sábado, 10 de outubro de 2009

Escolhas e apostas para uma espécie de Prémio Nobel

Esta coisa do Prémio Nobel da Economia é complicada. Em primeiro lugar, trata-se de uma espécie de Nobel. Alfred Nobel não considerava a Economia uma ciência digna desse nome e na realidade o prémio é atribuído pelo Banco Central da Suécia («em memória de Alfred Nobel»…). Em segundo lugar, o prémio tem um enviesamento teórico e ideológico claro, que reflecte bem a natureza da instituição que o atribui e da disciplina premiada. De qualquer forma, o prémio tem peso político e intelectual. É mesmo difícil ignorá-lo. Na próxima segunda feira é anunciado o deste ano. Fazem-se apostas e tudo. Isto oferece um pretexto para se falar de economistas e oferecer razões para a atribuição do prémio.


A minha escolha vai sempre para Albert Hirschman. Aos 94 anos, o Prémio reconheceria os seus notáveis contributos para a economia do desenvolvimento, para a história das ideias, para a superação das barreiras disciplinares, para a economia como ciência política e moral. Umas das minhas reflexões preferidas: «A generosidade, a benevolência e a virtude cívica não são recursos escassos de oferta limitada, mas também não são competências que possam ser melhoradas e expandidas de forma ilimitada com a prática. Em vez disso, tendem a exibir um comportamento complexo e compósito, atrofiando quando não são praticadas e invocadas pelo regime socieconómico prevalecente e tornando-se de novo escassas quando são defendidas e estimuladas em excesso. Para tornar as coisas ainda mais complicadas estas duas zonas de perigo (...) não são conhecidas e muito menos são estáveis». No entanto, se John Kennneth Galbraith não ganhou, o mais provável é que Hirschman também não ganhe.

Entre os favoritos deste ano escolheria Ernst Fehr. O seu trabalho em economia comportamental e experimental, no cruzamento da economia e da psicologia social, tem vindo a ser reconhecido. Destaco os seus contributos sobre os fundamentos psicológicos dos incentivos pecuniários (mostrando os seus limites e efeitos perversos), o papel da reciprocidade na provisão de bens públicos e a interacção entre as normas sociais e o comportamento económico, de que este estudo antropológico é exemplo. Enfim, muito disto já foi escrito por antropólogos e psicólogos, mas não subestimem a arte que é requerida para que um economista pense sobre estes assuntos…



No entanto, se tivesse de apostar escolheria dois nomes: Robert Shiller e Ben Bernanke. Ainda os efeitos da crise. O primeiro pelos seus contributos na área das finanças comportamentais, demolindo a hipótese dos mercados eficientes, enfatizando a exuberância irracional dos mercados financeiros e reintroduzindo hipóteses comportamentais mais realistas, já formuladas por Keynes: papel das convenções, racionalidade mimética, enviesamentos cognitivos sistemáticos. A sua antecipação da bolha no imobiliário ajuda. Bernanke não antecipou a bolha, bem pelo contrário, mas quando esta rebentou achou que a Reserva Federal tinha o poder de salvar o capitalismo norte-americano. Estudioso da Grande Depressão, usou todos os instrumentos à sua disposição e ainda inventou alguns novos, tirando todas as ilações do facto da moeda ser uma criação do Estado. Estas são as minhas apostas. Segunda-feira logo se vê.

1 comentário:

  1. Caro João Rodrigues, Ben Bernanke? Será possível que você ainda não tenha percebido o que é o FED? Santa ingenuidade...

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