Sabemos que a provisão pública e universal de bens e serviços essenciais, financiados por impostos progressivos, é o mais eficaz meio para os disponibilizar a todos. O Estado Social pode e deve ser expandido. Ele não é um fardo, mas um dos melhores activos de que um país dispõe porque gera valores de uso e padrões de interacção com externalidades positivas - da maior confiança entre cidadãos que partilham instituições à superação dos efeitos antimeritocráticos da lotaria da classe onde se nasce, passando pela promoção de um uso ambientalmente mais sustentável dos recursos. Este último ponto merece ser sublinhado: a desigualdade social e a fraqueza dos mecanismos redistributivos estão associadas ao predomínio do individualismo consumista que é ambientalmente insustentável. Um governo de esquerda não alinha no relativismo moral que justifica todas as preferências, suportadas por dinheiro, que se revelam nos mercados.
O Estado Social depende, por sua vez, de políticas de investimento que combatam um dos grandes desperdícios do capitalismo corrente: o desemprego e a insegurança que tolhe largos segmentos da população. Um governo de esquerda não pode ficar especado à porta das empresas. Tem de destrancar as latentes reservas de criatividade e de inovação através da promoção da democratização das relações laborais e do reforço do protagonismo dos trabalhadores dentro das empresas. Isto é meio e fim: uma economia mais pujante e cidadãos activos que não deixam de o ser quando entram no local de trabalho.
Pleno emprego, Estado Social e democracia nas empresas são algumas das tecnologias sociais que temos de descobrir e afinar se, seguindo o filósofo G. A. Cohen, recentemente falecido, queremos efectivar dois princípios de uma sociedade decente: igualdade substantiva de oportunidades para que os indivíduos alcancem funcionamentos genuinamente humanos e uma comunidade política onde as pessoas se respeitem pelo que são e não pelo que têm. A construção social das liberdades começa por aqui. Um governo de esquerda depende da hegemonia deste imaginário social. Eu chamo socialismo a este processo. A esquerda que conta é também a que recupera e reinventa uma palavra que alguns gostariam de ver proscrita.
A minha crónica semanal no i também pode ser lida aqui.
Caro João,
ResponderEliminarPasso a citar "Sabemos que a provisão pública e universal de bens e serviços essenciais, financiados por impostos progressivos, é o mais eficaz meio para os disponibilizar a todos"
A minha pergunta :Refere-se a bens públicos como a saúde e educação e a monopólios naturais como a electricidade ou energia?Ou também a outro tipo de bens e quais,pq eu sempre aprendi que o mercado era mais eficiente na provisão dos mesmos.
Cumps
Uma leitura mais atenta já me tirou as dúvidas,refere-se a bens essenciais tais como a saúde e educação,financiados por imps prog
ResponderEliminarLapso meu,ou tentativa de uma leitura demasiado rigorosa ou á letra.De qualquer forma este post está muito sucinto e claro!
"Um governo de esquerda não pode ficar especado à porta das empresas. Tem de destrancar as latentes reservas de criatividade e de inovação através da promoção da democratização das relações laborais e do reforço do protagonismo dos trabalhadores dentro das empresas."
ResponderEliminar.
Tem algumas ideias sobre como fazer ou promover isto?
sei lá , quantas pessoas acha que estão dispostas a criar uma empresa em que o estado não fique à porta? sobretudo um estado que o que quer é mais dinheiro para distribuir pelos " seus" e que tem um curriculo jeitoso no que se refere à gestão de empresas públicas : à parte as que vendem produtos vendidos à partida , a maioria dá prejuizo , nè ? se não saber gerir a coisa pública, por que razão há-de saber gerir a coisa privada . ah já sei , manda bitaites e as pessoas que obedeçam. já agora , que não fique à porta de nossa casa também , e que nos ensine a construir uma sagrada família , não? suponho que será o próximo passo da vossa cruzada contra a liberdade de acção.
ResponderEliminar