domingo, 30 de outubro de 2011

Tempo precioso


“[A] manutenção da prosperidade é extremamente difícil no mundo moderno e é tão fácil perder tempo precioso”. Assim termina a carta de Keynes a Roosevelt, escrita em 1938 e a que o Nuno Teles já fez referência: a crise não é uma oportunidade para nada, mas sim um imenso desperdício a superar o mais rapidamente possível por políticas de estímulo. O objectivo, a economia moral desta tradição intelectual, é criar as condições económicas para uma sociedade civilizada, ou seja, para uma sociedade que combine pleno emprego, justiça social e amplas liberdades, o que também depende da adequada domesticação de vários interesses económicos e da transformação dos especuladores nas tais bolhas numa torrente de investimento empresarial produtivo, substituindo o padrão pernicioso em que o investimento produtivo se torna em bolhas na torrente especulativa. Isto só pode ser feitos com taxas e controlos sobre os capitais financeiros desestabilizadores, tal como defendia Keynes.

Os líderes europeus, grandes especialistas em perder tempo precioso, poderiam perder cinco minutos a ler esta carta e mais cinco a ler um dos últimos artigos de “Lord” Robert Skidelsky onde este economista político mais ou menos conservador ataca a inanidade de uma austeridade que tornará a prosperidade impossível, lembrando aos credores que a destruição dos devedores é a ruína de todos e assinalando, a devedores e a credores, que temos de nos afastar de forma coordenada das “costas selvagens da globalização”. Temos antes de nos aproximar de uma desglobalização que refragmente regionalmente a economia global e a torne mais sustentável. É claro que as instituições europeias, que enquadram as decisões políticas que têm sido tomadas, foram concebidas contra todas as ideias expressas por Keynes e pelos seus mais relevantes seguidores, facilitando o que hoje cada vez mais reconhecem como uma grande perda de tempo, já que está bloqueada a acção política coordenada de investimento na escala relevante, que é, em primeiro lugar, a escala onde está a soberania monetária.

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