[Conclusão do texto iniciado aqui e continuado aqui]
3. A democracia tem de estar presente também na economia e nas relações económicas
Por último, queria referir que a actual crise veio também impor que se proceda à revisão do conceito de empresa e, consequentemente, à definição dos parâmetros de definição da responsabilidade social da mesma.
A democracia não pode ficar confinada ao sistema político e dizer respeito apenas às funções do estado na sua relação com os cidadãos e cidadãs enquanto votantes. A democracia tem de estar presente também na economia e nas relações económicas.
A ideia de que o mercado, só por si, é o garante da democracia económica presidiu ao pensamento liberal e neo-liberal das últimas décadas, mas hoje não resiste à verificação empírica: as grandes desigualdades, o risco ambiental, o desemprego massivo, só para referir alguns exemplos de disfunções que o mercado não previne nem corrige. Volta a falar-se na necessidade de um papel mais interventivo do Estado e dos Órgãos de regulação e orientação estratégica do desenvolvimento que matizem o papel do mercado, nomeadamente na salvaguarda do bem comum, da coesão social e dos direitos das futuras gerações.
Também o conceito de empresa carece de profunda revisão. Com efeito, a empresa não é apenas um capital, mas uma realidade social complexa, que envolve múltiplas relações: entre os diferentes sujeitos que nela intervêm (trabalhadores, fornecedores, clientes, além dos detentores do capital) bem como com a sociedade onde está implantada e onde opera. Assim sendo, os gestores não devem responder apenas, como hoje sucede, perante os accionistas que os nomeiam, mas devem também assumir responsabilidades perante os demais elementos que integram a empresa. Ladislau Dowbor ao defender a democracia económica, afirma que esta “se manifesta na qualidade da inserção no processo produtivo, no acesso equilibrado aos resultados do esforço, e no acesso à informação que assegure o direito às opções.” Estas questões não são novas. A título de exemplo, veja-se Robert A. (1985) - A preface to economic democracy, University of Califórnia Press.
Concluindo
No meu próprio percurso académico, fui acompanhando e participando no esforço comum para reconduzir a economia à sua matriz ética donde nunca deveria ter saído.
Quero crer que a presente crise venha a ter o mérito de colocar de novo na agenda académica e política estas questões e abrir caminho para a construção de uma real democracia económica, capaz de assegurar, em simultâneo, eficiência na utilização responsável dos recursos e repartição equitativa dos bens alcançados.
A extensão e a persistência do fenómeno da pobreza à escala mundial, incluindo nesta os países ricos e de economia avançada, a par de uma maior consciência dos direitos humanos universais são, a meu ver, razões para acelerar as mudanças de paradigma económico que a crise exige.
Combater as causas da pobreza e erradicá-la das nossas sociedades de abundância e desperdício, enquanto violação de direitos humanos, implica olhar criticamente para o modelo de economia actual e identificar caminhos que levem à democratização da economia, incluindo a revisão dos conceitos de empresa e de mercado em que aquela se fundamenta.
experimente criar uma empresa democrática , senhor economista de esquerda. peça , se não tem dinheiro , crédito ao banco e inove , mostre ao mundo a superempresa criada com os seus conhecimentos teóricos de como se deve gerir em prol da felicidade social . não há nada como o exemplo bem sucedido para difundir uma ideia. como diz ghandi : seja a mudança que quer ver no mundo , e deixe-se de mandar bitaites "académicos". a academia só produz tonteria. lidam com ideias , não com pessoas. e pessoas , felizmente , não somos ideias moldáveis ao que qualquer sicrano ou fulano pensa. a economia de "esquerda" cada vez mais parece religião. e Cristo já disse tudo o que havia para dizer.
ResponderEliminarFernando Madrinha (Jornal Expresso - 1/9/2007):
ResponderEliminar[...] Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.
Diogo , o robert happé é bem bom ,liberta-o do " crescimento económico". grande palermice , essa , do crescimento económico , igual à salvação eterna : não me digam que as necessidades humanas são infinitas ? é que se a humanidade acha isso , é bem burra e merece tudo o que lhe possa acontecer.
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