"A manchete do Público de hoje fala como um livro aberto sobre a selvajaria social que avança a passos largos: 6o horas semanais para os trabalhadores dos hipermercados e outras grandes superfícies, num acréscimo horário sem pagamento como horas suplementares, o que se estes trabalhadores tiverem só um dia de folga dá 10 horas por dia e, se tiverem dois, dará 12 horas por dia, em funções que só um consumidor muito egoísta não perceberá que são extraordináriamente desgastantes. E também fala como um livro aberto que um dos sectores económicos mais espampanantemente rendosos não se lembre de contratar mais empregados em vez de descarregarrem traços de moderna escravatura sobre os seus actuais trabalhadores. E, depois, como já aqui escrevi a respeito de um debate na Quadratura do Círculo, virão uns sujeitos que apoiam tudo isto e depois dizem umas frases pesarosas sobre as alterações na vida familiar que até se repercutem negativamente no acompanhamento dos filhos." Vítor Dias no Tempo das Cerejas.
Seis breves sublinhados. Primeiro: a esquerda social-liberal, que desistiu de ver o que realmente se passa para lá da placa onde está escrito “proibida a entrada a pessoas estranhas ao serviço”, chama adaptabilidade à selvajaria laboral e promove-a através da reafectação dos direitos e das obrigações entre patrões e trabalhadores. Segundo: o prolongamento de horários deveria ser desencorajado, sobretudo em épocas de crise; neste contexto, quando o desemprego aumenta, as empresas poderiam, por exemplo, ser fiscalmente incentivadas a reduzir os horários de trabalho, sem perda de salários, evitando-se despedimentos ou favorecendo a contratação de mais trabalhadores. Terceiro: as famílias são ameaçadas por uma sociedade de mercado sem freios fiscais ou laborais adequados que, mesmo em crise, odeia tempos mortos, ou tem formas desumanas de os gerar (entre o prolongamento de horários e o desemprego). Quarto: nos balanços das empresas e no cálculo da riqueza gerada não é imediatamente visível a transferência de custos sociais para os trabalhadores, sob a forma de sofrimento no trabalho ou da perda de oportunidades para ter projectos estáveis fora do trabalho. Quinto: a “sociedade de consumo” (por que não considerar, entre outras, a “sociedade de trabalho”?), monta uma armadilha ao identificar-nos maciça e exclusivamente como consumidores. Sexto: só como cidadãos, e com o cultivo e protecção dos espaços onde esta identidade é afirmada, podemos mudar as regras do jogo que acentuam a discricionariedade empresarial (o local de trabalho tem de ser um desses espaços porque o que se passa na empresa diz respeito a todos).
Uma dúvida -Nunca tinha visto a expressão esquerda social liberal. O que é concretamente? Quem pensa que abrange?
ResponderEliminarUma questão- Quando falamos de direitos ameaçados,como os dos trabalhadores enquanto tal e enquanto membros de uma família, da sociedade em geral,devemo-nos sempre lembrar que os direitos com carácter tendencialmente universal, são uma conquista social muito recente.
Se assim pensarmos,por um lado fica claro que ainda falta muito para estarem consolidados, e é preciso continuar a fazê-lo, e por outro tira às pessoas aquela sensação de perda de uma espécie de paraíso que na realidade nunca existiu, levando-as a baixarem os braços.
Esta ideia de conquista recente, dá à sociedade uma maior plasticidade, porque podemos ir mudando as coisas, melhorando-as, tornando-as mais justas mas também mais sensatas, porque não contamos só com as élites, mas também com mais camadas da população com cultura suficiente para falarem em seu próprio nome.
Bom, é óbvio que os patrões estão a usar do seu poder negocial actual (estamos na fase baixa do ciclo económico) para melhorar as suas condições e impor custos sobre a outra parte (os trabalhadores) como acontece com qualquer processo negocial.
ResponderEliminarSó que existe um pequeno GRANDE pormenor. Quando falamos do factor trabalho falamos em PESSOAS, ou seja, VIDAS e não de uma mera mercadoria ou objecto.
É isto que parece que os patrões, pelo menos os que empregam mais pessoas, não compreendem e não conseguem percepcionar.
Se o argumento humanista não funcionar então que funcione o utilitário: os trabalhadores também são consumidores. A redução do custo trabalho implica uma redução na procura interna o que implica uma redução no consumo, sr. Belmiro.
Qualquer dia, com este aumento de horário, temos de contratar reformados, desempregados ou jovens na escolaridade obrigatória para nos fazer as compras!
Ops! E se não houver dinheiro para os contratar?!
Bom, depois perguntamo-nos porque é que o país é tão pouco produtivo...com patrões com esta mentalidade retrógrada e anacrónica que só vêm potencial de crescimento do seu negócio através da redução de direitos dos trabalhadores está tudo dito!!!
A isto é que se chama motivar e liderar!
Se as contas das ditas empresas estão mal, falem com os trabalhadores e expliquem-lhes as dificuldades que a empresa está a passar e a forma de serem ultrapassadas. Podemos ter uma média de instrução baixa mas quando nos falam verdade somos justos e honestos isso eu sei...
Caso esta última circunstância não se verifique cresçam e apareçam...e peçam aulas ao Mourinho!
Cumprimentos
Miguel Rocha
Esqueci-me de acrescentar que quanto mais redução do horário de trabalho, maior a tendência para haver menos desemprego e haver mais bem-estar na sociedade.
ResponderEliminarPara mais perspectivas vejam:
http://samuel-cantigueiro.blogspot.com/2009/12/os-novos-negreiros.html
http://cronicasdorochedo.blogspot.com/2009/12/um-dia-corda-rebenta.html
http://triunfo-da-razao.blogspot.com/2009/12/rumo-escravatura.html
Cumprimentos
Só para dizer que a mensagem anterior é minha.
ResponderEliminarOs novos “negreiros”, versão século XXI
ResponderEliminarAgora num Centro Comercial ou supermercado perto de si.
...deve ser para aumentar a concorrencia de preços, que, diga-se, não existe, salvo raras excepções. Tudo custa o mesmo, ao centimo, como tenho podido verificar numa analise aos produtos que ando a fazer de há uns tempos para cá. depois encontrarei forma de a tornar publica.
ResponderEliminarNão me lembro destas criticas antes durante e depois da aprovação do código de trabalho socialista. Nessa altura era tudo cor-de-rosa agora que um explorador capitalista a aproveita e bem... já que não foi ele que aprovou essa lei nem deu a maioria absoluta, esta errada?
ResponderEliminarNão, esteve esta e estará. Mas enfim como foi aprovada pela esquerda agora aguentem-se.