quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Economia Política está de volta


Parabéns ao CES da Faculdade de Economia de Coimbra pela oportuna conferência que vai organizar em Outubro – “The Revival of Political Economy – Prospects for a sustainable provision”.

Como dizem na convocatória, “o fracasso da economia dominante, reconhecido por muitos, exige um renascimento e renovação da economia política.”

Não posso estar mais de acordo. Trata-se do retorno a uma forma de estudar os fenómenos económicos na sua qualidade de fenómenos e estruturas sociais dirigidos ao bem-estar material da sociedade numa perspectiva sustentável.

Uma disciplina (a tal “ciência económica”) que nas últimas décadas pretendeu emular a física com a construção de modelos matemáticos centrados no indivíduo, adoptou um conceito de racionalidade humana problemático ao separar meios de fins e ignorar os valores, assumiu uma concepção limitada, linear, das relações de causalidade, aceitou acriticamente a ideia de equilíbrio nos fenómenos sociais, pressupôs (erradamente) que os fenómenos macroeconómicos decorrem da adição do que acontece ao nível individual, admitiu nos seus modelos o ‘indivíduo representativo’ ignorando que a variedade é fonte de inovação e dinâmica, e começa a perceber que o que define uma ciência não é um método (o da chamada “escolha racional”), ainda por cima deficiente, mas sim um objecto, um segmento da realidade social, neste caso a economia, que só subsiste em interdependência com as outras instituições da sociedade, em particular o Estado.

Se os economistas começassem por admitir que o seu objecto de estudo são as relações sociais, e as estruturas e sistemas que nelas se baseiam, assim como as normas (ideias, regras, leis, valores, etc.) que constituem os mercados e organizam a economia (incluindo a não mercantil), deixariam de falar de 'equilíbrios' e assumiriam que o seu objecto de estudo é uma instituição em constante devir, um processo social com uma finalidade específica. A provisão da sociedade.

O “Nobel” da Economia deste ano não andou muito longe do essencial ao escrever: “A afirmação de que o processo conta é largamente aceite nas várias ciências sociais, com a flagrante excepção dos economistas.”(1) Bem sei que os textos de Oliver Williamson na realidade estão longe deste reconhecimento pontual, mas já é um grande passo quando a frase é escrita por alguém que, com nuances, ainda pertence à comunidade epistémica dominante.

Quando se lê a entrevista de Richard Posner à revista The New Yorker, fica-se com a sensação que, mesmo com uma Grande Crise que descredibilizou o monetarismo dominante, a mudança nos curricula das Universidades não é para já. Mas algo começa a mexer. Em Chicago, em Cambridge e em Coimbra, um pouco por todo o lado, mesmo que não seja visível. É que o futuro da economia, uma sub-disciplina da Ciência Social, sempre esteve em aberto.

(1) O. Williamson in “The Nature of the Firm”, p.98 (Ed. com S. Winter)

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