José Manuel Fernandes atacou em editorial o manifesto pelo investimento público para combater o desemprego. Deixemos de lado o escandaloso facto de o "Público" não ter noticiado tal iniciativa e concentremo-nos numa das suas pérolas: «a globalização é um facto da vida - tal como a gravidade é outro facto da vida». A opinião convencional hesita na sua apologia da globalização económica: ou é fatalista e recorre a metáforas naturais e a determinismos tecnológicos, ou é histérica e vê em qualquer medida sensata de política pública dita proteccionista uma perigosa conspiração para destruir a frágil construção da globalização. O resto da crónica pode ser
lido no i.
E de resto apetece-me deixar isto:
ResponderEliminar"O texto é um objecto fétiche e essse fétiche deseja-me. O texto escolhe-me, através de toda uma disposição de telas invisíveis, de chicanas selectivas (...)
Os sistema ideológicos são ficções (fantasmas de teatro, diria Bacon), romances - mas romances clássicos com muitas intigras, crises, personagens boas e más . (....) Cada ficção é mantida por um falar social, por um sociolecto, com o qual se identifica: a ficção é o grau de consistência que uma linguagem atinge quando excepcionalmente pege e encontra uma classe sacerdotal ....
«Cada povo tem acima de si um céu de conceitos matematicamente repartidos e, sob a exigência da verdade, ele exige então que qualquer deus conceptual seja procurado apanas na sua esfera» (Nietzche): estamos todos presos na verdade das linguagens, isto é, na sua regionalidade, somos arrastados pela formidável rivalidade que regula a sua vizinhança. Pois cada falar (cada dicção) combate pela hegemonia; se tem por si o poder, estende-se por toda a parte na corrente e no quotidiano da vida social, torna-se doxa, natureza... Há i,a tópica implacável que regula a vida da linguagem; a linguagem vem sempre de algum lugar, é um topos guerreiro.
(...)
(Diz-se correntemente «ideologia dominante». Esta expressão é incongruente. Pois o que é a ideologia? É precisamente a ideia enquanto domina(!!): a ideologia só pode ser dominante. Tanto é correcto falar de «ideologia da classe dominante» visto que existe efectivamente uma classe dominada, quanto é inconsequente falar de «ideologia dominante», visto que não há nenhuma ideologia dominada: do lado dos «dominados» nãpo há nada, nenhuma ideologia, senão precisamente - e é este o último grau da alienação - a ideologia que eles são obrigados (para simbolizar, logo para viver) a tomar à classe que os domina. (!!) A luta social não pode ser reduzida à luta de duas ideologias rivais: é a subversão de qualquer ideologia que está em causa.)"
in Roland Barthes
O Prazer do Texto
páginas 66-73
Oi João,
ResponderEliminarHonestamente não concordo com a visão apologista de proteccionismo. O proteccionismo apela:
a) ao egoismo, neste caso nacional;
b) cria uma barreira ficticia entre nós e eles baseados em algo tão subjectivamente errado como uma linha num mapa.
Quanto ao facto de a globalização ser inevitavel, eu espero honestamente que o seja e é um movimento que se iniciou à 10.000 anos atrás, quando tribos se juntaram e criaram vilas, e de vilas cidades, e de cidades estados, etc...
O tipo de globalização é motivo de discussão, não propriamente o movimento de globalização...