"Nos últimos anos, a questão dos impactos do salário mínimo sobre o desempenho económico em sido vastamente debatida entre economistas. De acordo com o modelo neoclássico tradicional, assumindo um mercado de factores perfeitamente concorrencial, o aumento do salário mínimo conduziria a uma redução do emprego dos trabalhadores com salários mais reduzidos. No entanto, sabe-se que num contexto em que os empregadores detêm algum poder para determinar os níveis de salários, contrariamente ao que prevê a teoria tradicional, um aumento do salário mínimo não se reflecte necessariamente na redução do emprego, podendo mesmo, em certas situações, conduzir a um aumento simultâneo dos salários e do emprego. Empiricamente, a generalidade dos estudos que procuraram estimar os impactos de aumentos do salário mínimo (ocorridos em diferentes contextos) sobre o emprego, concluiu que os efeitos eram não significativos ou até ligeiramente positivos". Ricardo Paes Mamede, referências omitidas. Referências a que vale a pena prestar atenção porque reflectem o que pensam muitos economistas que não se renderam à distopia do trabalho como mercadoria.
É preciso lembrar estas coisas quando lemos economistas como Campos e Cunha (Público de sexta-feira). No entanto, e para além de desenterrarem duvidosas dicotomias (factos/valores, positivo/normativo), cujo escrutínio fica para outra ocasião, insistem em afirmar que o razoável processo de recuperação do poder de compra do salário mínimo, tal como foi negociado em sede de concertação social, será responsável por aumentos do desemprego e por isso deve ser congelado até ver. Por que é que tantos economistas só conseguem colocar-se na posição de patrões míopes e ver o salário mínimo apenas como um custo e não como uma fonte de procura idealmente promovida de forma coordenada à escala europeia?
Isto para não falar da ideia arbitrária de que o combate às desigualdades e à pobreza só se deve fazer por via fiscal. As inevitáveis regras do jogo, que definem o que é uma empresa, e quem é que nela tem poder para se apropriar do quê, nunca são neutras nestas áreas. O salário mínimo é apenas uma boa regra. Combate a pobreza laboral, reduz as desigualdades, aumenta os incentivos para a modernização produtiva e muito mais. Faz parte de um bom multiplicador da igualdade em Portugal. A desigualdade também deve constar da agenda dos economistas. Os seus custos, em termos de eficiência dos processos económicos, podem ser bem elevados, como a última crise aliás demonstra. Isto, claro, exige ter em atenção elementos como a confiança e a sua erosão, a relação entre as regras e as relações de poder, os seus impactos sobre a saúde e a motivação dos trabalhadores. Elementos que devem fazer parte da economia como boa ciência social que supera simplismos (neo)liberais.
É preciso lembrar estas coisas quando lemos economistas como Campos e Cunha (Público de sexta-feira). No entanto, e para além de desenterrarem duvidosas dicotomias (factos/valores, positivo/normativo), cujo escrutínio fica para outra ocasião, insistem em afirmar que o razoável processo de recuperação do poder de compra do salário mínimo, tal como foi negociado em sede de concertação social, será responsável por aumentos do desemprego e por isso deve ser congelado até ver. Por que é que tantos economistas só conseguem colocar-se na posição de patrões míopes e ver o salário mínimo apenas como um custo e não como uma fonte de procura idealmente promovida de forma coordenada à escala europeia?
Isto para não falar da ideia arbitrária de que o combate às desigualdades e à pobreza só se deve fazer por via fiscal. As inevitáveis regras do jogo, que definem o que é uma empresa, e quem é que nela tem poder para se apropriar do quê, nunca são neutras nestas áreas. O salário mínimo é apenas uma boa regra. Combate a pobreza laboral, reduz as desigualdades, aumenta os incentivos para a modernização produtiva e muito mais. Faz parte de um bom multiplicador da igualdade em Portugal. A desigualdade também deve constar da agenda dos economistas. Os seus custos, em termos de eficiência dos processos económicos, podem ser bem elevados, como a última crise aliás demonstra. Isto, claro, exige ter em atenção elementos como a confiança e a sua erosão, a relação entre as regras e as relações de poder, os seus impactos sobre a saúde e a motivação dos trabalhadores. Elementos que devem fazer parte da economia como boa ciência social que supera simplismos (neo)liberais.
deviam era estar preocupados com a falta de patrões... quando acabar o subsidio de desemprego dos que trabalhavam no quase extinto sector secundário irá acontecer o quê? é que a maior parte dos serviços inventados pelo estado para empregar licenciados eram parasitários da produção.
ResponderEliminartenho impressão que a velhinha enxada vai voltar à moda outra vez.
a revolução agtícola do sec. XXI , sem dúvida , é o que vem aí.
ResponderEliminarObserva-se grande convergência entre Campos e Cunha e o patrão da CIP, Van Zeller, na “estóica busca de soluções para a salvaguarda do emprego”.
ResponderEliminarAtrevo-me mesmo a pensar, que com tamanha visão, ninguém morrerá neste país pela falta de emprego…(pode é morrer-se de outras coisas, mesmo para além da mera “confiança/erosão” posta na relação de trabalho.)
Ainda que mal pergunte: bombardearam-nos durante décadas com a "moderação salarial" porque uma excessiva subida dos salários provocaria inflação; agora que o risco é de deflação, não seria uma boa altura para aumentar salários? E, já que os salários da Função Pública têm um efeito de arrastamento sobre os outros, não seria uma boa ideia começar por eles?
ResponderEliminarCampos e Cunha, Van Zeller , e todos os Vitores Constâncios desta praça e que dela só têm dado cabo(como Cesar das Neves - um dos Abomináveis...; Silva Lopes (que fala fala e não larga o osso e outros quejandos(ministros e ex-ministros... ) deviam era ser obrigados a viver, melhor dito, sobreviver, durante certo tempo - de preferência largos e largos meses - com o ordenado minimo nacional.
ResponderEliminarDe certeza absoluta que rápidamente arranjariam justificação(económica, claro)para o seu bastante substancial aumento. Era vê-los a defender passagem do actual ordenado minimo de 400 e tal € para 3, 4 5 mil ou mais €.
Trampolineiros é o que estes srs são e desde há muitos anos.
Actualizar o link do RPM:
ResponderEliminarhttp://iscte.pt/~rpme/Documentos/RPM_2008_BMEP.pdf