sexta-feira, 3 de julho de 2009

Três leituras de economia política crítica

Um dado resume bem o sonho norte-americano: 5% da população mundial, quase 25% da população prisional mundial. Uma indústria repressiva que se expandiu com o aumento das desigualdades associado à hegemonia do neoliberalismo desde os anos setenta. Já sabemos que, entre os países desenvolvidos, quanto maior é a desigualdade de rendimentos, mais elevado é o peso da população prisional. Um dos muitos custos sociais das utopias de mercado. Quem disse que o Estado desaparece? Nos EUA, o Estado sofreu uma mutação: redistribuição para os mais ricos e porrada para os mais pobres. Isto vê-se na estrutura da despesa. Está tudo num excelente artigo da Monthly Review sobre o Estado Penal norte-americano.

Entretanto, a investigação sobre os determinantes sociais da saúde tem identificado alguns dos padrões socioeconómicos mais relevantes do ponto de vista político: a injustiça social faz mal à saúde. A propósito do último relatório da OMS sobre o tema, este artigo de Vicente Navarro destaca, no quadro de uma análise geral da trajectória socioeconómica contemporânea, a relação entre a profundidade das divisões de classe e a saúde.

A análise crítica da crise não pára. As revistas académicas de economia política começam a organizar números especiais sobre o tema. Poucas estão tão bem posicionadas como o Cambridge Journal of Economics. As minoritárias tradições institucionalista, marxista e keynesiana radical fornecem, em conjunto, as melhores análises do que se está a passar. Este artigo de Randall Wray, um discípulo do agora tão citado Hyman Minsky, é um bom exemplo de como a boa teoria nos pode dar pistas para entendermos que forma de capitalismo está em crise. Infelizmente, é o único artigo acessível.

2 comentários:

  1. Falta dizer o essencial: a privatização das prisões e a corrupção dos juízes que recebem por cada cabeça que mandam para a prisão. Nem que sejam crianças que fazem blogs a dizer mal do director da escola. Vai para a prisão, levem mais um cliente, venha o guito. No Reino Unido também há disso. O Jack straw prometeu eliminá-las, mas quando foi para o poder aumentou a rede. São lobbys poderosos de uma justiça mercantilizada. Vejam tudo isto neste excelente artigo: http://www.monbiot.com/archives/2009/03/03/the-proceeds-of-crime/

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  2. Joao, dou-te mais um ingrediente para perceberes o que se passa "nas trincheiras" em termos de economic poliitica.

    Na instituicao onde trabalho, estamos haa um ano muito activos num programa de assistencia com vaarias IFIs a um paiis de populacao numerosa no subcontinente asiaatico, paiis este que estaa a ser submetido aa velha foormula do IMF (de novo, nem com o ar fresco do Blanchard a praatica no terreno muda muito).

    Com muitas reservas aa formula aplicada, uns colegas escreveram um working paper com o Randall Wray e o Bill Mitchell sobre alternativas concretas aa formula do FMI para esse paiis.

    No mormento em que os jornais do paiis comecaram a noticiar as discordancias do Working Paper, a mensagem do FMI foi: "are you with us or alone?".

    Resultado: o working paper for retirado da web!

    Assim se ve como, 10 anos depois da crise asiaatica, a economia poliitica dominante age para silenciar discordancias, mesmo quando estas sao apenas apresentadas para discussao.

    Keep up the good work Joao!

    Cumprimentos
    Joao Pedro

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