quarta-feira, 25 de maio de 2011
Vender a República
Empresas que o Estado tem de privatizar deram 237 milhões em dividendos. As privatizações já estavam planeadas antes da intervenção externa. Os 5,5 mil milhões de receitas previstas (um pouco abaixo da estimativa anterior do governo, que estava nos 6 mil milhões, para o mesmo universo de empresas) contribuirão para uma redução insignificante do peso da dívida pública no PIB. Quem é que à esquerda está disposto a pactuar com esta miopia?
É que nada justifica a destruição, talvez irreversível, de qualquer possibilidade de um Estado estratego capaz de garantir o interesse público em sectores sensíveis da economia. Sabe-se que a redução sustentável da dívida só pode vir de um novo modelo de crescimento que prescinda de receitas neoliberais fracassadas. A experiência internacional vem mostrando que o controlo público de sectores estratégicos da economia, nomeadamente no campo das infra-estruturas e dos serviços de rede – da rede eléctrica aos serviços postais –, indispensáveis para a coesão social e territorial de uma comunidade política digna desse nome, é mais eficiente e eficaz do que a mera e sempre ligeira regulação de actores privados.
Estes últimos estão mais interessados na captura de rendas, nem que para isso seja preciso sacrificar o interesse público, enganando reguladores e tendo muitos ex-ministros nas suas folhas de pagamentos. O resto é conhecido de quem estudou o funcionamento da grande empresa no regime neoliberal que erodiu os contrapoderes públicos e sindicais: uma perversa cultura de salários milionários e de bónus atribuídos por gestores de empresas monopolistas ou oligopolistas a si mesmos, perante a habitual cumplicidade dos accionistas. Uma cultura de enriquecimento que corrói a ética de serviço público, indispensável quando está em causa uma parte da base material da comunidade.
Estamos no estádio mais predador de um ciclo de privatizações iniciado há pouco mais de vinte anos com a privatização das cervejas e que pode bem acabar na água. Um ciclo que gerou um conjunto de grupos económicos viciados na captura de sectores onde a concorrência não é possível ou desejável, viciados na expropriação financeira de cidadãos e de empresas produtivas. Este foi e é o modelo da troika interna. Falhou.
>Falhou.
ResponderEliminarFalhou?... para quem? Tenho a certeza que para uns resultou até muito bem.
É claro que temos que privatizar as empresas que dão lucro! Senão como teríamos dinheiro para nacionalizar as que dão prejuízo?
E mais! O "amigo" só está a ver o problema das privatizações pelo lado do lucro que se deixa de ganhar. Mas, e então, o país, não é muito mais importante? Já viu quantos camaradas deixarão de fazer greves se essas empresas deixarem e muito bem de ser públicas? Acha bem a CP com os prejuízos que tem e o pessoal a ganhar balúrdios e a fazer greves? Há anos a esta parte que a Soflusa vem fazendo greves e mais greves deixando apeadas as pessoas querem ir trabalhar. Pois privatizem-nas e acabam-se os chulos dos Carvalhos da Silva.
ResponderEliminar"e mais?"
ResponderEliminar(estava a ser irónico, para os mais distraídos)
A conversa do anónimo faria mais sentido noutra altura. Todos os tempos têm uma narrativa principal, e a de hoje é outra, que é como quem diz, os problemas realmente grandes são neste momento outros.
Em cada momento temos que nos focar no sítio onde estão os maiores ladrões, e os mais perigosos. Hoje em dia esses são os "senhores sérios e respeitáveis" que falam de disciplina e trabalho mas que se enchem enquanto nos arruínam a todos. Face a isto estou de momento a marimbar-me para os abusos dos empregados da CP - não nos preocupamos com a ferrugem do barco quando temos um iceberg à frente.
Portugal caiu na armadilha da globalização hiperliberal!
ResponderEliminarwww.portugalnonevoeiro.blogspot.com
Estes "anónimos" näo säo mais que os grunhos que se auto-atribuem bónus milionários. E depois chamam "chulo" é ao Carvalho da Silva!
ResponderEliminarMas o pessoal gosta deser enganado, e defende os verdadeiros chulos (os gestores monopolistas) contra os trabalhadores que a única maneira que têm de reivindicar é a greve!
Se os trabalhadores "normais" da CP ganham esses "balúrdios", porque é que os gestores näo väo conduzir locomotivas ou picar bilhetes? Pois é, o que faz a CP dar prejuízo é o ordenado dos seus gestores de topo, que säo cargos políticos! E häo 3 gestores por cada 2 trabalhadores "normais"!!!