Eu podia chegar aqui, já com algum atraso é certo, e criticar Vital Moreira por causa do seu artigo no Público da passada terça-feira, onde aponta o dedo à “esquerda radical” pelo desvio face à ortodoxia das finanças públicas, ao mesmo tempo que o governo que apoia bateu todos os recordes recentes no que ao défice orçamental diz respeito. No entanto, recuso esta estratégia demagógica, típica da actual brigada do reumático senatorial que monopoliza o debate público.
Pelo contrário, sei que estou em terreno mais seguro se dizer que Vital Moreira, talvez vítima da doença infantil dos neoliberalismos, o moralismo das finanças públicas, esquece que, crise após crise, estagnação após estagnação, bolha após bolha, crescimento fulgurante após crescimento fulgurante, a posição das finanças públicas numa economia capitalista avançada é sobretudo o reverso do andamento interno e externo da economia dita privada, dependendo também, mas em menor grau, da capacidade de ir contrariando o ineficiente e injusto “Estado fiscal de classe”, como Vital Moreira já bem lhe chamou. Neste se incluem, no nosso país, as predações dos grupos capitalistas rentistas, tal como as opacas e custosas parcerias público-privadas, em que o governo de Sócrates se especializou, ou a complacência face à taxação do sector financeiro, do património mobiliário e imobiliário e das grandes fortunas.
Posso ainda dizer que o plano inclinado da austeridade mina o crescimento e o emprego, de que depende em grande medida a almejada “consolidação” das finanças públicas, e que Vital erra sistematicamente no sentido da causalidade: o crescimento é uma condição para finanças públicas ditas sãs e não o contrário. Posso repetir pela enésima vez duas mensagens básicas: o governo pode controlar a despesa e assim cortar nos rendimentos e na procura, mas não controla o défice; o momento para resolver o problema das finanças é a fase ascendente do ciclo económico capitalista, fase que com esta austeridade corre o risco de não chegar.
E posso terminar com um apelo vital: ainda um pouco mais de rigor, se faz favor. É que é necessário ter muita ousadia para vir acusar a “esquerda radical” de nunca se preocupar com o estado das finanças públicas e depois apresentar um conjunto de propostas, uma justas outras injustas porque geradoras de exclusão, para aumentar a receita fiscal, mas que, no que se relaciona com a fuga e evasão fiscais, uma das poucas áreas em que Vital Moreira ainda diz qualquer coisa de esquerda, qualquer coisa civilizada, quase só são subscritas pela tal “esquerda radical”. Isto já para não falar na defesa da eliminação de muitos dos famosos benefícios fiscais que, segundo o Sócrates da última campanha eleitoral, constituíam um vil ataque da esquerda radical à classe média, ou na forma como Vital denuncia a eliminação do imposto sucessório durante o governo Barroso-Portas, omitindo deliberadamente que essa supressão foi apoiada pelo PS e rejeitada precisamente pela esquerda que vai à raiz, a mesma que sempre defendeu a reintrodução do que pode realmente ser o mais justo dos impostos, desde que bem desenhado.
Meu caro JR, deixe-me puxar pelos galões da antiguidade. V. tem direito a criticar o factotum mas tem de ir para a fila, porque à sua frente está muito mais gente, a do tempo dele, a que começou por ter dor com os trânsfugas. Hoje goza, por exemplo nas minhas patuscadas sessentonas (de/dos 60s) em que se encontram Politeias, Incursões (claro que só mcr) e Molesline, mais um ou outro "maluco senil" até eu lembrar que os vizinhos de baixo têm direito a dormir.
ResponderEliminarE até teremos muito prazer, eu e os sessentões, em convidá-lo para a próxima no ninho da águia. O tema vai ser "os petiscos que nunca comeu". Tudo embrulhado em conversa sobre cono é que nó, bloguistas convergentes de esquerda, nos podemos potencializar.
Do VM, o que até era interessante era contarmos coisas de antes de 1974.
do património mobiliário e imobiliário do imobiliário excepto dos maiorzitos ou quem tem trocos para ir a tribunal
ResponderEliminarjá recolhem mais do que deviam
casas velhas com valor comercial de 50mil euros ou menos
consideradas como valendo 70 mil e actualizadas para cima todos os três anos
terrenos agrícolas com alguns milhares de metros quadrados para pasto de gado
a 120 de imposto semestral
como se se nascessem trigais em cima das pedras....
é verdade que nas lezírias há terrenos de cavaleiros tauromáquicos que só pagam uns 20 por hectare e chegam a ter 400 ou 500 mas isso é outra loisa
e com o set-aside e outras mordomias
agora a maior parte da propriedade fundiária é minifúndio...
e das grandes fortunas....as grandes fortunas não andam por cá
só os milionários do euromilhões e mesmo esses
tal como o Isaltino de Morais e o Kadahfi com 23 mil milhões presos em Bancos americanos e outro tanto em suiços
as grandes fortunas ganhas na cimentação do país
e sejam objectivos e não louçanistas nisso...
não são taxáveis
o emigrante nos EUA ou no Canadá que amealhou meio milhão ou 1 milhão em 20 ou 30 anos de trabalho
como aquele que andou 12 anos a tentar receber o que tinha posto na Caixa Faialense
embora se possam considerar milionários
não têm massa para comprar uma casa ao pé da do nosso presidente Cavacus Silvanus
e de pagar os impostos associados
para os da plebe
Resumindo...um pouco mais de rigor
ResponderEliminarnisso da taxação das big fortunas
domiciliadas algures
felizmente o FMI tá cá
assi essas grandes fortunas e médias
vão começar a engordar menos
infelizmente não vão entrar em regime (dieta....não das dietas alemãs..dieta mesmo
www.reality101.blogspot.com
ResponderEliminarwww.reality101blog.blogspot.com
ResponderEliminarCaro João Rodrigues
ResponderEliminarDeixe lá o VM. Não perca mais tempo com essa conversa.
Quanto ao Keynes e à "esquerda radical", deixo-lhe aqui uma sugestão de leitura. Acerca das razões por que tanta gente o odeia ou julga odiá-lo (sem o ter de facto lido) e tanta outra o defende ou julga defendê-lo, em parte por reacção compreensível à primeira, mas nem sempre de forma tão acertada assim...
Ou ainda, de como a "má conversa" acerca de JMK tem de facto conseguido expulsar a "boa conversa" acerca do mesmo: http://www.counterpunch.org/whitney04112011.html
Caro JR,Hoje é dia de comemorar, no meu caso os 37 anos do 25 de Abril e os 37 anos do meu regresso,anteontem, da guerra, da Guiné. Mas é também tempo de expiar desilusões - não digo traições, uma vez que as escolhas de cada um não são boas se me agradam e más se me desagradam, são escolhas, pronto! Assim, o que francamente me desagrada em VM de há muito, não é o facto de se tratar da mesma pessoa que acompanhei de perto durante alguns anos, nem o facto de ele ter escolhido outra trincheira, pois esse é um direito todo dele. Mas entristece-me o facto de ele, VM fazer criticas acerbas àqueles que outrora defendeu sem começar por dizer: agora que sou um homem de esquerda mas que defende o sistema capitalista, tenho a dizer...e diz o que quiser. Agora exigir, a partir de rótolos que outrora muito o aborreciam, que os que estão onde sempre estiveram defendam as mesmas receitas que ele aprova, seria como esquecer que houve uma ruptura política entre as partes. Mais: às forças que cumprem a sua tarefa histórica de querer outra sociedade, e não é esta a oportunidade para falar sobre esse assunto, é exigido que quando se pronunciam sobre as contradições da sociedade capitalista, o faça com argumentos próprios da sociedade existente, capitalista, neste caso, mas pelo lado daquilo que esta sociedade, mesmo dentro do seu qaudro de contradições, pode fazer pelos cidadãos que diz (hipocritamente)querer proteger. Há em VM, como na esmagadorissima maioria dos comentadores políticos, uma propositada negligência analítica: mistura todo o tipo de conceitos num racíocinio que tem por objectivo uma conclusão anteriormente escolhida. Porém, há uma coisa que VM pensa que tem e não tem de todo: sempre razão. Ainda cabe a cada um de nós o poder da escolha livre de quem pode falar por nós, e eu já dei a minha parte, e em bom tempo, para que VM pudesse falar por mim.
ResponderEliminarZe.moreirasantos@gmail.com
Tudo para dizer que o VM está bem para o chefe, o líder da mentira e mais artimanhas.
ResponderEliminarIa escrever um breve comentário, saiu-me relambório não encaixável neste espaço. Se tiverem pachorra para algumas considerações sobre o factotum, publiquei no meu blogue, No moleskine.
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