quinta-feira, 9 de abril de 2009

Confrontar a Alemanha com as suas responsabilidades

O Commerzbank anunciou há dias uma previsão de quebra no produto da Alemanha de 6 a 7% em 2009. Nos próximos dias serão anunciados os números de outras organizações. No essencial, confirmar-se-á a análise de Wolfgang Münchau escrita em Novembro do ano passado:

"O duplo problema da zona euro, e da Alemanha em particular, é a convicção de que toda a política económica é estrutural e que a criação de uma moeda única é irrelevante para a política económica. A falácia destas convicções ficará demonstrada muito em breve - a um custo que nos deixará mutilados."

Face à grande crise do capitalismo neoliberal, não tenho a menor dúvida que os cidadãos de esquerda devem defender políticas federais e articular a sua luta à escala europeia. Que fique bem claro: hoje, na UE, ou nos salvamos todos ou nos perdemos todos.

O governo Alemão tem de ser interpelado por uma coligação de países da UE nos termos que o sociólogo francês Emmanuel Todd já há algum tempo delineou na conclusão do seu livro Après la démocratie:

- assumir que a Alemanha é o coração industrial da Europa e que a sua iniciativa é indispensável ao sucesso de uma política de combate à Nova Depressão, o que implicaria a instituição de uma política comercial comum e a revisão dos estatutos do BCE.

- fazer compreender à Alemanha que tem mais a ganhar com o relançamento da procura interna europeia do que com as exportações para a China, ou mesmo para o resto do mundo (Ver a justificação aqui).

- avisar os dirigentes políticos alemães e a sua opinião pública que, no caso deste exercício de persuasão falhar, esse grupo de países abandonará a zona euro, o que significa o colapso do sistema.

Confrontar a Alemanha com as suas responsabilidades é um caminho político ousado mas pode ser bem sucedido. Porque, como lembra Todd (p. 256), "estando também a ser prejudicada por um euro forte, a Alemanha acabaria por tomar uma decisão pragmática, ou seja uma decisão que também a beneficia, a de proteger a Europa."
Definitivamente, precisamos que a Alemanha ponha a Europa acima da sua quota no mercado chinês.

Sobre isto, o que pensam os candidatos das esquerdas do meu País ao Parlamento Europeu? Têm outras propostas? Quais? É isto que importa discutir.

1 comentário:

  1. mas afinal o que querem que a Alemanha faça. Que gaste as reservas que acumulou com os excedentes comerciais para estimular as economias de toda a zona euro? Que começam a registar enormes défices orçamentais ao estilo americano, para que a UE passa a ser uma zona económica devedora em vez de credora que ainda é (muito graças à Alemanha) e assim enfraquecendo ainda mais a estabilidade da moeda única.
    o que precisávamos era ter mais países como a Alemanha na Europa. Talvez assim houvesse agora algum dinheiro para gastar em estímulos, o problema é que estão todos sem margem orçamental.

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