quinta-feira, 1 de abril de 2010

A energia nuclear a nú


Aquele
s evangelistas do lucro que, à boleia do ideário de Passos Coelho, regressam agora a pregar contra o que de mais decente José Sócrates fez por Portugal (a aposta nas energias renováveis) dizendo que a energia nuclear é "limpa", demonstram ter conceitos de higiene que não merecem qualquer credibilidade. Alguém acredita que esta gente queira agir em prol do bem comum? Será assim tão difícil adivinhar que interesses se movem por trás da insanidade e da ganância destes irresponsáveis? Não falemos de Three Miles Island ou de Chernobyl mas vejamos, num exemplo muito recente, de que "limpeza" e "segurança" estamos a falar:

No Expresso de 12 de Julho de 2008 , lia-se na pág 41 que «360 quilos de urânio provenientes das instalações nucleares francesas de Tricastin (Avinhão) contaminaram terça-feira dois afluentes do Ródano, devido a uma fuga de água. Entetanto, no norte da Alemanha, em Asse (Baixa Saxónia), foi detectada outra fuga radioactiva, esta numa antiga mina de sal onde eram guardados resíduos nucleares.»
Reportou depois Daniel Ribeiro, o enviado do Expresso (25 de Julho 2008, 1º caderno, pág. 31) ao local, que a contaminação produzida na sequência das fugas radioactivas na central nuclear de Tricastin não só contaminou 100 funcionários como provocou ainda, nas vilas e aldeias em redor, um desastre social, pois este acidente, envolvendo a perda de 360 quilos de urânio - ou "apenas" 74, segundo outros cálculos - aconteceu no momento em que se veio a saber que os lençois freáticos que abastecem de água toda a região, estão contaminados desde há vinte anos, devido aos detritos de uma base militar de enriquecimento de urânio existente também em Tricastin. Por toda a região, os produtores de vinho, frutas e legumes, assim como o comércio, os restaurantes e os hotéis estão em desespero de causa, pelas consequências que isto trouxe para a região.

Energia limpa e segura? Quem quererá acreditar nestes porcalhões? Apenas os cosmocratas, os demagogos e os iluminados do empreendedorismo, que em tudo vêem "oportunidades" de negócio. A esta nova burguesia planetária, se lhes envenenarem a mãe, os filhos e os netos, esfregarão as mãos de contentes, pela oportunidade de crescimento que isso representará para os seus negócios.

Os porcalhões domésticos - que, ao que parece, estão à direita, ao centro e à esquerda e tanto devem usar o cilício como o avental - esperam, certamente, assegurar o retorno dos seus investimentos. E, como sempre, cá estarão depois os contribuintes para pagar as derrapagens orçamentais e os roubos dos barões, dos duques e dos condes; o titubeante sistema de justiça (?) para alimentar a sempiterna novela da corrupção servida nos telejornais à hora do jantar logo a seguir aos resultados do futebol, esse grande desígnio nacional; os oceanos para depositar os resíduos perigosos (servirá para isso o alargamento da plataforma continental?...), como quem varre o lixo para debaixo do tapete; e as gerações vindouras para lutar contra o cancro, as leucemias, o desastre ambiental, o holocausto higiénico que nos propõem...

Na foto acima, da autoria de Matthew Schneider, vê-se a torre de arrefecimento de uma central nuclear americana - Trojan, no Oregon - cujo processo de desmantelamento se iniciou em 1993 e ainda não terminou (há vários clips no You Tube que mostram a implosão desta torre). Ao longo da sua existência teve várias fugas de água contaminada, a quantidade de energia que produziu foi diminuta face às necessidades de abastecimento no estado do Oregon e, ainda por cima, revelou-se um verdadeiro desastre financeiro.

Para termos uma ideia do que é trabalhar numa central nuclear, recomendo vivamente o filme Silkwood, de 1983, com a grande Meryl Streep. Trata-se de uma história verídica que retrata a luta de uma sindicalista e trabalhadora de uma central nuclear do estado de Oklahoma - Karen Silkwood (1946-1974), de seu nome, morta em circunstâncias pouco claras.

16 comentários:

  1. Não tenho dúvida nenhuma que a produção de electricidade em centrais nucleares comporta riscos e leva a que se percam vidas humanas.

    Do que eu gostaria era de ver estes riscos quantificados e comparados com os riscos resultantes doutros meios de produção. As barragens hidroeléctricas podem rebentar, as centrais a carvão ou a nafta emitem CO2 e partículas carcinogénicas e até as pás duma torre eólica se podem soltar e aterrar em cima das nossas casas.

    Enquanto não dispuser destes números, reservo o meu julgamento sobre se sou contra ou a favor da energia nuclear.

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  2. Energia nuclear tem riscos, mas é uma falsa questão porque a poluição nuclear não pára nas fronteiras dos países. Assim entre não ter centrais nucleares e ter poluição nuclear dos outros, então prefiro ter a "fama e o proveito".

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  3. aqui e aqui para uma análise do problema em várias vertentes. Ver também aqui

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  4. Caro José M SOusa, muito obrigado pelos links!

    Caro José Luiz Sarmento
    Esperemos que o dito "manifesto dos 33" seja apenas uma peta de 1º de Abril. Acho estranho não se falar de Patrick Monteiro de Barros, o empresário que há dois anos se disse disposto a investir no nuclear. E acho estranho o lote de gente citada...
    Em todo o caso, com ou sem peta, o problema está na ordem do dia e há muitos "empreendedores" a afiar os dentes para mais umas parcerias público-privadas...
    Quanto ao seu desejo de ver quantificados os riscos... percebo, mas confesso que não é argumento que me agrade, pois não creio que seja um mero problema estatístico, nem é de meras probabilidades que se trata aqui - e lembre-se que a lotaria só sai a quem joga. Parece-me mais um problema de qualidade do que de quantidade. Valerá a pena comparar o milhão e duzentos mil mortos de Estalinegrado com os oitocentos mil de Hiroxima?

    Bom feriado!!!

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  5. Não sei, sinceramente, qual o espanto de ver os tais fulanos ( seguidos por alguma imprensa - pudera eles são os donos ) a fazer loby pelo nuclear.
    É que, afinal de contas, nem os abutres nem as hienas (felizmente para os animais) são espécies em extinção.!

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  6. Francisco

    Trataste a energia nuclear como porca (independentemente dos oportunistas que fazem lobby)...
    Mas lembra-te...neste momento do campeonato, Portugal - das renováveis – é infinitamente mais porco do que a Alemanha, a Suécia. Só para citar.

    Eu não sou acérrimo defensor mas não me importo de nada de ser esclarecido – dos PRO e dos Contra.
    Mas digo-te Francisco. Com radicalismo, ortodoxia, não me convences em absoluto.

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  7. O artigo de Manuel Pinho do Expresso deste fim-de-semana diz duas coisas importantes:
    - Que a Agência Internacional de Energia, "o equivalente ao FMI na área da energia" aponta Portugal como UM EXEMPLO A SEGUIR. Assim sendo, vá-se lá suspeitar dos interesses dos 33...
    - Que ler o manifesto dos 33 como uma defesa do nuclear é abusivo (pois, pois, a coisa é tão inocente como uma mentira de 1º de Abril...), mas diz o artigo do "i" que a exigência de revisão da política energética portuguesa por parte dos 33 (33? Bolas!... o grande arquitecto deve estar contente...) baseia-se na acusação dirigida aos custos elevados das renováveis e, obviamente, a colocar de novo na agenda política o nuclear. E lá vêm eles armados em libertadores da palavra, requerendo as tais "discussões sem tabus". Compreendo, compreendo... Tabu deve ser também a reforma vitalícia de milhares de euros do erário público que o sr Mira Amaral levou por ter trabalhado um ano e meio na CGD. Não vou precisar sequer de ir para Nisa apanhar radiação de urânio nem esperar pelas centrais (que tal uma no Tejo e outra no Sado, hein? Aos pares deve-lhes sair mais barato...), pois esta gente já me dá vómitos. É mesmo radical!...

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  8. No Blogue Ambio, um "post" pertinente sobre o dito manifesto.

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  9. Belo texto. É assim mesmo, sem espinhas.

    O nuclear é o que é.

    Não vale a pena estar a tapar o sol com a peneira.

    E também não vale a pena estar à espera de mais números. Porque o essencial já se sabe.

    E o argumento da fama e do proveito, com o devido respeito, é rematadamente idiota.

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  10. Caro Francisco Oneto

    Claro que a lotaria só sai a quem joga, mas nesta lotaria todos jogamos, queiramos ou não. Não jogar, neste caso, também é uma aposta. Mesmo que escolhamos não produzir energia por método nenhum, esta opção também terá custos em vidas humanas.

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  11. Caro Pedro Homem de Gouveia:

    Pois precisamente o essencial é que não se sabe - ou, se alguém o sabe, não o transmite à opinião pública.

    O que eu sei, e a opinião pública também sabe, é que a opção nuclear comporta riscos. Sei igualmente que as outras opções, incluindo a de não fazer nada, também os comportam. E sei, finalmente, que uma coisa é o risco e outra muito diferente é a percepção do risco - por isso é que há tanta gente com medo de andar de avião mas sem medo nenhum do acto muito mais perigoso que é andar de automóvel.

    O que eu não sei - e não me diga que isto não é essencial - é quais são as opções mais arriscadas e quais são as menos arriscadas.

    Há anos tive que decidir entre fazer ou não fazer uma determinada operação. Depois de muito insistir com os médicos - que não ignoram as estatísticas mas resistem a revelá-las aos seus pacientes por receio que estes as interpretem mal - lá consegui que me dissessem, em termos percentuais, quais era a minha probabilidade de sobrevivência. Vim a saber que, se fizesse a operação, não era famosa; mas que se não a fizesse se aproximava dos 0% ao fim de um ou dois anos.

    Optei pelo risco menor, e ainda bem que o fiz porque ainda aqui estou.

    Seria pedir demais que me dessem, e aos outros cidadãos, a informação necessária para que pudéssemos optar pelo risco menor?

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  12. Muito Bem! É isso mesmo, é preciso informar as pessoas. O autor do artigo não informa porque não sabe!

    De nuclear não percebe nada, mas viu uns filmes com a Meryl Streep e compara a uma central nuclear à bomba de Hiroxima para amedrontar as pessoas.

    No meio dos medos irracionais as pessoas esquecem-se que nos ultimos anos, paises muito mais desenvolvidos do que nós, como por exemplo a Finlândia, obtaram pelo nuclear como forma de reduzir a dependência energética.

    Não sei se o Nuclear é a melhor alternativa energética para Portugal, isso implicava um estudo económico independente, que tanto quanto sei não foi feito nenhum recentemente, mas estou certo de que o nuclear não deve ser desconsiderado à partida devido a medos irracionais. Também tenho a certeza de que não é com as politicas pseudo ambientais Socrates que se abastece o pais de electricidade.

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  13. João
    irracionalidade é o que você disse um pouco antes, no post sobre Fernando Nobre. Os seus comentários, com o mau-cheiro que trazem, só lhe ficam bem...

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  14. O fascinio popular com os pseudo-benfeitores é tão irracional como o medo das centrai nucleares.

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  15. Aqui no Brasil temos os melhores exemplos de omissão e falta de estrutura na área nuclear. O Maior acidente radiológico urbano do mundo foi em Goiânia, não foi devido a nenhuma usina nuclear mas sim um aparelho de radioterapia que foi ABANDONADO em um terreno baldio!!

    As formas de exposição nuclear são variadas, mas seus riscos não, até porque, segundo os estudos que temos somente o câncer pode ser diretamente vinculado, outro ponto que dificulta muito o reconhecimento das vítimas.

    Qual é o custo do "progresso"? E afinal, para onde vai "tanta" energia? Estamos mirando o elefante, mas o rato também nos atinge!

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