o memorando da troyka e a intenção de não respeitar as normas comunitárias que impeçam a execução da estratégia de desenvolvimento de que o país precisa. Recordo que esta política de desobediência não poderia ser travada porque os Tratados não previram qualquer procedimento de expulsão de um membro da zona euro.
Um governo liderado por este partido produziria uma convulsão na UE. O país perderia o financiamento comunitário, pelo que a primeira decisão a tomar seria a retirada do Banco de Portugal do sistema europeu de bancos centrais acompanhada da ordem de financiar o défice orçamental. Ao mesmo tempo, decretaria a nacionalização temporária dos bancos e o controlo estrito dos movimentos de capitais de curto prazo para travar a especulação. O serviço da dívida pública seria suspenso até se concluir uma auditoria. Mas o país permaneceria na zona euro.
É fácil imaginar o horror que causaria na Alemanha a criação de moeda fora da tutela do BCE. As tensões políticas, já bem visíveis, tornar-se-iam então insuportáveis. Cansada de tentar resolver a crise do euro sem gastar nem mais um cêntimo, a Alemanha, acompanhada por meia dúzia de países, acabaria por abandonar o euro e criar um “euro-marco”. Ficaria assim aberto o caminho à transformação da zona euro, agora “euro-sul”, designadamente a passagem do euro a uma moeda bancária comum destinada a pagamentos externos. De forma organizada, as moedas nacionais seriam reintroduzidas e ligadas à moeda comum por câmbios flexíveis. Uma desvalorização do novo escudo, a introdução de um IVA muito agravado para bens de consumo duradouro importados, a reposição dos rendimentos que foram retirados à função pública e uma reforma fiscal redistributiva dos rendimentos mais elevados, incluindo os do capital, para os cidadãos mais pobres, criariam as condições iniciais necessárias à retoma do crescimento no curto prazo.
Como se vê, a alternativa ao empobrecimento por décadas não é necessariamente a saída do euro, como também não é apenas a resistência popular. Dir-me-ão que a alternativa é um exercício de imaginação. Pois seja, mas então vejamos. Dentro de pouco tempo, a Itália concluirá que não pode pagar os juros do mercado. Qual é a fonte de financiamento que lhe resta para além do Banco de Itália?
(Hoje no jornal i)
Reparo, com alguma satisfação, que este blog começa, pouco a pouco, a diagnosticar os males que «esta finança» está a criar à Europa e ao mundo.
ResponderEliminarMas reintroduzir apenas o Escudo, mantendo a sua criação em mãos da Finança Internacional, não resolve nada.
O Euro pode ser mantido e criado directamente pelos Estados Nacionais (dentro de limites proporcionais aos PIB (para evitar inflação)), para que os Estados Nacionais não tenham de pagar juros pelo dinheiro que utilizam.
Em segundo lugar, os bancos comerciais privados poderiam continuar a existir, mas emprestando apenas dinheiro que possuíssem por via de capitais próprios e dos depósitos a prazo. De forma alguma, poderem continuar a criar dinheiro a partir de Depósitos à Ordem e a cobrar juros dessa invenção.
Abraço
É mesmo necessária a moderação de comentários?
ResponderEliminarÉ muito frustrante ver um comentário nosso, que exigiu algum esforço, evaporar-se no vazio...
Já para não dizer que inviabiliza qualquer debate na caixa de comentários.
Não seria mais fácil e justo apagar um comentário impróprio?
Boas...
ResponderEliminarisso ñ é semelhante ao que ocorria na idade média (na europa, pelo menos), em que havia moedas de ouro e de prata? Prata para pagamentos correntes, e ouro para pagamentos externos (ou coisa que o valha)?
Não é a primeira, nem a segunda vez que o mesmo assunto que escrevo por coincidência é aqui retratado, chega a ser por minutos...
ResponderEliminarHoje escrevi uma carta a um familiar sobre como deveria proteger as suas poupanças, a meio julgo ter encontrado uma maneira alternativa de Portugal sair da crise.
Depois li este post a julgo que ambas tem algumas falhas, mas...
Se forem utilizadas em simultâneo o resultado pode ser brilhante!
A minha carta será entregue domingo, voltarei a este post na próxima semana!
Até lá!
Não estou a ver de onde há-de nascer esse tal partido. BE e PCP de facto limitam-se à resistência. Ingenuamente parecem acreditar na revolução. Podemos é vir a ter violência, descontrolada, isso sim.
ResponderEliminarA China (RPC) teve (tem ainda?) durante muitos anos 2 moedas:
ResponderEliminarYuan-Renmimbi (moeda do povo) e Yuan-FEC (Foreign Exchange Currency, obrigatório para não chineses);
e vários sistemas de preços (para nacionais, com reduções para alguns profissionais, estudantes, expatriados/HK/Taiwan, ...; e outro -a preços ocidentais- para Estrangeiros, que eram obrigados a pagar em FECs e a só utilizar certas lojas, hoteis e serviços ...).
Ou seja, também a nível monetário, a RPChina impôs um forte protecionismo.
Xa2
Bom post. Uma verdadeira lufada de ar fresco quase diria no pensamento politico.
ResponderEliminarDiogo:
A moderacao esta ca, e muito bem, para prevenir (que e sempre melhor que curar) disparates. Alias, exdruxula era a situacao anterior de um blogue que pugna pela inversao da ideologia actual de desregulacao (ou auto-regulacao como muito lhe gostam de chamar) e depois deixar os comentarios descenderem aos confins de Hades sem controlo algum - como aqui aconteceu.
Jose Sousa:
E dificil imaginar? Pois e. Mas a funcao deste blog e de quem concorda com o que aqui se escreve e criar e manter estas ideias vivas com argumentos cogentes e racionais e dados crediveis ate que a improbabilidade politica do presente se transforme na inevitabilidade politica do futuro.
“A verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas em livrar-se das antigas”
ResponderEliminarRetenho as três questões centrais da ideia: desobediência com consequente perda de financiamento (a Grécia confronta-se hoje com esta ameaça); nacionalização temporária dos bancos com suspensão do serviço de dívida (auditoria já devia ter sido ontem); cisão do euro (vários cenários são possíveis).
A aderência das pessoas a mais um partido, além dos já existentes, e que ainda iria ser formado, reveste-se de incertezas. Considero, ao contrário, que terá que haver uma imensa maioria de pessoas – movimento transversal, que desperte e que acabe por aglutinar os partidos que aí se revejam. Penso que a greve geral, agendada para 24 de Novembro pode ser um bom indicador. A não ser que esteja tudo anestesiado ou feliz…
É uma opinião de quem nada percebe de Macroeconomia e de como os mercados mundiais hoje funcionam.
ResponderEliminarO Primeiro Ministro Grego ,ontem ,queria um referendo ,pois sabia que em alternativa teria um golpe dos militares. Até hoje já foram afastados mais de 60 altas patentes.
Em Itália ,começou hoje ,a intervenção da Troika.
Se Portugal ,independemente do partido que está no Governo,não aplicasse estas medidas ,o que é que acontecia??
Havia dinheiro para pagar FP? Que acontecia aos depósitos em bancos?
Um excelente artigo que fala da Islândia e, mal comparando, ao que a Argentina pôde fazer...
ResponderEliminarhttp://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/enquanto-isso-na-pequena-islandia.html
Aguardemos luz aos nossos "líderes"!!
Ora, ora, isto é o que pensa o Francisco Louçã, mas como tem o estatuto que tem não o pode dizer com esta clareza. A única alternativa é ganhar tempo até que o país produza batatas e capture peixes e deixe de importar 80% do que consome. Tudo o resto são malabarismos...
ResponderEliminarVamos lá a ver se percebi bem. O BP sai do BCE e o governo manda-lhe financiar o défice. Emitindo moeda, certo? E que moeda? Euros, escudos ou dolares do Zimbabwe? E em que quantidade? Eu sugiro já 7000 biliões de triliões, já que é para fazer dinheiro que se faça em quantidade que se veja para nunca mais sermos pobres! Vamos ficar todos trilionários. E se os gregos que são muito espertos se lembram disto antes de nós o que é que nos acontece? Parece-me que esta idéia fabulosa merece um prémio trilionário.
ResponderEliminarFica a faltar resolver o problema do "Monstro" de inflação...
ResponderEliminarVamos por partes:
1º Portugal imprime 10 Biliões de novos escudos e 200 mil milhões de Euros à revelia do BCE. É pouco menos que o banco de Inglaterra imprimiu desde que a crise teve inicio…
2º Portugal informa Merkozy que o plano de ajustamento de 3 anos não vai ser cumprido, temos de reduzir a despesa? Claro! Mas em 6 anos! em 3, é suicídio!
3º Portugal informa Merkozy que não pretende utilizar os 200 mil milhões de Euros que acabou de imprimir desde que a Troika forneça liquidez em Euros à economia nacional (se necessário até 2015 ou 2016), que não se oponha a que Portugal saia do euro com o rácio 200,482.
4º Informamos os EUA que quem não é nosso amigo…para manter as Lajes alem de terem de cumprir o que anteriormente foi escrito aqui, tem igualmente de apoiar o esforço de Portugal na transformação de toda a divida pública de Dólares para novos escudos! E dizer alto e em bom som que acham muito bem!
5º Uma semana antes de falar com MERKOZY informamos a Grécia das nossas intenções e se eles estiverem de acordo comessem imediatamente a imprimir Dracmas, que se necessitarem de Euros Portugal tem Fresquinhos e pode emprestar caso a Europa não aceite a nossa proposta, podendo depois os gregos copiar Portugal e imprimir Euros.
6º Um dia antes de falar com Mercoky, informar o Brasil pedindo apoio internacional, se existe pais neste mundo que sabe perfeitamente o que é ser ENCAVADO pelo FMI esse país é o Brasil, e com o apoio Brasileiro, nem os Chineses se lembram de levantar a voz, ou perdem grande parte da matéria-prima! Vai uma ajudinha país IRMÃO? Não estamos a pedir dinheiro só apoio!
7º Portugal volta a ponderar a hipótese REMOTA de deter divida publica em Dólares quando os CDS forem extintos e os mercados financeiros estiverem regulados mundialmente!
8º Quando Portugal falar com Merkozy a resposta tem de ser dada em 48 Horas a não existência de resposta ou uma resposta negativa leva a que Portugal inunde o mercado com Euros fresquinhos e nesse caso as rotativas só param de funcionar quando a Alemanha e restantes países nórdicos saírem do euro!
9º Portugal não pode competir mundialmente com uma moeda nacional que é a mais forte do mundo e que vale mais 40% que o Dólar, durante 25 anos o norte da Europa gostou da festa oferecendo tostões para acabarmos com Agricultura; Pescas e Afins e agora Portugal é acusado de não ser produtivo???
10º A moeda Portuguesa tem de valer no máximo metade do Dolar, no Máximo e ou isso é conseguido com o apoio europeu e em escudos ou é conseguido inundando o mercado com Euros!
TIC…TAC… TIC…TAC… TIC…TAC… TIC…TAC… TIC…TAC… TIC…TAC… TIC…TAC… TIC…TAC…
Tem 48 Horas para dar uma resposta!
http://oportugalbipolar.blogspot.com/2011/11/existem-alternativas-para-portugal.html
Anónimo disse...
ResponderEliminarVamos lá a ver se percebi bem. O BP sai do BCE e o governo manda-lhe financiar o défice. Emitindo moeda, certo? E que moeda? Euros, escudos ou dolares do Zimbabwe? E em que quantidade? Eu sugiro já 7000 biliões de triliões, já que é para fazer dinheiro que se faça em quantidade que se veja para nunca mais sermos pobres! Vamos ficar todos trilionários. E se os gregos que são muito espertos se lembram disto antes de nós o que é que nos acontece? Parece-me que esta idéia fabulosa merece um prémio trilionário.
6 de Novembro de 2011 23:00