terça-feira, 3 de março de 2009

A economia é demasiado importante…

«Segue um exemplo simples, com consequências complicadas. Disseram-nos que os altos salários e incentivos nos executivos da banca serviam para recompensar o “talento”. Concentremo-nos na última parte. Que talento é este, para além do feito de trazer o sistema financeiro para a beira do colapso?». Rui Tavares de volta ao Público a mostrar por que é que a economia é demasiado importante para ser deixada aos economistas. Apenas uma das muitas perguntas que muitos economistas ainda não conseguem fazer.

A ideologia, como os preços em alguns modelos «keynesianos bastardos», é viscosa. Entretanto, o seu monopólio sobre a discussão económica esfumou-se. Ainda bem. Lembremos de novo Joan Robinson: «estudar economia não serve para aprender respostas prontas, mas sim para não se ser enganado por economistas». Já só é enganado quem quer. A responsabilidade das crenças económicas no desastre, como já aqui defendi, parece evidente.

No seguimento do apelo feito por um leitor (Stran), lembro um excerto de uma entrevista dada por Campos e Cunha, um distinto economista que num Prós e Contras recente nem sequer esboçou um princípio de resposta a uma pergunta singela: «Mas afinal o que causou esta crise?». Já passou o tempo em que as respostas saiam prontas. Tanto melhor. Esta crise é uma grande e desgraçada lição, mas não são os economistas académicos que nos andaram a vender romances de mercado que a vão pagar. As ideias têm sempre consequências.

Entretanto, aproveito para recomendar este livro de introdução à economia do capitalismo. Escrito por Jim Stanford, economista do sindicato da indústria automóvel do Canadá. A economia é mesmo para todos. A crise também enterrou o Freakonomics e outras vulgarizações da perniciosa ideologia do imperialismo económico de Chicago que tanto venderam entre nós. Tempo e dinheiro perdidos. Este livro é um acessível guia para o que realmente importa: que relações sociais, que regras, é que definem quem se apropria do quê e porquê no razoavelmente plástico sistema económico a que chamamos capitalismo? Sei que está a ser escrita, em português, uma introdução a estes e outros temas económicos. Promete. Aguardemos.

5 comentários:

  1. Antes demais obrigado!

    Fui ler os vários links que colocaste no teu artigo.

    Gostei do teu artigo no Jornal de Negocios, embora ache que não se deva cair no 80. Isto é, a teoria neoclássica criou um modelo robusto de previsão assente em pressupostos deficientes. No entanto ainda está para aparecer um modelo mais robusto do que o criado nos pressupostos neoclássicos. Falo do pouco que sei, pelo que se tiveres outras referências por favor coloca. E julgo que é um perigo enorme partir do pressuposto que tudo na teoria neoclassica existe.

    Apontaste no teu artigo um factor que foi muito importante para moldar os tempos que vivemos, a ausência de um debate sério no campo económico, ou seja vivemos num periodo de dogmatismo económico e isso moldou toda a sociedade. Espero que não se passe de um dogmatismo para outro, pois como já vimos isso dá um desastre!

    Perguntas no fim o seguinte
    "Quem tem medo do pluralismo?"

    Espero que a partir de hoje ninguém, nem mesmo os heterodoxos!


    E MUITO OBRIGADO pelo link que colocaste do Campos e Cunha. Adorei. Já agora ele tem uma afirmação que é surreal:

    "O Estado não pode, obviamente, obrigar as empresas a definir tectos salariais"

    Claro que pode. Um exemplo pode vir dos USA, desse país tão neoliberal!

    Espero que sigam o mote e coloquem mais excertos (posso ajudar se quiserem). Podia até ser criado uma rubrica.

    Julgo que é importante no contexto actual não nos esquecermos de quem defendeu dogmaticamente o modelo que nos trouxe esta crise! Não para os perseguir mas para nos relembrarmos de que não são de confiança!


    Bem resta-me vos dar uma vez mais os parabéns pelo vosso blogue que embora não concorde com todas as opiniões, julgo ser um dos melhores no espectro nacional e que segue uma linha infelizmente invulgar no nosso país.

    Gostaria de deixar 2 sugestões: criem artigos que expliquem por miudos alguns dos conceitos e correntes (no jeito do livro e do estilo anglosaxonico) e julgo que era benéfico comentarem mais, especialmente o Prof. Doutor Castro Caldas. É importante que quem detêm conhecimento, não se importe de discutir com os leigos (eu definitivamente sou um leigo) nesta matéria. Todos saimos beneficiados.

    Muito Obrigado!

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  2. Alguns erros adicionais dos economistas na segunda parte da análise da UEM:
    http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/03/os-erros-no-desenho-neoliberal-da-uem.html

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  3. João,

    Obrigado pelas "dicas" que o teu texto propõem.

    "não são os economistas académicos que nos andaram a vender romances de mercado que a vão pagar" - garantidamente, não vão ser os que nos meteram neste lodaçal económico que vão liderar a Mudança para os novos modelos económicos, sociais e políticos que se avizinham! Esses, os que causaram esta crise, vão-se rever no papel de velhos do restelo, na nova ordem!

    Nem a tecnocracia Keynesiana, nem a fantasia estatística neoclássica fazem sentido, na nova ordem social que se aproxima e nos novos modelos económicos que se desejam!

    A Economia pode ser um lugar de pluralidade e de debate, à semelhança daquilo que é praticado noutras ciências sociais.

    Quando vejo discursos e debates com linguagens e símbolos herméticos....desconfio sempre das intenções e dos objectivos!
    O vosso blog ajuda, com uma linguagem aberta e simples, a pensar sobre a complexidade da realidade social e económica - continuem e já agora... ambicionem o "impossível" porque só assim conseguirão "mudar a mudança".

    Já chega de 30 anos de "politicamente correcto" ou se quiserem com menos "rendilhados", já chega de 30 anos de dogmas pseudo-científicos sobre estatística descritiva. Vamos à Economia !!!

    Abraço Solidário,
    Miguel

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  4. Faço-vos um convite: venham a www.portograale.blogspot.com

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  5. «estudar economia não serve para aprender respostas prontas, mas sim para não se ser enganado por economistas».
    Gostei do dito , aliás já penso que a escola e saber não devem mais ser associados a bons empregos ou mobilidade social , mas sim à defesa dos nossos interesses. Há vendedores de banha da cobra e sonhos , vestidos de especialistas , aos magotes em cada esquina. È preciso saber muito para escapar ileso.

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