terça-feira, 13 de outubro de 2009

Williamson II – A herança de Coase

O trabalho de Ronald Coase (prémio Nobel da Economia em 1991), em particular o seu influente artigo «The Nature of the Firm» de 1937, constitui a pedra basilar do trabalho de Williamson. Coase parte da noção de que existe uma distinção fundamental entre o funcionamento do sistema de preços (que constitui a base das transacções de mercado) e o funcionamento de uma empresa. Em ambos os casos estamos perante formas de coordenação das actividades económicas entre indivíduos. No entanto, enquanto no primeiro caso a coordenação é obtida com base na flutuação dos preços em resposta aos movimentos de oferta e de procura, no caso das empresas a coordenação ocorre através da estrutura hierárquica, onde um gestor define os termos em que a produção ocorre. Neste segundo caso, portanto, o sistema de preços é eliminado e substituído pela direcção organizacional como mecanismo de coordenação.

É com base nesta distinção que Coase encontra uma explicação para a razão de ser das empresas: é que a utilização do sistema de preços acarreta custos. Coase sugere três tipos de custos que podem estar associados à utilização do mecanismo de preços: (i) dificuldade em identificar os preços de mercado relevantes de cada transacção (nas transacções internas à empresa a identificação do valor das transacções pode ser útil, mas não é estritamente necessária); (ii) custos de negociação de contratos sucessivos (no seio da empresa, o contrato de trabalho substitui a realização de um contrato separado para cada transacção efectuada); (iii) dificuldade em prever todas as contingências futuras possíveis (o que torna os contratos demasiado generalistas e, logo, potencialmente ineficazes, tornando mais eficiente gerir as transacções através da autoridade interna à empresa).

Segundo o autor, estes custos estão ausentes quando a coordenação da produção é efectuada no seio da empresa. Isto deve-se à especificidade da natureza dos contratos estabelecidos entre empregadores e trabalhadores assalariados: este tipo de contrato é caracterizado pelo facto de um indivíduo - o empregado - aceitar, dentro de certos limites, obedecer às ordens de outro indivíduo - o empregador - em troca de um salário determinado (fixo ou variável). A essência do contrato de trabalho reside na definição dos limites do poder do empregador sobre o empregado; dentro desses limites o primeiro pode determinar a utilização dos recursos produtivos como entender.

Em suma, Coase sugere que a constituição de uma empresa, ao permitir a autoridade de um indivíduo sobre outros (tendo em vista a afectação dos recursos produtivos) permite evitar alguns custos que estão presentes no funcionamento do mecanismo de preços. Esta ideia-chave constitui o ponto de partida do trabalho de Williamson.

(Continua.)

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