domingo, 29 de maio de 2011

Dislexia (não é bem esse o lado esquerdo)

Paulo Pedroso publicou há dias um notável exemplo de como pessoas inteligentes, com inegáveis preocupações sociais e que se reclamam de esquerda conseguem estar completamente erradas em relação ao diagnóstico da situação actual, compactuando na prática com a selvagem ofensiva em curso contra os salários directos e indirectos e, por essa via, contra os trabalhadores e as classes populares.

Afirma Pedroso que “se reduzissemos a um só indicador o problema da degradação da competitividade portuguesa bem poderiamos escolher os custos unitários do trabalho”. Alegadamente, é o facto de terem aumentado demasiado em Portugal nos últimos 15 anos (nomeadamente, mais do que na Alemanha) que explica o declínio da competitividade do nosso país. Conclui que “a esquerda não pode enfiar a cabeça na areia”, o que neste caso significa reconhecer a necessidade de reduzir os custos unitários do trabalho de modo a, ipso facto, aumentar a competitividade. Segue-se uma enumeração de formas possíveis de o fazer, recaindo a sugestão de Pedroso sobre o aumento em meia hora do tempo diário de trabalho, como alternativa à descida da Taxa Social Única (pois esta provocará a descapitalização da Segurança Social). Espero estar a representar fielmente o essencial do argumento, mas os leitores são remetidos para a exposição original aqui.

Mariana Mortágua já respondeu – e bem – tanto nos comentários ao post como aqui, chamando a atenção para, entre outros, três aspectos fundamentais que a análise de Pedroso não tem em conta:

1) que a evolução dos custos unitários do trabalho, enquanto agregado, incorpora a inflação, pelo que países com inflação superior tenderão a registar, com tudo o resto igual, um maior crescimento deste indicador (sendo que a evolução real, ou deflaccionada, da remuneração do trabalho em Portugal nos últimos 15 anos foi mais ou menos idêntica à da Alemanha);

2) que as principais causas da falta de competividade da economia portuguesa são outras (padrão de especialização, adesão a um euro sobrevalorizado, preço da energia, etc.); e

3) que a própria comparação com a remuneração dos trabalhadores alemães é perversa, pois estes têm sido alvo de uma compressão salarial de grandes proporções, pelo que procurar jogar ao “quem-corta-mais salários” constitui uma desastrosa corrida para o fundo.

Tudo isto é verdade e, a meu ver, arruma desde logo a discussão. Porém, interessa-me chamar sobretudo a atenção para a premissa de que parte Pedroso (e de que tem em geral partido o debate em Portugal, de forma errada e errónea): que a perda de competitividade do nosso país decorre do aumento dos custos unitários do trabalho. É que, se atentarmos na tabela em baixo (retirada deste texto, que, aliás o próprio Pedroso cita no seu post), verificamos que, tanto nos últimos 15 anos como nos últimos 30, os custos unitários do capital (medidos exactamente da mesma maneira) aumentaram mais do que os custos unitários do trabalho. Aliás, como é visível na tabela, o mesmo se passou em quase todos os países europeus.

(clique na imagem para aumentar)

Ora, se é assim, então por que é que o problema de competitividade reside na remuneração do trabalho e não na remuneração do capital? A única interpretação lícita destes dados é que o aumento da remuneração do capital em Portugal tem prejudicado mais a competividade externa do que a evolução dos salários, pelo que, a bem da justiça social, é sobre o capital que deverão recair principalmente os sacrifícios a fim de aumentar a competitividade. Mais do que o trabalho, é o capital que tem vivido acima das suas possibilidades. Parafraseando Cavaco, é o factor capital que precisa de ajustamento.

Pedroso e a generalidade dos comentadores parecem acreditar, ou querer fazer-nos acreditar, que os preços são formados através da adição de um mark-up fixo aos custos salariais e que estes seriam a única ou principal variável que influencia os preços. Isso não é verdade. O que está em causa quando falamos da evolução dos custos do trabalho é, em grande medida, a questão da repartição do rendimento nacional entre trabalho e capital – no contexto da qual o capital, como se vê claramente em cima, tem ganho sistematicamente terreno no contexto daquele que é, nunca é demais recordar, o segundo país mais desigual da Europa.

Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. Lamento informar Paulo Pedroso que andar à procura de formas ‘menos más’ de comprimir a parte do trabalho no rendimento nacional não é uma posição de esquerda. Aceitar a premissa que o problema de competitividade português reside na evolução do custo do trabalho não é uma posição de esquerda. E aceitar que a maior parte dos sacrifícios seja imposta, de forma directa ou indirecta, aos trabalhadores e classes populares não é uma posição de esquerda. Ou então, que de uma tal esquerda nos vejamos nós livres.

15 comentários:

  1. é de facto linda a exposição

    mas as empresas que metem 20 a 30 pessoas por dia no desemprego perpétuo devido a falta de crédito
    começarão a faltar em breve

    e um país de funcionários e de turistas só vai a algum lado se for a Jamaica e 90% da população não se importar de viver na miséria

    há apenas duas escolhas

    votar no Diktat ou votar na miséria

    votar num pessoal em quem ninguém confia

    ou votar em expectativas vindas do nevoeiro

    não votar em soluções é emigrar

    Dispepsia....escreve-se assim

    cê é disléxico mesmo

    ResponderEliminar
  2. o país faz-me lembrar o vale do Ave nos anos 80

    ou a grande fuga da realidade dos anos 70

    cada um pensa que é uma ilha e está protegido dos desastres dos outros

    infelizmente nenhum dos imbecis laranjas ou vermelhos

    gregos ou menos gregos irá manter o mesmo nível de vida

    a única pessoa que se apercebeu da fase terminal de esquizofrenia paranóide

    em que o país se encontra
    foi um suicida que nem sequer era economista era filósofo e reduziu assi em 0,5% os custos de funcionamento do seu instituto

    temporariamente num ano já o devem ter substituido

    ResponderEliminar
  3. Não sei se as suas contas estão certas nem tão pouco isso me interessa. Mas posso-lhe dizer uma e isso é certo chame-me os nomes que entender. Em Portugal trabalha-se muito pouco. Muito pouco mesmo. Trabalhei cerca de 48 anos, mesmo depois de reformado fui para outra empresa. E por onde passei, 5 empresas, verifiquei que a maior parte do pessoal se esforça por num dia de trabalho perder, em conversas da treta, em dispensas, em idas ao médicos, em dias de período, em idas ao banco receber o vencimento (mentirosos), em estadas na casa de banho, em chegadas atrazadas ao emprego, em estar ao computador a jogar às cartas,em ler o jornal no serviço, atender chamadas particulares, etc., etc., etc. Coitadinhos de muitos "trabaladores" que conheci. De trabalhadores só tinham o nome.

    ResponderEliminar
  4. Caros,
    Com certeza que há muita gente desmotivada e preguiçosa no mundo. Com certeza que há muita gente, nos sectores público e privado, que procura trabalhar o menos possível. Agora, digo-vos também outra coisa: tudo, mas absolutamente tudo o que é feito e criado no mundo que nos rodeia é-o por trabalhadores.
    Cumprimentos.
    Alexandre Abreu

    ResponderEliminar
  5. João Carlos Graça30 de maio de 2011 às 13:35

    "Capital", ao fim e ao cabo, não é senão "trabalho cristalizado". E, quando o domínio tecnológico dos seres humanos sobre as forças naturais se tornou aquilo que é, o que admira mesmo (e por vezes deprime) é que o "direito à preguiça" ainda não tivesse sido constitucionalizado, aliás tal como em tempos o foram o "direito ao trabalho" e o "direito ao subsídio de desemprego"...
    São direitos contraditórios entre si? De certa forma, sim... mas é para isso precisamente que há juristas, não? (Também temos de lhes garantir o emprego, a esses patifes...)
    Ah, mas vejo que divago... As partes do "trabalho vivo" e do "trabalho cristalizado" (ou do "trabalho morto"), eis a questão: "suum cuique tribuere".
    A sociedade, escreveu Auguste Comte, é composta tanto por mortos como por vivos. Creio que é verdade. Mas isso não significa que as gerações dos viventes devam viver/tenham de viver "em função" dos "departed" (para roubar a palavra ao título filme do Scorcese)... ou "daquilo" que já tenha vampirizado em tempos os tais "departed", para depois continuar a vampirizar os viventes, reclamando-se agora do estatuto de "representação" dos "departed"...
    Bom, está visto que hoje estou algures entre Marx e Murnau...
    No fim do dia (como dizem os outros), é tudo sempre uma história de diálogo das sociedades "tais quais" com as criaturas ("materiais" ou imaginárias) das mesmas sociedades... "Man is man made"...
    O problema, em suma, tanto pode ser o crescimento excessivo dos salários gregos como o crescimento excessivo dos "rendimentos do capital" alemães, claro...
    Tudo depende "da raiva e da alegria, da bala e da pontaria", etc.
    Obrigado por no-lo lembrar, Alexandre!

    ResponderEliminar
  6. Trabalhar mais meia hora para compensar a TSU. Curioso, no privado , onde tabalho,as hora a mais, 1 a 3 horas, nao são remuneradas. Portanto não vejo onde aumenta a competitividade. Ao senhor que diz que os portugueses são uns preguiçosos, seria melhor apelida-los de desmotivados. Eu trabalho desde a primeira hora ate a final. Nao ando conversas da treta. Vejo o patrao e outros a jogar cartas, na internet nos joguinhos e downloads . E sabe o que me dizem? Nao sou sociavel. Os outros " coçam " e recebem balurdios, carro, cartao de gasoleo, jantares, telemovel. Acha que os portugueses são preguiçosos?? Eu acho que é desmotivação. Como neste momento eu me sinto. Desmotivada. TRabalho e não tenho nada. PEna que queiram fazer dos trabalhadores portugueses uma porcaria. Se atendermos que lá fora somos considerados os melhores , onde esta o problema?? No salario, na motivção, nos meios para trabalhar. Aqui temos patroes que nao se queixam do custo da electricidade, agua, gasolina, na compra da materia prima, na atitude colonialista de como tratam os trabalhadores, sem autonomia nem meios, nem formação. " factura" serviço sem factura , la se vai um dia de trabalho. Ha anos que ouço sempre o mesmo dicurso, os salarios têm de baixar. Atacar o real problema ninguem fala, ninguem apresenta medidas. Nem contra a corrupção nem contra a economia paralela.

    ResponderEliminar
  7. À D. lurdes que ficou muito ofendida por eu dizer que em Portugal há um elevado número de preguiçosos, mandriões e oportunistas. Não se ofenda. Também há exceções. E naturalmente muitos inaptos sobem por serem lambe botas, terem cunhas, serem amigos do chefe, etc., etc. Um mal não elimina o outro.
    Não sei se lá fora trabalham mais mas talvez o façam obrigados a tal e para poderem competir. Mas o que digo não é de agora tem mais de 50 anos que venho observando o rendimento dos portugueses. E às vezes a culpa é das chefias e até dos legisladores. Vou-lhe contar 3 casos verídicos. Na empresa havia uma cláusula permitindo às mulheres com problemas no período estarem 2 dias ausentes. havia uma senhora que à 6ª. feira dizia que não iria na 2ª. e na 3ª. por causa do período. Como ela sabia com tanta antecedência. E a cláusula era só para quem passava mal entenda-se. Outras vezes juntava os 2 últimos dias dum mês com os 2 primeiros do mês seguinte e estava 4 dias sem ir ao trabalho. Outro caso: numa prática já antiga havia numa empresa a ida ao banco 1 vez por mês para levantar o ordenado. Mesmo com o multibanco essa prática estava no A.C.T. A administração quis reduzir esse tempo de ida ao banco para 3 horas mensais. De imediato caíram na tesouraria cerca de 700 pedidos para receber o ordenado à boca do cofre. A alteração ficou sem efeito.
    Um trabalhador indo de carro para o emprego viu um colega na paragem do autocarro. Havia horário flexível isto é conforme a hora de entrada assim se saía. Tinha que se fazer 7h 30 m. Quando ia picar o ponto esse trabalhador verificou que o colega que estava na paragem do autocarro estava também a picar o ponto. Como era possível se ele ficou na paragem? Era possível porque se descobriu que uns marcavam o ponto de outros que ainda estavam na caminha. Percebe minha senhora? E deve compreender que em 48 anos de trabalho eu tenha imensas histórias do género para contar. Por isso mantenho tudo o que escrevi.
    E não tenha problemas porque é verdade.

    ResponderEliminar
  8. Caro Alexandre Abreu, entendi a sua exposição mas gostava de saber o que Portugal pode fazer para reduzir os custos unitários do capital.

    Sérgio Costa

    ResponderEliminar
  9. Caro Alexandre Abreu,

    A comparação de valores nominais entre 2007 e 1980 não permite tirar conclusões directas pois seria preciso ter em conta as variações cambiais ao longo desse período, problema que já não afecta de modo significativo a evolução entre 1995 e 2007. Olhando para os dados deste período o que ressalta é que enquanto que o "custo do capital" (pessoalmente preferia utilizar a rentabilidade do capital) aumentou de forma aproximada em todos os países o valor mais baixo oscila entre 1,24 na Alemanha e 1,85 na Irlanda (se excluirmos a Irlanda e a Espanha países afectados por bolha a variação é ainda menor pois o valor seguinte é de apenas 1,58) - o que atendendo às dificuldades de medir o stock de capital parece consistente com a hipótese de elevada mobilidade do capital. Enquanto que o "custo do trabalho" evoluiu de forma mais díspar, aumentando claramente mais nos países periféricos Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha.

    O facto de em geral ULC ter aumentado menos que o UKC implica de facto uma tendência para uma menor parcela do rendimento para o factor trabalho. Mas isso apenas reflecte o facto do custo relativo dos factores ter evoluido de forma favorável ao capital. E não vejo como invalide a conclusão de que o aumento do ULC implicar uma redução de compettitividade, a não ser que se esteja a dizer que a competitividade poderia ter aumentado (ou não se ter reduzido) caso isso tivesse sido acomodado por uma menor rentabilidade do capital. O problema é que quem investe tende a investir onde obtem maior rentabilidade do capital.

    ResponderEliminar
  10. ao sr.Anonimo, relativamente ao periodo conheço casos. Levantar o ordenado, como deve saber há muitas pessoas que recebem por cheque e precisam de dinheiro e tem uma hora por mes , cct, para ir ao banco e levantar. Ao fim de semana os bancos estao fechados. E o depositar o cheque leva a que demore cerca de tres dias a estar disponivel em conta, bancos diferentes.Picar o ponto , tambem conheço casos. Mas sabe de quem é a culpa? Dos patroes que permitem tais atitudes.Ainda lhe digo mais incentivam. Ha pessoas que querem trabalhar mas são empurradas pelo sistema a não trabalhar muito. é pratica corrente. Tal como sair a horas. Parece mal. Sei que há pessoas que so começam a trabalhar quando falta 2 horas para sair e ate fazem mais umas horitas extras para mostrar que trabalham muito , Ficam bem vistos pela altas " patentes" . Agora se houver pessoas que trabalham e saem a horas são mal vistas. O problema não é a quantidade de horas que se trabalha ms sim a qualidade com que se trabalha. Um dos problemas da falta de produtividade. Os bens transaccionaveis, não temos muitos, Outro problema da falta de produtividade, entre outras. Apostar na tecnologia, na formação, empresas mais organizadas e menos roubalheira por parte do patronato. Nem todos somos preguiçosos, mas dá vontade de o ser quando vemos os outros a se-lo e a serem motivados para isso.

    ResponderEliminar
  11. Caro Sérgio Costa,
    A ideia fundamental do artigo do Filipe e Kumar para o qual se remete no post é que os ULC e UKC, medidos ao nível agregado da economia como um todo, representam basicamente a repartição funcional do rendimento entre salários e lucros (abstraindo agora das rendas, juros, etc para simplificar, pois estes são uma espécie de repartição secundária dos "lucros", entendidos como a mais-valia ou a parte que não advém aos trabalhadores).
    Nesse sentido, a evolução diferencial dos ULC e UKC constitui um jogo de soma nula (uns aumentam quando os outros diminuem) - embora, claro, tanto a inflação como os ganhos de produtividade permitam que ambos aumentem (é em geral a inflação que explica, na tabela, os aumentos mais elevados tanto dos ULC como dos UKC nos países da periferia europeia). Tendo em conta que se trata de um jogo de soma nula e abstraindo dos dois efeitos atrás referidos (inflação e ganhos de competitividade) a fim de simplificar a análise, reduzir os custos unitários do capital faz-se, portanto, reforçando a capacidade negocial dos trabalhadores de modo a que ganhem mais por unidade de trabalho: directamente, através do código de trabalho, aumento do salário mínimo, legislação sobre horas extraordinárias, etc, e indirectamente através da adopção de uma política económica anti-cíclica, mecanismos de apoio social mais eficazes, subsídio de desemprego mais acessível e menos precário, etc. Basicamente, tudo o que precarize a situação dos trabalhadores e os obrigue a aceitar trabalhos pior remunerados, tenderá a aumentar os UKC e reduzir os ULC; tudo o que permita aos trabalhadores ter mais segurança no trabalho e menos necessidade de aceitar condições de trabalho desvantajosas e salários miseráveis, tenderá a aumentar os ULC e reduzir os UKC. De onde a discussão actual, com o ênfase na redução dos ULC, ser tão perversa - o que se propõe (nomeadamente, no memorando da troika) é um conjunto de medidas com efeitos distributivos claramente desfavoráveis aos trabalhadores e favoráveis ao capital, escondidas sob o manto diáfano da promoção da competitividade... Cumprimentos.

    1 de Junho de 2011 13:13

    ResponderEliminar
  12. Caro JP Santos,

    Se me permite e com toda a amizade, penso que os seus comentários e objecções são inteligentes, mas pedecem de uma visão formalista do que é o capital. Não estamos aqui a falar de capital financeiro hiper-móvel em busca dos mais ínfimos diferenciais de rendibilidade - estamos a falar, isso sim, da parte dos lucros e juros no rendimento nacional - reflectindo um capital social total bem mais ancorado a uma realidade social concreta.
    O essencial do seu argumento pode ser re-escrito através de duas ideias principais (espero não estar a trair o seu pensamento): i) que o capital é muito mais móvel do que o trabalho; e ii) que por isso qualquer tentativa de limitar a rendibilidde do capital está inevitavelmente destinada ao fracasso, pois este fugirá imediatamente do país à mais pequena tentativa de o constranger. Em parte, (i) é verdade - mas apenas até certo ponto. É que a rendibilidade do capital financeiro apenas redistribui o valor que tem de ser criado na produção - e essa requer contextos favoráveis concretos. Por esse motivo, (ii) não é verdade. A Sonae não fecha os hipermercados nem sai de Portugal se o IRC aumentar 2% ou se o salário mínimo passar para 600€.
    Obrigado, cumprimentos e até breve.

    ResponderEliminar
  13. Caro Alexandre Abreu,

    Muito obrigao, pela resposta. Devo dizer que concordo essencialmente com o seu argumento. Vários estudos (e.g. sobre os efeitos da fiscalidade) indicam que a capacidade para atrair (e reter) investimento depende do sector de actividade sendo particularmente importante nos sectores financeiros e de serviços intra-grupo e muito pouco importante nas utilities, comércio a retalho e imobiliário. A questão relevante para Portugal é que num contexto de promoção das exportações (e substituição de importações) assume particular relevância o que sucede na indústria transformadora onde esses impacto é relativamente importante. Pelo que pergunto se a redução dos custos salariais não será (pelo menos no curto prazo) um factor (embora indesejado) indispensável para atrair (e reter) investimento nestes sectores.

    ResponderEliminar
  14. Caro anónimo,

    Ao vermos que os países mais produtivos da Europa têm um enorme peso de portugueses na sua força de trabalho, só mostra que o problema do trabalho é da gestão do trabalho e inépcia dos orgãos dirigentes. Histórias há muitas, mas a verdade é que vejo que as pessoas trabalham cada vez mais horas, é rara a pessoa que sai a horas e o problema é que é trabalhar para produzir pouco!! Ou seja, é um problema de organização, e os trabalhadores já não saõ responsáveis por isso.

    ResponderEliminar
  15. Grande Alex,

    Parece-me que há um erro na tua análise, senão pf corrige-me_


    1) "que a evolução dos custos unitários do trabalho, enquanto agregado, incorpora a inflação"

    A definição de custos unitários anula o efeito de inflação:

    (total compensation of employees (D1) /total employees in persons) / (GDP in market price total employment in persons)

    Se ambos os efeitos estão em valoes correntes, o efeito de inflação anula-se. Claro que poderemos passar horas a ver se a forma de medir a inflação é pelos deflatores ou pelos IPCs; ou mesmo se a inflação dos trabalhadores é a mesma do PIB.

    Mas tudo isto é assessório... A disparidade dos números não revela outra alternativa ara a interpertação.


    resumindo, não é verdade que países com maior inflação, tenderão a registar, com tudo o resto igual, um maior crescimento deste indicador.

    Já agora, com que deflator se deflaciona os custos unitários do trabalho?


    2) Os CUT não são a causa de nada, mas um indicador que mede a consequência.

    Na prática a definição dos CTUP é uma medida de custo e uma medida de produtividade. Traduz assim numa medida de competitividade,

    Mas haverá tantas medidas, quantos os inputs e custos usados!

    Se a produtividade não sobe, e os outros custos não podem ser mexidos no curto prazo, sobra apenas os salários.

    Claro que poderiamos pensar em reduzir os custos de contexto, ou custos de capital ou mesmo em aumentar a produtividade. Mas no curto prazo, infelizmente, só existe esta receita amarga.

    O ponto 2 é assim irrelevante já que é uma afirmação inconsequente.

    3) Não é desastroso se os outros custos também estiverem a diminuir. Em parte na alemanha isso verificou-se.

    Ab
    FCA

    ResponderEliminar