terça-feira, 29 de setembro de 2009
Quilos e Quilos de Bolo Rei
As declarações do Presidente da República sobre o caso das escutas são um dos momentos mais confusos e disparatados da vida política dos últimos anos. Senão vejamos:
1. O PR não esclarece se afinal desconfia ou não das escutas. Despediu o seu assessor mas também não esclarece se ele ficou ou não na Casa Civil. E, no entanto, parece relativamente evidente que um assessor de imprensa que implicasse sem fundamento o PR numa denúncia à Comunicação Social não arranjaria um emprego na Câmara do Marco de Canavezes, quanto mais permanecer na Casa Civil...
2. Sobre os problemas de segurança, o PR aposta na confusão: fala sobre violação de e-mails da Presidência, como se o e-mail que veio a público tivesse alguma coisa a ver com a Presidência e não fosse um e-mail entre dois jornalistas. Aliás, qualquer desses jornalistas poderia ter posto cá fora a dita-cuja missiva (não estou a dizer que foi o caso) sem que para isso fosse preciso qualquer filme de espionagem. De qualquer forma, não existe nenhum facto que sugira violação da correspondência da Presidência ou, se existe, ele não foi referido pelo PR.
3. Se a ideia era matar uma falsa notícia, não se percebe porque não o fez durante a campanha, desanuviando o ambiente e recentrando a campanha no debate de ideias. Ao deixar essa dúvida marinar, aparentemente sem fundamento e por responsabilidade (no mínimo) de um elemento da sua própria Casa Civil, o PR efectivamente interferiu na campanha. Aliás, não foram só os dirigente do PS, BE e PCP que exigiram um esclarecimento imediato. Pacheco Pereira falou no mesmíssimo sentido.
4. Porque não pode reconhecer essa ingerência, o Presidente foge para a frente: atira-se a dirigentes não identificados (coisa mui digna e isenta num Presidente), lança mais suspeitas e insinuações e encoraja o clima de dúvida e confusão. Ou seja, mais poeira e intriga irresponsável.
5. Esta embrulhada, que partiu da Presidência da República e promete continuar a entreter o país (por acaso, durante outra campanha eleitoral), mostra bem como o sentido de Estado é entendido pela Presidência. A isenção é uma palavra para usar e abusar nas comunicações ao país mas sem grande valor para a prática política quotidiana. É por isso que a fotografia que ilustra este post se arrisca a tornar-se um dos momentos menos constrangedores da vida política de Cavaco Silva. Ele é bem pior sem a boca cheia.
Já tinha dito que para El Rey Sr. Silva era bem melhor ter a boca calada do que dizer qq coisa.
ResponderEliminarO que agora fico a perceber é que El Rey é bem pior na escolha do "timming", do que a dizer o quer que seja.
Mas ... e pior para quem ?
Esta gente.. enfim...
ResponderEliminarMas queriam o quê? Que ele viesse dizer que "desconfia" que anda a ser vigiado??
Isso era parvo. Ou tem a certeza e tem provas, e aí vai o Sócrates dentro (dando-se uma crise institucional no país), ou, ao só "desconfiar", podia comentar apenas no sei círculo de confiança. Mas foi, aparentemente, quebrado por um linguarudo. Agora obviamente que tem que vir com este discurso. E acho que não temos de fazer o papel de criancinhas mimadas a querer escrutinar tudo. Querem mesmo que ele diga "desconfio"?
Quanto ao timing realmente não foi o melhor.
... o boliqueime não tem perfil para este emprego !
ResponderEliminarRui Alves,
ResponderEliminarEle reconheceu que a questão das escutas não tinha fundamento... e depois inventou outra, com aquela parvoíce dos e-mails...
Serei uma criancinha mimada, mas reservo-me o direito de saber tudo quando o PR viola o seu dever de neutralidade numa campanha. Se isso se deveu a um "linguarudo" (acredita mesmo só quem quer muito), então esse linguarudo deveria estar no olho da rua e não na Casa Civil.