quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os défices de uns são os excedentes dos outros

Terminou há pouco o programa Contas à Vida na TVI24 horas, conduzido pelo jornalista António Perez Metelo, com a participação dos ex-Ministros Braga de Macedo e Pina Moura e, esta semana, com o João Rodrigues.

O debate andou essencialmente à volta de dois temas – as tensões de política macroeconómica que se vivem na zona euro e a questão das contas públicas em Portugal.

O João disse aquilo que temos escrito neste blog: 1) que a arquitectura da gestão macroeconómica na UE não permite fazer face a crises que afectam assimetricamente os estados membros; 2) que os discursos sobre os défices externos das economias periféricas esquecem que eles são espelho dos excedentes de outros países, pelo que os dois problemas têm de ser vistos em conjunto; 3) que é um erro, por sinal nada ingénuo, confundir o défice externo com a política orçamental em Portugal, já que o grosso da dívida externa é privada - e, já agora, indissociável do processo de construção da UEM; e 4) que a retórica recorrente que culpabiliza cada economia em dificuldade e não o regime de gestão macroeconómica da UEM pelas crises conduz a um estado permanente de austeridade e à erosão do Estado Social.

Pina Moura surpreendeu-me pela fraqueza dos seus argumentos. Ao afirmar que não é um problema a Europa não ser uma zona monetária óptima, pois esta será um resultado do próprio processo de integração, ignora não apenas os custos de ajustamento como a ausência de factos que corroborem aquela afirmação. E ao sugerir que a UE saberá encontrar formas de melhorar gradualmente a deficiente arquitectura económica existente, persiste na ilusão em que tem vivido grande parte da social-democracia europeia (como e o João aqui discutimos em detalhe) – a de que é possível obter os consensos, exigidos pelos Tratados, entre os governos dos 27 estados membros para introduzir as mudanças necessárias (e.g., um orçamento comunitário com funções de estabilização, a harmonização da fiscalidade directa, o fim dos paraísos fiscais, a coordenação das políticas sociais e laborais, etc.). Sinceramente, não consigo perceber se se trata de um acto de fé («as coisas vão melhorar, só podem melhorar») ou de ocultação deliberada das implicações da UEM na sua versão actual. Vindo de quem vem, ignorância não é concerteza. Mas os argumentos não são convincentes.

11 comentários:

  1. O João esteve muito bem no debate, apesar de alguma hostilidade dos seus colegas de debate.
    Ele disse e muito bem que são necesários mecanismos de combate a choques assimétricos.
    Para esse efeito, talvez fosse mais fácil flexibilizar o pacto de estabilidade e crescimento, para permitir uma maior resposta em períodos de crise.

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  2. Caro RPM,

    Não quero, nem seria capaz, discutir a validade dos seus argumentos no plano económico - pelos quais, aliás, tenho bastante simpatia. O que não percebo é o seu comentário sobre a impossibilidade de mudar as coisas no seio da UE. Se acha que no âmbito dos tratados não é possível (não se conseguirão consensos, etc), então o que fazer? Sair da UE e resolver o problema sozinho? Criar outra UE? Como? Com quem? Ou o melhor não será mesmo lutar por ganhar aliados, eventualmente alcançar maiorias, dentro da UE para introduzir as medidas que defende?

    A propósito, aproveito para lhe assinalar que: os 27 não são todos membros do Euro; algumas das medidas que defende poderiam ser introduzidas, em cooperação reforçada, entre alguns Estados-membros, sem necessitar de consenso a 27. O Tratado de Lisboa abre algumas pistas que poderão eventualmente facilitar a tomada de medidas do tipo que defende.

    A questão é sempre a mesma: haverá vontade política dos eventuais interessados... Se não houver, que fazer para que passe a haver?

    Ou será que sugere que deveríamos impor tais medidas pela força?

    Em suma: gostaria de ver a defesa de argumentos como os seus ser acompanhada de sugestões realistas sobre como tornar as vossas propostas em realidade...

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  3. Deixem-se de fartar vilanagem!acabem com economistas; banqueiros e "jornaleiros".Vão mas é para a reflorestação/ agricultura e limpar os caminhos/ terrenos de Portugal. Reconstruir/repovoar aldeias usando tecnologias amigas do ambiente. Se não há dinheiro, mandem fazer!!!

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  4. Será que estão a falar de alguma crise que conhecem, por a sentirem ou por terem ouvido qualquer coisa sobre o assunto? Com todo o respeito, mas acho que se pensassem bem, não diziam as asneiras que somos obrigados a ouvir!

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  5. eu concordo mas é com a Isabel.
    há muito para fazer e há muito onde por as pessoas a trabalhar. "empregos" é que já não há.
    e acabar com a litoralização bicéfala cá do rectângulo é mesmo uma bela ideia. autonomia alimentar , também.

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  6. Outra vez... Braga de Macedo armado em génio e subvalorizando o Ladrão... Pina Moura não diz nada e apenas carrega a cruz num acto de fé... Força Ladrões!

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  7. Os comentadores residentes exibiram a arrogância (dizendo não somente que pensavam de forma diferente, mas que o JR estava errado) e incapacidade de contra-argumentação de quem não está habituado ao contraditório. É muito bonito falar em democracia, mas ter um programa com um orador de opinião diferente...ui, isso não, é uma chatice.

    Para quem quiser ver/rever o programa fica aqui o LINK directo.

    Há aqui uns comentários interessantes, tão interessantes que eu me questiono se estão para o socialismo ou para o salazarismo.

    A ideia de que há trabalho mas não há "emprego" parece querer ambicionar uma sociedade socialista (há mais que uma, estou certo) onde se trocam serviços e bens sem a intermediários monetários.
    Ou por outra, parece salazarista na medida em que parece evocar que as pessoas não querem é trabalhar e ficam sem fazer nada "só" porque não há trabalho remunerado. Malandras...querem ser pagas pelo seu trabalho, assim o capitalismo não funciona tão bem.

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  8. não é a parte salazarista...é a parte em que as pessoas têm de cair da burra. e sair do esquema da publicidade enganosa e mundo de imagens de hoje. acha mesmo que se vai sair da crise só com cenitas tecnológicas viradas para o entretinemento ? com pandemias ? com mais serviços derivados da criação artificial de necessidades?

    reconstrução , agricultura , trabalho de mãos . e nada tem de vergonhoso ou pobre . são as necessidades básicas.
    e é preciso dissociar o saber de bons empregos. criou um efeito perverso tramado ao já não ser verdade. montes de jovens desiludidos ,que agora não estão preparados para o que há que fazer.
    é preciso saber muito hoje , mas para passar incólume no meio desta esquizofrenia.
    é preciso decrescer. viver simples , João.

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  9. O ex-comunista Pina Moura estava incomodadissimo, julgo que o João estava a causar-lhe o efeito de espelho e fê-lo recuar aos bons velhos tempos, antes de se ter vendido ao capitalismo.
    Aquele argumento de "treinadores de bancada há muitos" foi muito baixo e injusto.

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  10. "Aquele argumento de "treinadores de bancada há muitos" foi muito baixo e injusto."

    É argumento e falacioso ...

    Sr. Pina Moura, a idade pode ser um posto mas não lhe dá razão ;)

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  11. "Pina Moura não diz nada e apenas carrega a cruz num acto de fé"

    Alguns chamam-lhe "Wishful Thinking" ... eu também acredito que o Pai Natal e o Coelhinho da Páscoa também nos vão salvar !

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