terça-feira, 16 de novembro de 2010

2011, o ano da encruzilhada?

Em Maio passado formulei (aqui) três cenários. A presente agitação nos mercados da dívida soberana, envolvendo sobretudo a Irlanda e Portugal, levam-me a retomar o assunto. Actualizemos os cenários aí descritos deixando para último lugar o segundo.

O primeiro cenário – mantermo-nos na moeda única – significa aceitar sucessivas doses de austeridade sem qualquer resultado positivo. De notar que para este efeito é irrelevante que seja Sócrates ou Passos Coelho o nosso Primeiro-Ministro.
Em meados de 2011, já sob a tutela do FMI, ser-nos-ão impostos novos cortes na despesa. A austeridade inscrita no actual orçamento produzirá recessão e, em consequência, prejudicará a meta proposta para o défice.

Este cenário de continuada austeridade não só não resolverá o problema da dívida pública (e privada) como vai piorar a situação económica e social do País. Aliás, os defensores da austeridade apenas esperam que as exportações, só por si, façam o milagre de pôr o PIB a crescer alguma coisa (sem criação de emprego), num contexto de economia europeia estagnada, de economia dos EUA à beira de nova recessão e de um sistema monetário internacional em convulsão causada por desvalorizações competitivas com todos os blocos económicos a tentarem crescer pelas exportações. Aliás, as cimeiras do G20 parecem destinadas a ser apenas encontros dispendiosos e inconsequentes.

O terceiro cenário parece hoje inviável. Face aos ensaios de demarcação que Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia fazem, uns relativamente aos outros, não é realista imaginar uma tomada de posição conjunta destes países relativamente à Alemanha e ao Consenso de Bruxelas. É um braço de ferro colectivo que nenhum destes países parece disposto a organizar. Preferem o “salve-se quem puder”.

Resta o segundo cenário. Ao contrário do que escrevi em Maio, não precisamos de imaginar que Portugal toma a decisão de sair do euro. Podemos simplesmente admitir que o euro implode. Vejamos.

Ainda em 2011, estando já a financiar a Grécia, a Irlanda e Portugal, e confrontada com a necessidade de também ter de acudir à Espanha, e possivelmente também à Itália, a Alemanha acaba por resolver o impasse. Face à crescente hostilidade de uma opinião pública alemã intoxicada pelas ideias da “economia das trevas” (a teoria económica que predominou na Europa entre as duas Grandes Guerras), a Alemanha poderá reconhecer que não pode e não quer financiar mais nada e, dessa forma, acaba com o euro tal como o conhecemos.

Em meu entender, o cenário de implosão do euro deve ser levado a sério. A ser assim, a tarefa mais urgente que temos pela frente é a de converter a dinâmica da greve geral de 24 de Novembro numa outra dinâmica. A da construção de uma alternativa de governo que nos mobilize para um novo modelo de desenvolvimento do País, um novo caminho liberto da ditadura de um capital financeiro coligado com influentes sectores da área política do PS e do PSD.

5 comentários:

  1. "um novo caminho liberto da ditadura de um capital financeiro coligado com influentes sectores da área política do PS e do PSD. "

    Falta acrescentar, presumo:

    "Um caminho que nos conduza aonde as manhãs cantam."

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  2. Concordo,

    essa dinamica tem que ter como protagonistas inevitavelmente a CGTP, BE e PCP.
    Criar um 3º Polo que surje como alternativa à esquerda do PS.

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  3. Lá agora a ditadura financeira está coligada com influentes sectores da área política do PS e do PSD e do CDS! Nääääääääääääääo pode!

    Os capitalistas estäo é coligados com o PCP e BE!!!

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  4. Também há a hipótese de irmos ao site da Europa 20 e carregarmos no botão que diz "Exiting the crisis". É a UE 2.0, com soluções à distância de um click (e um conjunto de propostas que parecem feitas por um teenager inconsciente e moderadamente bem-intencionado).

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  5. É Europa 2020, e é só conversa para boi dormir...

    http://ec.europa.eu/europe2020/priorities/exiting-the-crisis/index_en.htm

    "But we must also make our economy stronger for the future.

    There is no way out of this crisis without growth. So our strategy should free up Europe's growth potential by

    * removing obstacles in the internal market to increase mobility of people (particularly workers), services and investments.
    * delivering on overdue structural reforms (rigid labour markets, ineffective social protection system, lagging productivity levels, etc.).
    * investing in key sectors that will create growth and jobs in the future and will bring a decisive competitive advantage."

    Claro... mobilidade de trabalhadores. Cultura local? Que é isso? O capital näo tem Pátria!

    Viram que primeiro vem o tal "mercado de trabalho flexível, só depois a protecçäo social. É de propósito, seus parvos!

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