quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Por uma politica económica de esquerda para todos os prazos

Na câmara corporativa concorda-se com “muito” do que eu escrevi no i esta semana. Não se resignam ao PEC III? As coisas são mais complicadas, claro. Pede-se uma alternativa europeia no curto prazo. O curto prazo é o prazo que demora a salvar o euro? Desculpem, mas não temos escrito sobre outra coisa desde há muito tempo por aqui e nem sequer somos originais.

Volto a sublinhar um ponto pouco assente: a necessidade imperiosa, a muito curto prazo, de uma iniciativa diplomática concertada das periferias, que aproveite as fissuras no eixo franco-alemão e que force, entre outras, a alteração dos termos do fundo europeu, como defende a Confederação Europeia de Sindicatos, transformando-o num real fundo de investimento, em vez de se resignar a ser um deteriorado e mal amanhado pacote à FMI (não tenho ligação para o estudo, desculpem).

Podemos esperar sentados se depender de Sócrates-Amado. Este governo é dirigido pelo míope europeísmo feliz que caracteriza as nossas elites, as mesmas que durante anos apodaram de anti-europeístas todos os que, com realismo, apontavam o caminho suicidário que estava a ser seguido por esta construção europeia. Do bom aluno europeu de Cavaco ao porreiro pá de Sócrates, até à aceitação de todas as loucuras de controlo anti-democrático de Barroso-Merkel, são décadas nisto. Longo prazo.

Agora é sempre a descer com novos PEC, que podem bem levar à depressão e à desagregação do euro, como uma vez mais sublinha Stiglitz. No curto prazo? E, no entanto, é ver Sócrates sempre acrítico perante o turbilhão da especulação. É umas das poucas coisas em que é constante. É ver os intelectuais orgânicos deste PS sem S, como Vital Moreira, falarem das finanças públicas com um moralismo que não fica atrás de Medina Carreira. Tiros nos pés.

Entretanto, como sugere a esquerda que não desiste, não estamos de pés e mãos atados à escala nacional: podemos aproveitar para acabar com o que Vital Moreira já chamou “o Estado fiscal de classe” e canalizar recursos para a defesa dos serviços públicos e para outros investimentos que criem algum emprego e tornem a vida menos difícil.

Nada que seja demasiado complicado intelectualmente, mas muito difícil politicamente, claro; complicado é explicar publicamente por que é que os diferentes rendimentos não são todos consideradas em pé de igualdade para efeitos de IRS e por que é que persistem regressivas deduções fiscais, capitais por taxar ou bloqueios a políticas do medicamento mais racionais, por exemplo. Politicamente as propostas sensatas de esquerda pressupõem um amplo compromisso social que afronte a burguesia rentista e os seus intelectuais em todos os planos , em todos os prazos, em todos os orçamentos. Estamos à espera de quê? Dos “mercados”?

3 comentários:

  1. As deduções fiscais servem para o contribuinte não pagar duas vezes pelo mesmo serviço. Assim só paga cerca de uma vez e meia. O Estado fica a ganhar se o contribuinte optar pelo privado. É muito complicado intelectualmente?

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  2. Hum, sim, é mais complicado do que diz porque o imposto que deixa de pagar é progressivo, enquanto que a despesa de saúde será igual para todos... desde que a consigam pagar, claro!

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  3. Queriam auto-estradas, não era? e estufas de Kiwis que nunca existiram? Lembram-se do Papá Soares e a "Europa connosco?" queriam? e os cheques gordos para os amigos do partido da "Democracia do Sucesso". Agora, tomem lá!

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