quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dar confiança aos 'mercados' é o último objectivo

O gráfico ao lado mostra-nos a evolução das taxas de juro da dívida pública de Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda face às da Alemanha. Ele dá-nos uma ideia das dinâmicas em causa algo contrastante com o que nos vendem todos os dias os economistas do regime.

1. A evolução das taxas de juro da dívida soberana de Portugal, Grécia e Irlanda (e da Espanha até Setembro) tem sido paralela. Isto revela que o custo imposto a cada Estado pelos compradores de dívida tem menos a ver com a ‘seriedade dos esforços de consolidação orçamental’ do que com uma multiplicidade de factores menos referidos pelos economistas do regime.

2. Entre esses outros factores destaca-se as posições que vão sendo tomadas ao nível da UE, sendo o peso da Alemanha preponderante. A subida dos juros verificada desde o início de 2010 até Maio é indissociável dos sinais contraditórios que iam sendo dados pelas instituições e governos da UE quanto a uma eventual intervenção conjunta para estancar a especulação financeira em torno da dívida soberana (cada vez que um dirigente político alemão ou do BCE sugeria que não existira apoio europeu, as taxas de juro saltavam). Quando, no início de Maio, foi anunciada a criação de um fundo de estabilização conjunto da UE e do FMI, as taxas de juro caíram abruptamente. Finalmente, quando nos últimos dias de Outubro a Alemanha avançou com a proposta de rever do Tratado da UE para introduzir não apenas a possibilidade de resgate, mas também de reestruturação de dívidas pelos Estados em dificuldades (o que, na prática, significa aumentar o risco de emprestar dinheiro a esse países, qualquer que seja a causa) as taxas de juro voltaram a aumentar. As posições europeias contam. Infelizmente, nem sempre no melhor sentido.

3. Outro dos factores determinantes da evolução das taxas de juro menos considerados pelos eco-comentadores lusitanos diz respeito às perspectivas de evolução económica e social de cada país. O aumento das taxas de juro da dívida grega em meados de Junho esteve associada às fracas perspectivas de desempenho do sector do turismo, em resultado das greves e da instabilidade social decorrente das medidas de austeridade tomadas. O aumento das taxas de juro verificado na Irlanda, em Portugal e na Grécia coincide com a publicação de dados sobre o fraco desempenho económico destes países. Não é difícil antecipar que o desacelerar do crescimento económico nas principais economias da UE (decorrente, por exemplo, de uma valorização do euro face ao dólar ou de uma subida significativa dos preços do petróleo) ou o agravar das tensões sociais (expectável, dado o nível de austeridade que está a ser imposto nos vários países) conduza em breve a novos saltos nas taxas de juro sobre a dívida soberana.

Estes factos permitem-nos perceber qual seria o caminho de saída da crise que se vive: planos de consolidação orçamental faseados, que dessem prioridade no curto prazo ao relançamento das economias e que evitassem o agravar das tensões sociais, apoiados por decisões tomadas ao nível europeu que evitassem o acentuar da incerteza (com reflexos no custos do financiamento). Em suma, o oposto do que está a ser seguido pelas instituições de UE e pelos governos dos Estados Membros.

O objectivo da estratégia seguida começa ser claro para todos: não se trata de dar ‘confiança aos mercados’, mas antes fomentar a redução dos salários e dos direitos sociais através do aumento prolongado do desemprego e da redução dos benefícios sociais. Esta Economia da Idade das Trevas não pode acabar bem.

4 comentários:

  1. De facto não poderá acabar bem,mas os senhores da politica hiperliberal e agentes da finança global estão unidos nas suas agendas de controlo e os ditos senhores da esquerda andam a comer-se uns aos outros sem dar uma alternativa aos povos que não seja ir para a rua gritar!Mas nem isso...
    No entanto é verdade que o caos social das greves e manifs num unico país não servem de muito(pelo contrário pois impedem a produção e ainda criam mais juros de divida)como se viu na Grécia.Só um movimento a nivel europeu(ou mesmo global como no caso da guerra do Iraque)poderia fazer a diferença...
    mas onde estão os lideres com coragem e inteligencia??

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  2. Mas alguém pode duvidar sequer que o que estes malfeitores ( o PS, o PSD e o CDS), o que pretendem é reduzir drásticamente qualquer conquista que reste do 25 de Abril.
    A Direita - onde hoje incluo o PS - que há muito vem proseguindo politicas de direita e tomando medidas miseráveis - não pode ver ninguém de cabeça levantada.

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  3. e agentes da finança global...

    pois os judeus

    os chineses

    os hindus

    substância zero...quais mercados

    só os bancos portugueses compram a dívida

    e meia dúzia de fundos de pensões

    a finança regional aposta em coisas mais proveitosas
    Brasil...Angola etc dentro da lusofonia

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  4. Excelente análise, como já vem sido habito de Paes Mamede.

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