sábado, 8 de janeiro de 2011

A experiência está feita: o austeritarismo está errado


O austeritarismo não funciona. Sabemos agora todos mais do que sabíamos há um mês: o orçamento austeritário não “acalma os mercados”. Temos orçamentos austeritários em toda a Europa e as taxas de juro das dívidas soberanas – a nossa e a de muitos outros, não param de subir.

O que “acalmaria os mercados” seriam outras coisas: uma intervenção mais determinada do BCE nos mercados primário e secundário das dívidas soberanas, a emissão de eurobonds, uma reconfiguração da arquitectura do euro que apoiasse a moeda única num orçamento e numa política orçamental, uma política industrial comum. O tempo passa e nada disso parecer poder acontecer.

A lógica do austeritarismo que prometia cortes no investimento, provisão de serviços e apoio social públicos e crescimento ao mesmo tempo estava errada e faliu. Num contexto de recessão a redução da despesa pública não faz diminuir a taxa de juro nem incentiva o investimento privado – pelo contrário, resulta em mais recessão, menor solvabilidade do Estado e aumento dos juros; a redução dos salários induzida pelo desemprego não se traduz em maior competitividade do sector exportador, sobretudo quando a deflação salarial está a ocorrer também nos principais mercados externos.

O que têm a propor os austeritários? Venha daí o FMI? Para quê? Para agravar a “austeridade” até que a insolvência do Estado e dos bancos em meia Europa interrompa a débil recuperação nos EUA e afunde também os emergentes?

6 comentários:

  1. Concordo que não funciona, mas tem que se explicar muito bem qual é a alternativa, e assegurar que ela não leva ao descalabro completo das contas públicas e à destruição do país. Pois, por exemplo, andar a gastar dinheiro em obras sem retorno como o TGV também não é caminho.

    Uma alternativa credível, com contas feitas, precisa-se!

    Infelizmente ainda não vi nenhuma que não dependa da bondade de terceiros (europa ou a revolução internacional). Dada a situação e o que não depende de nós, o que podemos fazer?

    Enquanto uma alternativa credivel não for apresentada e muito bem explicada, as pesoas que clamam por outra via não serão levadas a sério.

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  2. Os comentários que se vão vendo, tipo "Concordo que não funciona, mas tem que se explicar muito bem qual é a alternativa, e assegurar que ela não leva ao descalabro completo das contas públicas e à destruição do país" e também o já famoso "Pode-se renovar o sistema por dentro?" são as mesmas perguntas que fez o Gorby na URSS em 1985... ou quiçá na França de 1798!

    Cheira-me que a resposta será igual... e que o resultado sobre o "sistema instalado" também!

    O que aí vem? Só nós saberemos!

    O que vemos é os Daniés Bessas a tentar sacar o máximo que podem antes que o "sistema instalado" desmorone. Como no Portugal de 1970-74 e Espanha de 1971-75. Quando cheira a fim de regime é sempre assim, os que se vêm a perder o poder sacam o máximo enquanto podem!

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  3. pois mas as lições raramente são compreendidas

    está errado mas é necessário
    para cortar nas aplicações que não têm nenhum retorno

    O que têm a propor os austeritários? Venha daí o FMI? Para quê? Para agravar a “austeridade” até que a insolvência do Estado e dos bancos em meia Europa interrompa a débil recuperação nos EUA e afunde também os emergentes?

    é provável...mas demorará uns anitos

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  4. e soluções ninguém as quer propor

    a crise de 2008 não serviu a ninguém

    e esse é o problema

    falta de memória

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  5. Pois é, caro Maquiavel, as reformas adiadas geram revoluções. E estas, por muito românticas que pareçam, são sempre demasiado vermelhas para o meu gosto (e não é das bandeiras). E o pior é que de amiúde apenas substituem uma oligarquia por outra não necessariamente melhor. E de modo caro e ineficiente.

    Quanto ao resto, de que vale clamar que se tem razão se não se consegue explicar porquê?

    Quer-se ter razão ou quere-se mudar as coisas? se é a segunda, então talvez valha a pena passos mais pequenos que as pessoas entendam, e portanto possam apoiar, em vez de clamar em meia dúzia de frases como tudo devia ser diferente.

    E já agora responder a perguntas sérias como: o que acontecerá se não cedermos à tal chantagem? não precisamoos que nos emprestem o dinheiro? alguém nos emprestará dinheiro se isso acontecer? temos controlo sobre isso? e como os governos pagarão aos funcionários públicos e manterão os hospitais a funcionar? Seria isso bom? Que alternativas há?

    Não digo que não seja possível, digo que é preciso explicar o que acontecerá nessas circunstâncias e que medidas poderão ser tomadas. Só assim as alternativas serão credíveis.

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