Tive de reler nestes dias as conclusões da Presidência do Conselho Europeu de Lisboa de 23-24 de Março de 2000 que aprovaram a “Estratégia de Lisboa”. É triste verificar quanto a estratégia envelheceu embora só tenha nove anos, e como tendo envelhecido deixou à vista o que ela na realidade sempre foi: um mapa da estrada para a adaptação da Europa ao projecto globalista de expansão sem limites do mercado.
A estratégia baseava-se em ideias simples que eram claramente apresentadas no documento que preparou o Conselho: (1) a globalização, a mudança tecnológica e o envelhecimento populacional são “desafios inevitáveis”; (2) a estratégia da União Europeia não deve ser concebida apenas como uma resposta defensiva a estes desafios, mas antes como uma resposta afirmativa e criativa às novas oportunidades que estão a emergir; (3) a Europa pode conciliar os objectivos aparentemente antagónicos da globalização e da coesão social se apostar na “nova economia baseada no conhecimento” e se modernizar “o modelo social europeu”.
Por este caminho a EU tornar-se-ia numa década (isto é daqui a um ano) no “espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo”.
A estratégia é eloquente tanto pelo que diz como pelo que não diz.
Começando pelo que diz. Primeiro: é preciso dar um grande salto em frente, subir a escada da inovação tecnológica e empurrá-la depois, trancando a passagem a quem venha atrás. Dessa forma poderíamos exportar coisas sofisticadas caras, pagando salários relativamente elevados, e importar produtos banais baratos feitos com trabalho indiferenciado e igualmente barato. Nada de novo portanto. E nada de muito diferente do que a Alemanha efectivamente tem vindo a fazer. Segundo: pelo sim pelo não é preciso modernizar o modelo social: no fundamental individualiza-lo, flexibilizar a regulação das relações laborais.
Passando ao que não diz. No lugar do que verdadeiramente se veio a revelar importante – o predomínio da finança sobre a economia e a sociedade e a necessidade de o contrariar – defendia uma maior integração financeira.
O resultado está à vista. Como não podia deixar de ser os ‘países emergentes’ não pediram licença para subir a escada e com a ajuda de empresas globais, inclusive europeias, ocuparam posições também na “economia baseada no conhecimento”. Uma minoria de quadros chineses e indianos altamente qualificados é uma multidão. Em consequência, a pressão sobre os salários no sentido da descida passou a afectar quase todos os trabalhadores à excepção de redutos da alta finança. A desindustrialização continua agora na “economia baseada no conhecimento”. Como sabemos, com a falência da Quimonda a Europa deixará de produzir componentes essenciais para o fabrico de computadores. A modernização do modelo social traduziu-se sobretudo em flexibilização dos salários e dos tempos de trabalho e lazer, em redução da cobertura dos serviços públicos e crescimento da provisão privada de saúde, educação e de segurança na velhice. A integração financeira avançou de acordo com as regras e os princípios que a própria finança ditou.
A Estratégia de Lisboa como todo o processo de construção europeia foi um compromisso político. Neste caso houve mesmo economistas de esquerda que tiveram um papel destacado na concepção e no desenho dos termos do acordo e que o festejaram depois. Isso só mostra até que ponto as utopias mercantis se haviam tornado hegemónicas nos idos de 2000.
A estratégia baseava-se em ideias simples que eram claramente apresentadas no documento que preparou o Conselho: (1) a globalização, a mudança tecnológica e o envelhecimento populacional são “desafios inevitáveis”; (2) a estratégia da União Europeia não deve ser concebida apenas como uma resposta defensiva a estes desafios, mas antes como uma resposta afirmativa e criativa às novas oportunidades que estão a emergir; (3) a Europa pode conciliar os objectivos aparentemente antagónicos da globalização e da coesão social se apostar na “nova economia baseada no conhecimento” e se modernizar “o modelo social europeu”.
Por este caminho a EU tornar-se-ia numa década (isto é daqui a um ano) no “espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo”.
A estratégia é eloquente tanto pelo que diz como pelo que não diz.
Começando pelo que diz. Primeiro: é preciso dar um grande salto em frente, subir a escada da inovação tecnológica e empurrá-la depois, trancando a passagem a quem venha atrás. Dessa forma poderíamos exportar coisas sofisticadas caras, pagando salários relativamente elevados, e importar produtos banais baratos feitos com trabalho indiferenciado e igualmente barato. Nada de novo portanto. E nada de muito diferente do que a Alemanha efectivamente tem vindo a fazer. Segundo: pelo sim pelo não é preciso modernizar o modelo social: no fundamental individualiza-lo, flexibilizar a regulação das relações laborais.
Passando ao que não diz. No lugar do que verdadeiramente se veio a revelar importante – o predomínio da finança sobre a economia e a sociedade e a necessidade de o contrariar – defendia uma maior integração financeira.
O resultado está à vista. Como não podia deixar de ser os ‘países emergentes’ não pediram licença para subir a escada e com a ajuda de empresas globais, inclusive europeias, ocuparam posições também na “economia baseada no conhecimento”. Uma minoria de quadros chineses e indianos altamente qualificados é uma multidão. Em consequência, a pressão sobre os salários no sentido da descida passou a afectar quase todos os trabalhadores à excepção de redutos da alta finança. A desindustrialização continua agora na “economia baseada no conhecimento”. Como sabemos, com a falência da Quimonda a Europa deixará de produzir componentes essenciais para o fabrico de computadores. A modernização do modelo social traduziu-se sobretudo em flexibilização dos salários e dos tempos de trabalho e lazer, em redução da cobertura dos serviços públicos e crescimento da provisão privada de saúde, educação e de segurança na velhice. A integração financeira avançou de acordo com as regras e os princípios que a própria finança ditou.
A Estratégia de Lisboa como todo o processo de construção europeia foi um compromisso político. Neste caso houve mesmo economistas de esquerda que tiveram um papel destacado na concepção e no desenho dos termos do acordo e que o festejaram depois. Isso só mostra até que ponto as utopias mercantis se haviam tornado hegemónicas nos idos de 2000.
Eu peço desculpa mas a seriedade dos problemas merece um sorriso de vez em quando:
ResponderEliminarhttp://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/o-ridiculo-mata-ou-o-blog-de-manuela.html
Talvez fosse interessante abordar a questão das exportações, como "sinal da incapacidade ( tecnológica/económica) dos outros" - no fundo, o DESEJO dos exportadores, para os não residentes e, a crua realidade... para os residentes!
ResponderEliminarNão se pode ter uma estrutura assente... na "desgraça" de outros!!!
J.A.