Nos últimos 15 anos, os partidos de esquerda italianos acumularam uma sucessão de derrotas, não apenas em termos eleitorais mas, mais importante ainda, no campo dos valores e da capacidade de mobilização social. Como tive oportunidade de desenvolver aqui, a adesão a uma estratégia de diluição da identidade ideológica e organizacional, de mediatização excessiva e de menorização da intervenção nos territórios, acabou por servir os propósitos dos adversários. A Itália é hoje governada por forças que não se esforçam por ocultar a utilização do aparelho de Estado com fins particulares e que exploram os medos mais básicos das populações tendo em vista a obtenção de ganhos eleitorais. Insistindo em jogar o jogo político no campo do adversário, a esquerda que resta no parlamento revela-se incapaz de contrariar a deriva racista e xenófoba que é alimentada pelos sectores neo-fascistas e reaccionários do governo. À Itália, por ora, resta apenas a força de um conjunto de movimentos sociais, mais ou menos descentralizados, que não baixa os braços na luta contra este estado de coisas. Lo sbarco (O desembarque) é uma iniciativa que começou a partir de um grupo de amigos expatriados em Barcelona e já conseguiu mobilizar sectores importantes da sociedade italiana na denúncia dos ataques aos imigrantes e na defesa dos seus direitos. Não vai transformar a Itália – mas faz avançar o barco da luta contra a intolerância, a prepotência e a perpetuação das desigualdades. Como dizia Fellini, la nave va.
O problema principal da esquerda foi, e parece que continua a ser, pensar que mude mudar, por mero voluntarismo, a "natureza" humana. Esta crença no "homem novo" levou ao que se viu e ao que se vê: o capitalismo selvagem a impor-se em todo o planeta e, quando parecia cambalear, não teve qualquer alternativa credível. Resta a raiva inconsequente e uma ou outra vitória proletária como a dos pilotos, controladores etc..
ResponderEliminarOlá. É só para indicar a existência de um blog novo:
ResponderEliminarolhequenao.wordpress.com
Abraço. JG
Sem dúvida que perante a incapacidade dos políticos de colocarem fim ao capitalismo selvagem, ou de casino, são cada vez mais necessários estes movimentos vindos das bases para tentarem modificar o "statu quo" nacional e internacional. Em Itália, o peso dos múltiplos divisionismos e o persistente afã de manter a Itália como grande potência tem potenciado o êxito de Berlusconi...
ResponderEliminarSaudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt