Ao ler esta posta do Jorge Bateira, numa polémica com Tiago Tavares, dei-me conta que este último terá pelo menos sugerido que os sindicatos são um problema para a performance macroeconómica dos países (crescimento do PIB, competitividade económica, etc.).
Estas teses são já velhas: datam pelo menos do período de ascensão do neoliberalismo, nos anos 1980, com a chegada de Thatcher e Reagan ao poder, respectivamente no Reino Unido e nos EUA.
Daí à repressão do movimento sindical e ao elogio dos (então) “tigres asiáticos” por causa da respectiva repressão das liberdades político-sindicais, que supostamente estaria positivamente associada a uma melhor performance macroeconómica, foi um pequeno passo, mesmo na academia.
Há muito que foi demonstrado que estas teses, que alguns dos partidos da “terceira via” infelizmente adoptaram acriticamente, senão nas palavras pelo menos nalguns actos (o caso do PS português, sob Sócrates, é naturalmente um deles), estas teses, dizia eu, assentavam em sérios problemas metodológicos, nomeadamente numa selecção enviesada dos casos.
Este assunto foi dissecado num célebre artigo da Professora Barbara Geddes (UCLA, Califórnia, EUA) já editado em livro: Geddes, Barbara (2007), “How the cases you choose affect the answers you get: selection bias and related issues”, Paradigms and Sand Castles. Theory Building and Research Design in Comparative Politics, Ann Arbor, Michigan University Press, pp. 89-130.
Nomeadamente, foi demonstrado aí que, para os países em desenvolvimento analisados (era o que estava na altura em discussão), não existia qualquer relação entre a força do movimento sindical e a performance macroeconómica dos países. Uma leitura fundamental, claro.
Aliás, se eu quisesse argumentar a contrario, bastaria recordar que os países escandinavos são dos países europeus com movimentos sindicais mais fortes e, simultaneamente, melhor performance macroeconómica (dos anos 1980 para cá).
Já para não falar que a democracia e as liberdades sociais e políticas (sindicais incluídas, naturalmente) que lhe estão associadas têm custos inalienáveis que nenhum “economês” deve poder evitar, se queremos mesmo permanecer como uma democracia, claro… Eu quero!
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